No interior de Goiás, cidade cuida com o Peti das crianças que ''podem virar presidentes''

27/01/2005 - 19h41

Paula Menna Barreto
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A reportagem da Agência Brasil visitou hoje Formosa, cidade goiana a 100 km de Brasília, para verificar o perfil dos beneficiários do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. Em Formosa, o programa atende 1.560 crianças e adolescentes da zona rural e urbana. São meninos e meninas que trabalhavam na lavoura, com gado, em carvoarias ou vendiam picolés e salgadinhos nas ruas da cidade.

Para I. L., que cursa a 6ª série e tem 10 anos, participar do programa significar mudar a vida. "Estou aqui há dois anos, é muito bom, tenho amigos, professores, computador e aprendi capoeira", conta. Antes, ela passava os dias percorrendo as ruas de Formosa com um carrinho de salgados. Agora, acaba de ser selecionada para participar do campeonato do nordeste goiano jogando capoeira.

A coordenadora do programa na cidade, Sizelia de Abreu Sena, antes mesmo da solicitação do MDS pelo reenvio dos dados sobre as crianças do Peti, diz que já fazia um controle acurado dos beneficiários. "Tenho tudo registrado. Faço reuniões sócio-educativas mensalmente com os pais", diz. Para ela, o programa é considerado um sucesso porque há vontade política local, e a verba do governo federal supre as necessidades. "Essa história de que o governo federal não repassa verbas é conversa, aqui não tem desvio e o Peti funciona", argumenta.

Fátima Jesus Cardoso da Costa, 50 anos, trabalhadora rural, teve sete filhos e só um estuda, está fazendo o 2º ano do ensino médio. Para ela, o Peti significa conseguir manter dois netos na escola. "As crianças passaram de ano", conta, animada. "Agradeço ao programa do Peti". Ela nasceu e vive na "roça" com o marido, filhos e netos. As mãos calejadas que cumprimentam a repórter revelam um trabalho de anos a fio que a enxada, necessária no assentamento Vigilante, marca ainda hoje. Segundo Sizelia, Fátima é a "mãe" do Peti na zona rural de Formosa.

Para a secretária de Ação Social do município, Nara Guimarães, tudo o que se refere ao resgate da cidadania deve ser prioritário. "As crianças são prioridade na cidade porque, quem sabe, um dia, uma delas pode se tornar o presidente da República", diz.

O Peti da cidade goiana já tem aproximadamente 81 famílias da zona urbana e 56 famílias da zona rural migradas para o Bolsa Família. "Isso significa mais ou menos 415 crianças cadastradas", diz Sizelia. Ela avalia que, se a criança, ao migrar para o Bolsa Família, tivesse de deixar o Peti, o programa acabaria. "O Bolsa Família sozinho não impede que a criança vá para a rua trabalhar", esclarece. "Mas, se o Bolsa Família assume o pagamento da bolsa e o Peti assume a jornada ampliada, ai temos um casamento perfeito. A criança recebe o dinheiro e não vai para a rua".