André Deak
Enviado especial
Porto Alegre – A humilhação diária sofrida pelos dalits na Índia – a casta considerada mais baixa daquela sociedade –; o esquecimento em que se encontram os indígenas latino-americanos; a expulsão das comunidades atingidas pelas barragens; a exploração contra as mulheres; os abusos contra os negros e a criminalização dos movimentos sociais foram alguns dos depoimentos do 2º Fórum Mundial da Dignidade, uma das mais de 2000 atividades que estão ocorrendo no 5º Fórum Social Mundial (FSM).
"O segundo Fórum pela Dignidade teve mais participação dos latino-americanos, negros e indígenas de todo o mundo", disse o indiano Mukul Charma, coordenador dessa e da primeira edição do fórum, ocorrida na Índia em 2004, também junto com o FSM. "No primeiro, tivemos mais dalits indianos e asiáticos".
O professor filipino Walden Bello, diretor executivo da Focus on Global South, disse que a luta contra o neoliberalismo e o militarismo está intimamente ligada às formas de opressão cultural. "O exemplo pode ser o Iraque: a maior parte dos que estão no front é de negros e latinos. É o mesmo padrão do Império Romano, que recrutava os bárbaros para a guerra. As minorias estão morrendo pela defesa da cultura de uma elite branca anglo-saxã", afirmou.
Bello disse também que "essa é uma guerra contra o islã, com o objetivo de espalhar a cultura norte-americana pelos próximos 20, 25 anos". Enfatizou que não se pode "subestimar a dimensão cultural, que é parte do sistema de dominação das elites".
O filipino falou após vários depoimentos de personalidades que contaram experiências de grupos oprimidos historicamente. O indiano Aschok Bharti, por exemplo, contou as humilhações que sofre na Índia por ser um dalit. "Muitos não sabem o que um dalit significa. Qualquer animal pode entrar numa casa, mas vão pensar mil vezes antes de colocar um dalit em sua casa", disse. Desde 1978, segundo dados divulgados no evento, mais de 10 mil dalits foram linchados na Índia, e freqüentemente as mulheres são vítimas de estupros. A Índia tem mais de 160 milhões de dalits (um número próximo ao da população do Brasil), que são pessoas consideradas "impuras ou contaminadas", simplesmente por serem filhos de outros dalits.
Blanca Chancoso, da Confederação dos Povos Indígenas do Equador, falou da resistência dos indígenas e dos direitos que ainda lhes são negados, como a liberdade de ir e vir. "Hoje, nem mais o passaporte que inventaram serve. Temos que ter contas em banco, dinheiro. Mas quando eles vieram para este continente, quem pediu passaporte?", indagou.