Gestantes Guarani têm tratamento diferenciado em hospitais de São Paulo

02/09/2008 - 20h53

Vinicius Konchinski
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - As gestantes das tribos Guarani que optarem por ter seu bebêfora da aldeia têm direito a um tratamento diferenciado em dez hospitais públicos do estado de São Paulo. De acordo com uma resolução publicada em julhopela Secretaria de Saúde paulista, nos casos de partos envolvendo indígenas daetnia, parteiras e pajés podem acompanhar os nascimentos, o cardápio oferecidoàs mães deve ser especial e até a placenta dos bebês tem que ser entregue àsfamílias, para depois serem enterradas.Desde 2002, o estado de São Paulo é o primeiro do país amanter um programa de saúde voltado ao respeito das tradições de uma etniaindígena. Neste ano, o estado ampliou de seis para dez o número de unidades desaúde credenciadas para realizar o atendimento adaptado. “Tudo isso para deixaras mães mais à vontade”, de acordo com a coordenadora de saúde dos povosindígenas da secretaria estadual, Augusta Sato.Segundo ela, determinação para as mudanças no atendimentosurgiu de reivindicações da própria comunidade indígena encaminhadas àsecretaria e à Fundação Nacional de Saúde (Funasa) a partir 2002. Os dezhospitais credenciados para o atendimento dos índios foram escolhidos,justamente, devido à proximidade com as maiores aldeias guarani do estado.Dados da secretaria apontam que apenas 20% das índiasGuarani escolhem ter seu filho em hospitais. Contudo, certos costumesarraigados acabam prejudicando a saúde dos indígenas, mesmoquando eles vão às unidades de saúde por iniciativa própria. Por isso, o atendimento especial.“Quando ganham bebês, as índias não comem carne vermelha,por exemplo. Muitas iam aos hospitais e voltavam para aldeia muito magras”,explicou Sato, ressaltando que, nos hospitais capacitados, o cardápio das gestantesinclui frango novo, arroz, mingau e milho e derivados.“Os guaranis reclamavam que não podiam enterrar a placentados filhos. Nos hospitais, elas recebem a placenta assim que deixam ohospital”, complementou, acrescentaando ainda que os cuidados diferenciados tambémsão estendidos aos recém-nascidos e ao pós-parto, caso seja vontade de vontadeda mãe.Sato disse que a iniciativa já tem dado resultado. Segundoela, as equipes de saúde que freqüentam as aldeias já notaram que as parteirasestão se sentido valorizadas e as mães, mais seguras para tomarem sua decisão.“Elas confiam no pajé e na parteira, pois vêem que o método deles está sendoreconhecido”, afirmou. “O número de partos nas aldeias até aumentou depois dasmudanças nos hospitais.”Paulo Sellera, chefe da saúde indígena da Funasa em SãoPaulo, confirma as mudanças. Para ele, a iniciativa do governo paulistaconsegue integrar a medicina tradicional e a hospitalar e já resultou em quedade mortalidade infantil, de complicações no parto e de internações devido a esse tipode complicação.De acordo com a Funasa, dados preliminares de 2007 mostramque, para cada mil nascimentos, ocorreram 26,8 mortes de crianças de até 1 ano. Em 2002, ano que oatendimento especial começou a ser implantado, o índice de mortalidade era de33,5 no interior do estado e 52,6 no litoral sul.Roberto Karai Tataendy Veríssimo, guarani residente daaldeia de Parelheiros, no município de São Paulo, confirma que o sistemafunciona. Segundo ele, no Hospital Geral de Pedreira, a mais próxima unidade desaúde capacitada para atendimentos especiais de sua tribo, as mulheres têm recebidocuidados diferenciados.Veríssimo, entretanto, afirmouque alguns ajustes ainda precisam ser feitos. “A placenta tem que ser devolvidaao pai logo após ao parto. Faz parte de nossa tradição”, sugeriu.