Coronel da reserva diz que é injusto colocar a culpa só nos PMs que mataram João Roberto

09/07/2008 - 23h06

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O coronel da reserva da Polícia Militar do Rio de Janeiro Jorge daSilva, ex-secretário dos Direitos Humanos no governo passado, afirmou hoje (9)que é injusto colocar a culpa pelo assassinato do garoto João Roberto só nosdois policiais que fuzilaram o carro da família. Segundo ele, embora os PMsestivessem errados na forma de abordagem, o problema não se resume à falta detreinamento, pois os militares conhecem as leis e aprendem o que é certo ouerrado durante o curso de formação na academia.“Não é só uma questão de treinamento. Você acha que os PMsnão sabem que não se aborda daquela maneira? O policial chega em uma favela edá um tapa na cara de um garoto, mas não faz o mesmo no Leblon. Por quê? Seráque na academia se ensina que na favela pode dar tapa e no Leblon não? A nossasociedade é assim, preconceituosa mesmo. As mesmas pessoas que os induzem àviolência agora ficam execrando.”Para o coronel da reserva, que é cientista político eprofessor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), a sociedade vive eapóia uma cultura baseada na violência e não no respeito aos direitos humanos,o que só pode ser revertido por meio de um amplo debate.“Nós vivemos em umacidade em que as pessoas ficam o tempo todo demandando violência para resolvera violência, dizendo que tem que matar, que bandido bom é bandido morto. Todosnós somos culpados nisso. Fica muito cômodo numa hora dessas tirar o corpo forae botar a culpa só naqueles PMs. São muitos setores, incluindo meios decomunicação e governo, batendo tambor para que haja essa guerra.”O coronel reformado disse que, mesmo se fossem criminosos noveículo, não se justificaria uma execução sumária. “Se fossem bandidos dentrodo carro, qual teria sido a reação da sociedade? É possível que os policiaistivessem até recebido prêmio.”Segundo ele, a política de segurança pública pode edeve ser feita com o respeito aos direitos humanos. “Há uma idéia nos governosde que ou você trabalha com direitos humanos e só com lei ordem. É possívelconciliar as duas coisas, ser duro, ter uma política de segurança rígida contraos bandidos e respeitar os direitos humanos. Se não você acaba comparandopessoas pobres a bandidos simplesmente porque elas são pobres.”