Bianca Estrella e Christiane Peres
Especial para a Agência Brasil
Porto Alegre - Os graciosos mamíferos que simbolizavam a campanha publicitária da Parmalat viraram alvo dos agricultores familiares durante manifestação no 5º Fórum Social Mundial (FSM) em Porto Alegre para o lançamento da campanha contra o abuso corporativo. Em frente a uma fábrica desativada da Parmalat, integrantes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf-Sul) e da ActionAid Brasil protestavam contra o monopólio das multinacionais que dominam o comércio na indústria alimentícia no Brasil.
Segundo o diretor de políticas da ActionAid Brasil, Adriano Campolina, o controle das multinacionais tem contribuído para o aprofundamento da pobreza no Brasil e em outros países. "No nosso país o controle do setor de leite pela Nestlé e pela Parmalat levou à exclusão de 50 mil agricultores familiares". No total, 70 mil agricultores abandonaram a atividade leiteira por causa das políticas de preços achatados pagos ao produtor.
Campolina explica que o preço pago pelo litro de leite se diferencia de acordo com o produtor. "Cada vez mais as multinacionais incentivavam grandes fazendeiros a fornecer leite. O preço pago pelo litro é maior para os grandes produtores e menor para os agricultores familiares."
O coordenador geral da Fetraf-Sul, Altemir Tortelli, lembra que quando a Parmalat veio para o Brasil, há dez anos, passava para a sociedade e para os agricultores a imagem de que os problemas do setor seriam superados. "Prometeram melhorar o preço do leite para o agricultor, gerar empregos e colocar um produto de qualidade a preços melhores para a população urbana. Estamos vendo que, na prática, nenhuma dessas promessas aconteceram", afirma.
Durante a década de 90 a Parmalat liquidou 27 companhias brasileiras de processamento e distribuição. O faturamento da empresa em 2002 foi superior a US$ 240 milhões, um aumento de mais de 300% em dez anos. Antes da chegada da Parmalat no Brasil eram 12 mil os trabalhadores do setor registrados. Em cinco anos esse número caiu para 7,5 mil e hoje não passa de 3 mil.
Para solucionar esse problema os manifestantes reivindicam outra forma de comercialização de produtos, centrada no cooperativismo das associações da agricultura familiar. Adriano Campolina explica que é possível produzir, beneficiar e distribuir alimentos sem as multinacionais. "O exemplo das cooperativas e associações da agricultura familiar demonstram essa viabilidade."
O produtor de leite de Chapecó (RS), Edgar Cramer, acredita no êxito do movimento que foi articulado pelos agricultores familiares. "Com a organização de cooperativas, a gente consegue comercializar bem mais fácil os nossos produtos. O agricultor só tem a ganhar com isso, porque os produtos serão repassados por um preço melhor e assim vamos poder investir mais nas nossas propriedades."