Jobim afirma que ação de militares do Exército no Rio foi inconseqüente e inadmissível

16/06/2008 - 20h47

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O ministro da Defesa,Nelson Jobim, afirmou hoje (16) que a ação dosmilitares do Exército, que levaram três jovens presos noMorro da Providência para o Morro da Mineira e os entregaram auma quadrilha de traficantes foi “inconseqüente, inadmissívele que deverá ser repreendida de forma exemplar”.O ministro nãoquis responder se os 11 militares serão expulsos do Exército.Disse apenas que poderão responder por homicídio.“Vamos esperar o desenvolvimento do caso, mas evidente que háuma indagação sobre se, efetivamente, a causa da mortedesses rapazes teve como origem sua entrega a uma facçãorival. Aí poderíamos inclusive falar em co-autoria [namorte dos jovens]”, disse. O ministro Jobim disseque recebe informações diárias sobre o andamentodo Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado ontem (15) parainvestigar as circunstâncias em que Marcos Paulo Rodrigues, de17 anos de idade, Wellinghton da Costa, de 19 anos, e David da Silva,de 24 anos, foram mortos. “Evidente que tudotem que ser conduzido dentro dos trâmites judiciais típicos,mas a leitura dos depoimentos já colhidos nos leva àindignação”, afirmou o ministro. Segundo Jobim, trêsmilitares já foram ouvidos até o começo da noitedesta segunda-feira (16) - um tenente, um sargento e um soldado, deacordo com o delegado titular da 4ª Delegacia de Polícia,Ricardo Dominguez, responsável pelo inquérito. Além dos três,outros oito soldados estão presos no Primeiro Batalhãoda Polícia do Exército, na rua em Barão deMesquita, na zona norte, por determinação do Tribunalde Justiça do Rio de Janeiro.Segundo o ministro, otenente já ouvido pelo delegado teria admitido ter entregue ostrês rapazes a traficantes do Morro da Mineira, dominado poruma facção rival a que atua no Morro da Providência,onde os jovens viviam. Entregues vivos,conforme a versão do tenente, no último sábado(14), os corpos de Rodrigues, Costa e Silva foram encontrados noLixão de Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. “Pelo que soube dadeclaração do tenente, ele admitiu ter tomado a decisãoindependente da determinação de seu superior, que haviadeterminado que os jovens [detidos por desacato a autoridade]fossem libertados”, disse Jobim, acrescentando que o tenente“resolveu conduzir os três jovens ao Morro da Mineira para,segundo ele próprio, dar um susto nos jovens”. O ministro manifestouindignação com a conduta dos militares. “Mostramabsoluta falta de respeito à pessoa humana. Isso deveráter uma reação não apenas da sociedade, mastambém do Poder Judiciário, no sentido de coibircondutas desta natureza”. O ministro disse quenão há sinalização para que o Exércitodeixe o Morro da Providência, onde está desde 2007, ondefazem a segurança de uma obra de urbanização. “Temos que verificarquais são as conseqüências desse fato em relaçãoàs ações praticadas pelo Exército noMorro da Providência, mas ainda é cedo para examinarmosisso”, disse. Nelson Jobimclassificou o comportamento dos militares como um caso isolado. “Não podemostomar ações isoladas dessa natureza para justificar umasituação. Basta ver o que se passa no Haiti, onde temosabsoluta tranqüilidade. Não podemos pegar um casoisolado, praticado por personagens absolutamente irresponsáveis,e contaminar as ações do Exército”.