Lúcia Norcio
Repórter da Agência Brasil
Curitiba - O brasileiro Francisco França, hoje com 86 anos, foi preso, em 1975, naOperação Marumbi, do Destacamento de Operaçõesde Informações-Centro de Operações deDefesa Interna (DOI-CODI) do Exército, com o apoio da PolíciaFederal e de órgãos de segurança estaduais. Ele eraum dos militantes que reorganizavam, no Paraná, oentão clandestino Partido Comunista Brasileiro (PCB). Nos porões daditadura, sofreu todos os tipos de torturas já descritas porex-presos políticos: xingamentos, espancamentos,choques elétricos no pau-de-arara, afogamentos. Parte dessa história - desde de sua militância nadécada de 40, onde nasceu, no Rio Grande do Norte, perseguições, demissões de órgãospúblicos - está documentada numa pastaentregue por Francisco França, hoje (27), em Curitiba, à Caravana daAnistia do Ministério da Justiça, no lançamentooficial da Campanha de Doação e Arrecadaçãode Documentos para constituir o Memorial da Anistia Políticano Brasil. Uma portaria doMinistério da Justiça criou, em maio, o ProjetoMemorial da Anistia Política no Brasil e, entre as ações,está a coleta de documentos referentes aos períodosde repressão, entre 1946 e 1988. O presidente da Comissãode Anistia do Ministério da Justiça, Paulo AbrãoPires Junior, convocou todos a enviarem documentos que retratem ocorrências do período e que sejam de seu arquivo pessoal para que oBrasil possa resgatar uma parte importante de sua história.“Uma história que deve ser conhecida para não serrepetida”, enfatizou. Segundo Pires Junior, ashistórias regionais da resistência à ditaduramilitar nem sempre foi contada pelos grandes jornais e que a Comissão de Anistia que, agora, dar publicidade. As pessoasque tiverem original ou cópia reprográfica e digital,fotos, relatos, testemunhos, livros, vídeos que possamcontribuir para esse acervo, podem entrar em contato peloendereço eletrônico: memorial.anistia@mj.gov.br ou pelotelefone: 61-3429-9402. O presidente da Comissão de Anistia explicou que a pessoa assinaráum termo de doação e, a partir daí, essadocumentação passará por um tratamento técnicoadequado para ser exposto no futuro memorial. Ao assinar o termo, seuFrancisco França, declarou ser este um dos dias mais felizesda sua vida. “Mais do que o dia que recebi outro reconhecimento, ode Cidadão Honorário de Curitiba”, afirmou.A caravana, queestá em Curitiba, integra o projeto educativo AnistiaPolítica: Educação para a Cidadania, Democraciae os Direitos Humanos, que tem o objetivo de contribuir para oresgate, debate e reflexão sobre a história do país.Até 2010, a caravana percorrerá todos os estados do paíse alguns países da América Latina. “Na históriada Comissão de Anistia, já julgamos 38 mil requerimentosde brasileiros que alegam ter sido prejudicados pela ditadura. Dessetotal, 25 mil foram deferidos", relatou Pires Junior. Segundo ele, dentre os deferidos, nem todos receberam reparaçãoeconômica e muitos mereceram por parte do Estadobrasileiro a Declaração de Anistiado Políticocomo forma de pedido de desculpas pelos danos causados.