Brasília, 14/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - Até a chegada das chuvas, em novembro, os agricultores devem redobrar os cuidados na hora de preparar a terra para o plantio. As queimadas continuam destruindo as florestas, reservas indígenas e unidades de conservação no País, sem falar na prejudicial emissão de monóxido de carbono no meio ambiente. O alerta é do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).
De acordo com as imagens do satélite NOAA-12, a semana começou com um significativo número de registros: 784 focos de calor, somente ontem. O estado de Mato Grosso bateu recorde com 610 focos registrados nessa segunda-feira. Desde o início de outubro até ontem, foram computados 2.415 focos. No ano passado, de janeiro a dezembro, o Mato Grosso registrou 58 mil focos; nesse ano, até o dia 13 de outubro já foram 50 mil, o que significa que as queimadas este ano serão mais intensas no estado.
Não muito diferente está acontecendo com o Maranhão que registrou 4.056 focos de calor nos primeiros 13 dias do mês. O assessor técnico do Programa de Monitoramento e Avaliação do Risco de Incêndios Florestais em Áreas Críticas do Ibama (Proarco), João Peroto, conclui que a atividade agropecuária é a grande responsável já que os números mostram que houve avanço das queimadas nos estados da Amazônia. Mato Grosso está terminando o período de queima para o plantio e o Maranhão deu início à preparação da terra.
O fogo é considerado uma ferramenta barata usada para diminuir a massa verde e preparar a terra para o plantio, seja em propriedades de pequeno, médio ou grande portes. Para o gerente do PROARCO no Pará, Avay Miranda, o aumento da produtividade agrícola registrada na balança comercial tem seu reflexo no registro dos focos pelos satélites. "Há um processo de retroalimentação: sobe a participação rural na balança, aumentam as queimadas", afirmou.
Por isso, os técnicos recomendam aos produtores que redobrem o cuidado seja na confecção dos aceiros, como na mobilização dos vizinhos na hora da queima. O Ibama lembra que é necessário tirar a licença no órgão para realizar a queima da terra na propriedade.
De acordo com os dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), o risco de queimadas é alto no sudeste do Pará, norte do Tocantins, na divisa do Pará com o Maranhão, e na região que se estende desde o leste do Maranhão, até o norte da Bahia passando pelo Piauí, Ceará, Paraíba e Pernambuco. Somente em novembro as chuvas vão chegar na região, levando o problema das queimadas para o norte: Amapá, Pará e Roraima.
Apesar da Amazônia registrar índices expressivos, o estado do Pará vem apresentando diminuição no número de focos de calor. Em 2002 foram 47 mil focos; e nesse ano, desde janeiro até 13 de outubro, o satélite registrou 18 mil focos de calor. Para João Peroto, a comunidade está realmente se mobilizando para adotar outras formas de manejo que substituam a queima. Outro fator é que a atividade agropecuária está se direcionando para o trecho da BR 163. Nessa área, a produção é de grande porte, mecanizada e com tecnologia, o que dispensa o uso mais freqüente do fogo.
O Ibama em parceria com outros órgãos e entidades vem realizando trabalhos de sensibilização e conscientização dos agricultores no sentido de mostrar outras formas de preparar a terra para o plantio, além de explicar que colocar fogo sem autorização é crime. A ligeira diminuição dos focos de calor se deve ainda a fiscalização e a estabilização da fronteira agrícola no Arco do Desflorestamento, que abrange o norte do Mato Grosso, o Tocantins, o oeste do Maranhão, e os estados do Pará e Rondônia.