Rodada Doha corre risco de sofrer atraso de dois a três anos, diz Amorim

16/06/2008 - 18h55

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, avaliou hoje (16) que a conclusão da Rodada Doha, cujo objetivo é diminuir as barreiras comerciais, pode sofrer um atraso de dois a três anos, com a mudança de comando nos Estados Unidos. Amorim lembrou que, para que a rodada seja fechada até o final desse ano, seria necessário um acordo até julho.

"Uma mudança sempre requer tempopara as pessoas se assenhorearem dos temas. Às vezes, um tem idéias novasque o outro pode não concordar”, disse Amorim, referindo-se às eleições presidenciais norte-americanas, em que concorrem os candidatos Barack Obama, pelo partido Democrata e John McCain, pelo partido Republicano.

O ministro se disse confiante em um acordo, mas admitiu que países desenvolvidos e em desenvolvimento precisam correr contra o tempo. “O tempo está espremido. Nós temos que trabalhar contra o tempo. Mas isso não impede de concluirmos”, afirmou.

Celso Amorim comentou também o posicionamento do presidente dos Estados Unidos, George W.Bush, que cobrou uma concessão maior dos países emergentes nas áreas de serviços e indústria na Rodada Doha. “É natural que ele faça isso. Eu ficaria  preocupado se ele parasse de cobrar totalmente. Porque aí ele iria mostrar que estaria desinteressado. Também não quer dizer que eu concorde com ele”, observou.

Para o chanceler, é imprevisível o que pode ocorrer nas negociações multilaterais caso não se feche o acordo em julho. “Entram outros fatores, outras prioridades. Seria muito bom que nós terminássemos agora. Seria bom para o sistema multilateral”, constatou.

Ele lembrou, por exemplo, que a União Européia mudou o programa de açúcar, como decorrência do caso brasileiro. Os Estados  Unidos também já começaram a mudar o programa de algodão.

Amorim destacou que um comércio com regras é importante, especialmente em momentos de crises, quando as nações são tentadas a tomar medidas individuais ou arbitrárias. “Você ter um conjunto de regras que funcione é importante. E não há  melhor conjunto de regras do que aquele decidido pelo conjunto de países”, definiu. O governo brasileiro, disse o ministro, defende um resultado equilibrado, diante dessa razão.

O ministro admitiu, no entanto, que a conclusão da Rodada Doha depende do entendimento dos países desenvolvidos, já que, conforme enfatizou, a principal distorção a ser corrigida é a dos subsídios. Ele disse que os países em desenvolvimento vão trabalhar pela redução das tarifas e melhor acesso a mercados e produtos agrícolas.

A Rodada Doha é um acordo multilateral que vem sendo negociado desde 2001 no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) e têm como foco a liberalização de mercados.