Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A operação policial que deixou 19 pessoas mortas no Complexo doAlemão, no Rio de Janeiro, completou um ano hoje (27). Para o líder comunitário Edmundo Santos deOliveira, da Favela Parque Operário, do Complexo da Penha, vizinho à VilaCruzeiro, a situação dos moradores em nada melhorou depois da chacina, emborana época tenham recebido muitas promessas de mudanças.“Até hoje não veio nada. Continua tudo no zero a zero. Muitoconfronto, muita morte, nada além disso. O estado, a não ser com a polícia, nãoentra aqui no complexo”, afirmou.Segundo o líder comunitário, há falta de oportunidades deestudo e trabalho para a juventude, o que facilita que muitos rapazes acabemengrossando as fileiras dos soldados do tráfico de drogas. “O jovem de hoje é o adulto deamanhã. Os meninos não têm como fazer um curso, porque os pais não têm comopagar. Então eles ficam pelas esquinas”, disse.Edmundo disse que todas as semanas há confrontos entre políciae traficantes em sua comunidade e teme que acabe acontecendo uma tragédia aqualquer hora. “Ontem (26) mesmo morreram dois jovens. Todo o dia a gente encontramães chorando, que preferem ir embora e deixar tudo para trás. É triste vocêver um guri nascer, crescer e morrer de maneira tão prematura”, afirmou.O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), integrante daComissão dos Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro(Alerj), que acompanhou de perto as investigações da morte de 19supostos criminosos durante uma operação da polícia, disse que é preciso uma grande tragédia a fim de chamar a atenção da sociedade sobreo que ocorre diariamente nas favelas da cidade.“Se você pegar o número de 1.300 autos de resistência[mortes em confronto], vai dizer que a polícia do Rio de Janeiro está matandosete pessoas a cada dois dias. Então há uma tragédia permanente ocorrendo. E opior, absolutamente invisível aos olhos da opinião pública e do estado, que nãoquerem enxergar um processo de genocídio que está acontecendo hoje,fundamentalmente contra a juventude.”A morte de 19 pessoas na operação policial resultou em dois laudos periciais distintos, umfeito pela Secretaria de Segurança do Estado, mostrando que as vítimas eramtraficantes mortos em combate, e outro, da Secretaria Especial dos DireitosHumanos da Presidência da República, apontando possíveis casos de execução pelapolícia.