26/06/2010 - 16h18

Países ricos pedem o fim do bloqueio israelense na Faixa de Gaza

Renata Giraldi
Enviada Especial

Toronto (Canadá) – A busca da paz entre palestinos e israelenses foi destaque da declaração final da reunião do G8 (grupo que reúne os países mais industrializados do mundo), divulgada hoje (26). Indiretamente, Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Japão e Rússia apelaram a Israel para acabar com o embargo na Faixa de Gaza. Desde 2007, cerca de 1,4 milhão de moradores da região vivem sob rígido regime de restrições. A criação de um Estado palestino independente foi defendida formalmente.

“Exortamos no sentido de criar condições propícias para as negociações diretas com o objetivo da criação de um Estado independente, contínuo e viável da Palestina, vivendo lado a lado, em paz e segurança entre si e com seus vizinhos”, diz o documento.

Na declaração final, o G8 lamenta ainda o episódio do dia 31 de maio, quando uma frota que levava ajuda humanitária a Gaza foi atacada por israelenses. Nove pessoas morreram e 30 ficaram feridas durante a abordagem de um navio de bandeira turca, que integrava a frota de ajuda. O ataque gerou uma série de críticas a Israel. “Lamentamos profundamente a perda de vidas e os danos sofridos nos eventos fora da costa de Gaza em 31 de maio. Saudamos a decisão do governo israelense de criar uma comissão independente para uma investigação pública desses eventos”, diz o documento.

Ao mencionar a redução do bloqueio israelense em Gaza, o G8 ressaltou que o sistema em vigência “não é sustentável, deve ser mudado”. O grupo defendeu o direito da população de Gaza de ter acesso a material de construção para obras de infraestrutura e de desenvolvimento econômico. Por enquanto, o governo de Israel autoriza apenas a entrada de alguns tipos de alimentos, roupas e brinquedos.

Na declaração final, o G8 também apelou pela libertação do soldado israelense Gilad Shalit, preso pelo grupo fundamentalista islâmico Hamas, que há quatro anos controla a Faixa de Gaza. Há suspeita de que o militar israelense sofra torturas e ameças constantes. “Pedimos a libertação imediata do soldado israelense sequestrado Gilad Shalit”, apelou o G8 na nota oficial.

Edição: Vinicius Doria

26/06/2010 - 16h01

Canadá perdoa dívidas do Haiti

Renata Giraldi
Enviada Especial

Toronto (Canadá) – O governo do Canadá anunciou o perdão das dívidas do Haiti, país mais pobre do continente e que foi devastado por um terremoto do dia 12 de janeiro. Durante as reuniões do G8 (países mais industrializados do mundo), em Huntsville (no Canadá), o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, anunciou a decisão. O perdão envolve dívidas com o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola.

“Duas semanas depois do trágico terremoto no Haiti, o Canadá pediu a anulação integral da dívida do Haiti para organizações internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional [FMI]”, disse o Harper. Em seguida, o primeiro-ministro afirmou que, “com o anúncio, o Canadá tem honrado a sua promessa ao povo do Haiti e pedimos que outros sigam este exemplo, na cúpula do G20 [que reúne os países mais ricos e alguns emergentes] neste fim de semana".

Segundo Harper, há um consenso entre todos os países sobre a necessidade de apoio ao Haiti. Ele lembrou que o Canadá já perdoou outras dívidas do país caribenho. Desde o terremoto em janeiro de 2010, o Canadá participa intensamente do esforço de ajuda humanitária e de reconstrução daquele país. “Perdoar a dívida do Haiti tem sido uma parte importante desse esforço”, afirmou ele.

Em 12 de janeiro, o Haiti foi atingido por um terremoto de 7 graus de magnitude. Mais de 200 mil pessoas morreram e cerca de 1,3 milhão ficaram desabrigadas ou desalojadas.

Edição: Vinicius Doria

26/06/2010 - 15h50

Pelo menos 1% da população usa tranquilizantes de forma abusiva, afirma psiquiatra

Lisiane Wandscheer
Repórter da Agência Brasil

Brasília - No Dia Internacional contra o Abuso e Tráfico de Drogas uma questão merece maior atenção: o uso abusivo de tranquilizantes. Segundo o médico do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), Ivan Mário Braun, pelo menos 1% da população usa tranquilizantes de maneira abusiva.

O integrante do grupo interdisciplinar de estudos de álcool e drogas (Grea) explica que, em função das restrições impostas ao consumo álcool, existem grupos que usam comprimidos para obter efeitos semelhantes àqueles alcançados com a ingestão de bebidas alcoólicas. Dessa forma, a detecção dessas substâncias no organismo é mais difícil que a do álcool.

“O uso abusivo de tranquilizantes atinge cerca de 1% da população, cifra menor que a das demais drogas, mas numa população de 190 milhões de habitantes representa um grupo significativo”, disse hoje (26) em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional. O psiquiatra disse que a liberação do uso de drogas em alguns países pode inibir o tráfico, mas o consumo também pode aumentar.

O tema da campanha do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (Unodc) lançada este ano, no Dia Internacional contra o Abuso e Tráfico de Drogas, é Pense em Saúde, Não em Drogas.

Edição: Talita Cavalcante

26/06/2010 - 15h49

Venezuela anuncia apoio ao programa nuclear do Irã

Renata Giraldi
Enviada Especial

Toronto (Canadá) - O governo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, divulgou ontem (25) um informe, na Agência Venezuelana de Notícias, no qual declara apoio ao programa nuclear do Irã. Segundo o informe, o governo do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, tem direito de enriquecer o urânio para fins pacíficos, como a fabricação de medicamentos.

A reportagem da agência venezuelana cita o apoio da Venezuela às afirmação do diretor da Organização de Energia Nuclear do Irã, Ali-Akbar Salehi, que informou na última semana que foram produzidos 17 quilos de urânio enriquecido a 20% no país. “O Irã poderia enriquecer urânio em qualquer nível. É um direito do Irã", disse Salehi. “Nós temos assegurado o nosso direito de enriquecer combustível na medida em que precisamos".

De acordo com a reportagem, a reação dos Estados Unidos à iniciativa não corresponde ao respeito aos direitos internacionais. Como exemplo, a agência citou informações da imprensa oficial da Rússia, que também criticou a reação do governo do presidente norte-americano, Barack Obama.

O apoio da Venezuela ao programa nuclear iraniano foi divulgado hoje (26) na agência de notícias oficial do Irã, a Irna. Para os iranianos, o comunicado de apoio foi um suporte para o Irã, que sofre sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, dos Estados Unidos, da União Europeia e do Canadá. Para parte da comunidade internacional, o programa nuclear iraniano esconde a intenção do país islâmico de produzir armas atômicas.

Edição: Vinicius Doria

26/06/2010 - 15h37

G8 mantém apoio às sanções ao Irã, mas elogia esforços de Brasil e Turquia

Renata Giraldi
Enviada Especial

Toronto (Canadá) – O G8 (Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Japão e Rússia) cobrou hoje (26) do Irã atitudes mais transparentes em relação ao programa nuclear desenvolvido no país. Na declaração final, divulgada neste sábado, o grupo reiterou o apoio às sanções impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mas o G8 elogiou a iniciativa do Brasil e da Turquia de negociar um acordo na tentativa de encerrar o impasse envolvendo o Irã e a comunidade internacional.

“Reconhecemos o direito do Irã de desenvolver um programa nuclear civil, mas observamos que este direito vem acompanhado por obrigações internacionais. Estamos profundamente preocupados com o Irã. Não se deve continuar com a falta de transparência sobre suas atividades nucleares, como o anúncio de expandir o enriquecimento de urânio”, diz o comunicado. “Apoiamos firmemente os esforços desenvolvidos neste sentido por parte de China, França, Alemanha, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos e União Europeia.”

Em seguida, o grupo elogia a intermediação do Brasil e da Turquia, em abril, em busca do acordo para a troca de urânio iraniano. Pelo acordo, o Irã enviará 1,2 tonelada de urânio levemente enriquecido para a Turquia. Em troca receberá 120 quilos enriquecidos a 20%. Mas o acordo não foi aceito pela comunidade internacional, que optou pela imposição de sanções. “Saudamos e também elogiamos os esforços diplomáticos nesse sentido, incluindo aqueles feitos recentemente por Brasil e Turquia”.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, disse hoje que os franceses vão manter as sanções ao Irã, mas defenderão a busca por um acordo, nos moldes do negociado pelo Brasil e pela Turquia, na reunião de cúpula do G20 (que reúne os países mais ricos e também alguns emergentes), em Toronto, no Canadá.

Sarkozy afirmou que há duas instâncias de debates: o Conselho de Segurança das Nações Unidas, no qual a França manterá as restrições, e a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), quando será defendida a busca pelo diálogo.

“A França se comprometeu a aplicar as sanções [impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas] ao mesmo tempo que apoia o diálogo a partir das negociações feitas pelo Brasil e pela Turquia, mas isso deve ser feito na Agência Internacional de Energia Atômica”, disse Sarkozy.

Edição: Vinicius Doria

26/06/2010 - 15h30

PRB oficializa apoio à candidatura de Dilma Rousseff à Presidência

Amanda Cieglinski
Repórter das Agência Brasil

Brasília - A Convenção Nacional do PRB oficializou hoje (26) apoio à pré-candidata do PT Dilma de Rousseff à Presidência da República nas eleições de outubro. O vice-presidente, José Alencar, que é também é presidente de honra do partido participou da cerimônia.

Alencar lembrou, no discurso, as dificuldades do tratamento contra o câncer e, segundo ele, “os próprios médicos admitem que esteja acontecendo um milagre”.

Dilma, que também esteve na convenção, disse que aprendeu com José Alencar “a determinação e a força” para resistir às dificuldades da vida, ao citar a batalha do vice-presidente contra o câncer.

A pré-candidata do PT ressaltou o compromisso que terá com as mulheres, caso seja eleita, e a necessidade de garantir uma educação de qualidade para promover o desenvolvimento do país. Confiante, Alencar disse que “tem pena dos adversários”.

Também participaram da convenção o presidente nacional do PRB, Vítor Paulo Santos, o senador Marcello Crivella (PRB-RJ), o ex-ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e o ex-ministro das Comunicações, Hélio Costa.

Edição: Talita Cavalcante

26/06/2010 - 14h27

Solidariedade em meio à destruição em Alagoas

Ivan Richard
Enviado Especial

Branquinha (AL) – Em meio aos estragos causados pelas enchentes em Alagoas, um grupo de professores e enfermeiros percorreu mais de 140 quilômetros entre os municípios de Matriz do Camaragibe e Branquinha para prestar solidariedade às vítimas.

De acordo com o enfermeiro Jaídson Vasconcelos, ele e os amigos recolheram roupas, água e comida em Matriz do Camaragibe para levar a Branquinha, município que foi praticamente destruído pela enchente do Rio Mundaú, no último sábado (19). “Arrecadamos os mantimentos e pedimos o transporte ao prefeito para que pudéssemos entregar”, contou. “Também houve enchente na nossa cidade, mas a situação aqui é muito mais dramática”, acrescentou.

“Temos muitos amigos aqui em Branquinha. Ficamos sensibilizados com o que aconteceu e decidimos ajudar”, disse o professor de educação física Ronaldo Miranda, que faz parte do grupo de voluntários. No meio da rua, o grupo parou o micro-ônibus e logo os desabrigados fizeram fila sob o sol forte para receber a ajuda. “É uma benção”, resumiu Maria dos Santos, uma das desabrigadas que aguardavam para receber uma peça de roupa.

Quem também colabora para minimizar o sofrimento das vítimas em Branquinha é o Exército. Primeira ajuda a chegar na cidade após a enxurrada, 23 militares trabalham na coleta e distribuição de mantimentos. Eles ainda contam com dois helicópteros para levar cestas básicas para as pessoas que ficaram isoladas.

Edição: Vinicius Doria

26/06/2010 - 14h12

Padrão da TV digital brasileira poderá ser adotado por 17 países africanos

Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A dedicação do governo brasileiro de convencer outros países a adotar o padrão de TV digital nipo-brasileiro pode resultar na adesão de 17 países do Continente Africano. O assunto está entre os temas que serão abordados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na viagem que fará em julho ao Continente Africano, liderando uma missão de autoridades e empresários brasileiros.

De acordo com o assessor especial da Presidência da República para o assunto, André Barbosa, os técnicos que foram escalados pelos 11 países africanos ligados à Comissão para o Desenvolvimento da África Austral (Southern Africa Develop Commission - SADC) já fizeram testes preliminares e deram aval ao sistema nipo-brasileiro. O padrão Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial (ISDB-T) foi criado no Japão e tem sido desenvolvido de forma conjunta com o Brasil.

“Funcionou perfeitamente. Agora, [os técnicos] vão apresentar as conclusões aos ministros. A Europa sabe que vai perder essa concorrência porque nosso sistema é muito melhor [que o padrão europeu DVBT]”, disse Barbosa à Agência Brasil.

“Não tínhamos a menor dúvida de que, ao comparar o nosso padrão com o europeu, os técnicos africanos chegariam à conclusão de que o nosso é melhor. Foi com essa certeza que trabalhamos para convencê-los a fazer essas análises”, explicou o assessor.

Segundo ele, a superioridade do padrão nipo-brasileiro se deve principalmente ao potencial de interatividade. “Para os africanos, nosso padrão será muito mais interessante, principalmente porque associa a TV digital a uma interatividade que, no caso do padrão europeu, é muito mais limitada”.

Barbosa argumenta que o tipo de interatividade proporcionada pelo padrão ISDB-T é interessante para países que, como a maioria dos africanos e alguns latino-americanos, possuem estrutura razoável de broadcasting televisivo mas não têm, ainda, a internet de banda larga implantada.

Além disso, o padrão europeu apresenta, segundo Barbosa, falhas na conexão com celulares. Sabendo disso, os europeus criaram um outro sistema mais moderno, o DVBT 2, mas que só foi implantado na Inglaterra. “O problema é que o DVBT 2 é muito caro, principalmente para os padrões africanos”. O assessor explica que o novo sistema europeu custa cerca de 240 euros para o telespectador, enquanto o sistema brasileiro sai por cerca de R$ 200 (menos de 100 euros).

A previsão é de que a decisão final sobre o padrão a ser adotado pelos países africanos que participam das negociações seja tomada a partir de setembro, após a apresentação das conclusões na próxima reunião da SADC. “Apesar de não haver nenhuma obrigação de que a decisão seja tomada em bloco, acreditamos que esta seja a tendência, uma vez que, até pela proximidade, esses países precisam ter seus sistemas em condições de ser integrados”, avaliou Barbosa. “Nossa expectativa é a de convencer todos os 11 países ligados ao bloco. Mas com a influência deles nos países vizinhos, é possível que o sistema seja adotado por cerca de 15 países, podendo chegar a 17, abrangendo também países como Quênia, Tanzânia e Guiné Equatorial”.

Com sede em Botswana, o bloco da SADC escalou técnicos de quatro países - Botswana, África do Sul, Namíbia e Moçambique – para fazer a avaliação.

Segundo Barbosa, a missão presidencial prevista para o início de julho será reforçada pela participação de empresários brasileiros nas negociações com possíveis parceiros econômicos, principalmente no Quênia, na Tanzânia, em Zâmbia e na África do Sul.

“O presidente Lula levará empresários brasileiros para discutir o assunto. E para reforçar, o governo brasileiro entregará aos ministros desses países uma carta compromisso - assinada pelos ministérios das Relações Exteriores e das Comunicações - garantindo a transferência de tecnologia e a abertura de royalties, além da apresentação de estudos de viabilidade de uso do espectro [de radiofrequência] e da canalização [do sinal digital]”, disse o assessor da Casa Civil.

Moçambique e Botswana já receberam as cartas compromisso. Tanzânia, Quênia, Zâmbia e Guine Equatorial receberão em breve. O documento garante, ainda, a doação de laboratórios para produção de material audiovisual, fornecimento de recursos humanos brasileiros e treinamento de pessoal. “Certamente o presidente Lula abordará o assunto nas reuniões que terá com os presidentes africanos”, disse Barbosa. “Mas este não será o principal tema da pauta de conversações”, acrescentou o assessor.

Edição: Vinicius Doria

26/06/2010 - 14h06

Enchentes fazem cidade alagoana de Branquinha mudar de local

Ivan Richard
Enviado Especial

Branquinha (AL) – Nascida às margens do Rio Mundaú, o município alagoano de Branquinha, a cerca de 80 quilômetros de Maceió, deve mudar de lugar em virtude do desastre provocado pela forte enxurrada, ocorrido no último sábado (19). No total, seis pessoas morreram e sete estão desaparecidas. Para fugir do risco constante de inundação, a prefeita da cidade, Renata Moraes (PMDB), quer reerguer o município, de 11 mil habitantes, ao lado da BR 104, longe das águas do antigo vizinho.

Segundo ela, um produtor local de cana-de-açúcar se dispôs a dar a quantidade de terra necessária para construir casas, escolas, postos de saúde, a delegacia e os demais prédios públicos destruídos pelas chuvas. “Já tínhamos um terreno de 1 hectare para construção de casas com recursos do programa Minha Casa Minha Vida. Agora, vamos usar o terreno doando para reconstruir toda a estrutura administrativa do município e as casas daqueles que estão desabrigados”, disse a prefeita à Agência Brasil.

Cerca de seis mil pessoas, quase a metade dos habitantes de Branquinha, foram atingidos pelas enchentes. Todos os prédios públicos foram ao chão com a força da enxurrada. Emergencialmente, a casa da prefeita foi transformada em posto de recebimento e distribuição de mantimentos às vítimas.

Em uma casa de quatro cômodos estão abrigadas 11 famílias, ou quase 40 pessoas, que perderam tudo por causa da chuva. “Foi tudo muito rápido. Tivemos que sair correndo apenas com a roupa do corpo”, disse Nivaldo Silvestres da Silva, que ao lado da esposa e do filho está abrigado no local.

Pelas ruas da cidade, há um intenso movimento de tratores, e caminhões tentam retirar a lama que invadiu praticamente todas as vias. Alguns sobem aos telhados para varrer a sujeira levada pela chuva para cima das casa. Do segundo andar de sua casa, o estudante Alan Nascimento colocava para secar o que sobrou após a enchente.

“A água cobriu todo o primeiro piso e ainda subiu dois palmos do segundo”, contou ao lado da mãe que ainda limpava a sujeira. “Nunca houve uma cheia tão violenta na cidade”, acrescentou.

Para ajudar aqueles que perderam tudo, a prefeita de Branquinha fez um apelo para que algum fazendeiro ou empresário ceda um espaço para abrigar os alimentos, a água e roupas que chegam. “Faço um apelo para que doem um espaço. Atualmente, não temos um local para abrigar as doações.”

Segundo ela, com a destruição dos bancos, ainda não foi possível criar uma conta para receber doações em dinheiro para o socorro às vítimas.

Edição: Talita Cavalcante

26/06/2010 - 13h38

Cenário desolador na Terra dos Poetas

Daniella Jinkings
Enviada Especial

Palmares (PE) - Mais de dois séculos da história e da cultura pernambucanas se perderam em meio à cheia do Rio Una, provocada pela forte chuva do fim de semana passado. A enchente devastou o município de Palmares, conhecido como a Terra dos Poetas e dono do primeiro teatro do interior do estado. A força da água destruiu a prefeitura, casas, um cinema e pontes, além de danificar a estrutura de um templo centenário. Só restaram a dor, o desespero e a sensação de desamparo entre os 56 mil habitantes da cidade - terceira mais antiga do estado e distante 105 quilômetros da capital Recife.

Foi a maior enchente da história de Palmares, segundo os moradores. “Essa enchente não vai mais ser esquecida pelos palmarenses. Até parecia um terremoto”, disse o radialista José Alberto Passos da Silva. Ele perdeu a casa localizada a 200 metros da beira do rio, o carro e documentos. “Fique só com a roupa do corpo”.

Passos e mais sete pessoas da família estão abrigados na casa de um parente, na parte alta da cidade. “Não deu tempo de tirar nada, a água veio como tromba d'água. Nós esperávamos que o rio subisse de maneira mais lenta, quando anoiteceu aumentou a velocidade”, relatou esse pernambucano de fala rápida e grave, estatura baixa e de cabelos escuros. “Diante de tudo isso, fico alegre porque ainda estamos vivos”.

O radialista também descreveu o cenário desolador do centro da cidade. “Em frente à prefeitura, abriu uma cratera de mais de 10 metros de profundidade. Lá está uma carreta que foi arrastada do outro lado do rio pela força da água”. Segundo ele, o templo de uma Igreja Presbiteriana de mais de 100 anos também ficou com a estrutura comprometida.

Teresa Cristina Aragão é dona de uma farmácia que ficou completamente destruída. A água chegou ao teto e estragou todos os medicamentos. Segundo ela, ninguém da família morreu, mas os filhos, que moram em Recife e Maceió, ficaram em “pânico” quando acompanharam pela internet a notícia das inundações na noite de sexta-feira (19).

“Nossos celulares não funcionavam e a falta de energia nos deixou sem internet. Pela manhã, as coisas se acalmaram quando conseguimos dar notícias e soubemos que estavam todos bem. Não sei o que será desse povo, do comércio e de toda uma população que foi tragicamente atingida pelas águas que inundaram nossos lares. Quanto às ruas, continuam podres e enlameadas, sem água nas torneiras”, afirmou.

De acordo com Teresa Cristina, a cidade, que sobrevive do plantio de cana-de-açúcar, não recebia atenção dos governantes há muito tempo. “Já estávamos a ver navios antes das enchentes. Sem indústrias, sem fábricas, sem uma voz forte que clamasse por melhorias na Terra dos Poetas. As usinas da região davam o sustento aos trabalhadores da Zona da Mata de Pernambuco”.

Mesmo sofrendo como os outros palmarenses que perderam casas e objetos pessoais, a comerciante começou uma campanha para arrecadar doações para os conterrâneos em sua página pessoal na internet. Neste sábado (26), ela recebeu roupas e alimentos arrecadados por familiares e amigos de Recife. “As pessoas estão sobrevivendo de donativos que chegam sem parar. Eu estou engajada nessa solidariedade e fiz da casa em que estou alojada um campo de SOS, pedindo doações e ajudando a matar a fome dos desesperados”.

O município recebeu o nome de Palmares em homenagem ao Quilombo dos Palmares, localizado em Alagoas. A cidade começou a se desenvolver a partir de 1862, com a chegada dos trilhos da estrada de ferro no sul de Pernambuco. Em 1879, deixou de ser comarca e passou a município.

Palmares ganhou o nome de Terra dos Poetas porque lá nasceram grandes nomes da literatura brasileira, como o poeta modernista Ascenso Ferreiro e os escritores Hermilo Borba Filho e Jayme Griz. Outros palmarenses ilustres são os artistas plásticos Darel Valença Lins e Murilo La Greca.

Jayme Griz (morto em 1981) foi quem mais escreveu sobre a chuva que constantemente cai sobre a região: “De repente / Chuva / Chuva / Chuva / Chuva / Chuva / Chuva de danar a paciência! / Chuva de sapo pedir aos céus clemência! /Mãe Natura endoideceu/ E se ela, / que é mãe, / que é sábia, / que é única, / a cabeça perdeu/ quanto mais eu/ quanto mais eu.”

Edição: João Carlos Rodrigues

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