Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O acordo de livre comércio entre Mercosul e União Européia deu passos neste domingo em direção a um "resultado ambicioso", segundo o ponto de vista europeu, mas "avançou pouco" na liberalização do setor agrícola, segundo a parte brasileira. Autoridades dos dois blocos tiveram uma reunião que durou mais de três horas durante a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Denvolvimento – Unctad XI. Ao final, decidiram que os negociadores continuariam discutindo pontos específicos nos próximos dois dias.
"Acho que em produtos agrícolas, avançamos pouco. Fora isso, aprecio a compreensão que tem a União Européia para a questão da sensibilidade de compras governamentais", afirmou Celso Amorim, ministro das relações Exteriores, ressaltando que a divergência de avaliação sobre as negociações é localizada.
Apesar do comentário sobre a negociação agrícola, Amorim expressou otimismo. Para ele, a intensidade das negociações "é um sinal inequívoco da nossa vontade política de chegar a um acordo significativo importante, que não é light".
Antes do início da reunião, o ministro brasileiro se mostrou cauteloso: "É preciso entender que, assim como a oferta da União Européia é limitada, não podemos fazer cinco emendas constitucionais e 23 mudanças na lei para agradar os europeus. Isto eu não vou fazer", garantiu.
Ao final das conversas, o comissário Europeu para o Comércio, Pascal Lamy, definiu a reunião como politicamente produtiva. "Acho que realmente estamos de acordo que queremos um resultado ambicioso. Confirmamos isso não apenas como um desejo político. Ainda temos dificuldades, mas sabemos melhor onde elas estão e como podemos resolvê-las".
Sem dar detalhes das negociações, Lamy destacou avanços na área de investimentos. "Em serviços ainda não chegamos lá, mas tivemos algum avanço. Ainda temos uma séria dificuldade em compras governamentais, que obviamente é uma questão sensível para o Mercosul", avaliou.
Outro tema delicado, segundo Amorim, é o chamado "two stages approach", no caso das questões tarifárias. "Todos entendemos que a UE não tem 15 ou 25 bolsos, tem um só – grande, mas um só - e não quer pagar duas vezes. Mas também é preciso entender que não podemos fazer concessões em troca de pássaros que ainda estão voando", afirmou. Amorim afirma que a questão voltará a ser discutida.
Apesar dos entraves, a avaliação final foi positiva. "Sabemos que há problemas, dificuldades, desejos não totalmente realizados, mas continuamos dispostos a trabalhar para haver um entendimento acho que tivemos uma boa discussão que permitirá aos negociadores ultrapassar mais uma etapa. Apesar das dificuldades, estamos avançando", concluiu Amorim.