Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Organizações sociais, como a Via Campensina, apresentaram propostas de que áreas onde são plantadas florestas de pinheiros e eucaliptos, para a produção de madeira e celulose, sejam substituídas por áreas de produção de alimentos, durante a jornada de lutas realizada na semana passada em todo o país. Um dos principais motivos para a proposta, de acordo com Mina Tonin, da coordenação da Via Campesina, é reagir ao aumento dos preços dos alimentos.“É verdade que aumentou a produção [de alimentos], mas esses alimentos estão nas mãos de poucos grupos econômicos, a terra deixou de produzir comida e passou a produzir etanol e celulose”, disse, em entrevista à Agência Brasil. “É muito grave o que vem acontecendo, nós precisamos de mais produção de comida”, disse ela.De acordo com Mina Tonin, o que se vê em locais como o Rio Grande do Sul é a importação de comida, que é vendida a preços inacessíveis a grande parte da população. “As famílias estão ficando cada vez mais pobres, no campo e na cidade”, disse.A representante da Via Campesina afirmou que, no estado, um dos locais onde há maiores áreas de plantio de eucalipto para produção de celulose, as áreas plantadas com “desertos verdes” - como muitos movimentos, inclusive ambientalistas, chamam essas áreas -, nessas terras se costumava produzir carne. “Ou seja, o Rio Grande do Sul já não produz mais a carne e passou a produzir celulose”, disse.Segundo Mina, as máquinas utilizadas para plantar as florestas produtivas de madeira e celulose danificam a terra. Ela diz que, na divisa com o Uruguai, foi feito um levantamento e constatado que 53% dos córregos secaram e as terras com um plantio de eucalipto, de sete anos, levam 200 anos para se recuperar. Além disso, de acordo com ela, “nas regiões onde alguns agricultores resistem, as caturritas [pássaros típicos da região] destroem a produção”.Outro motivo para que pequenos agricultores sejam contrários às empresas, que plantam eucalipto para produzir papel, é o fato de essas firmas serem na sua maioria multinacionais. “Na verdade, o protesto da Via Campesina é contra as empresas estrangeiras, que estão levando toda a nossa riqueza, deixando a terra destruída”, disse Mina, em referência às manifestações da última semana, entre elas, a ocupação de áreas da Votorantin, onde é plantado eucalipto, para produção de papel e pasta de celulose.As críticas da Via Campesina, são contestadas. De acordo com o técnico engenheiro florestal Marcos Coutinho, do Departamento de Florestas, da Secretaria de Biodiversidade e Floresta do Ministério do Meio Ambiente (MMA), a existência de florestas produtivas, de eucalipto, não prejudicam a produção de alimentos. “Normalmente [essas florestas] ocupam áreas que estão abandonadas ou degradadas nas propriedades rurais, de forma alguma é incentivado o plantio florestal em áreas que o produtor utiliza para agropecuária ou de produção agrícola”, disse à Agência Brasil.E completou: “Nós temos áreas de sobra no país, já abandonadas, que não são propícias para a agricultura. Se você colocar uma cultura agrícola, vai ter que fazer uma correção nesse solo, para ter produtividade, e a cultura florestal é menos exigente em termos de solo, então você vai ter uma produtividade nessa área, no solo degradado, e até mesmo conservando os recursos naturais”, disse Coutinho.Segundo ele, o plantio desse tipo de cultura também pode ajudar a diminuir a pressão sobre as áreas de mata nativa, uma vez que oferece madeira, por exemplo, para a produção de carvão vegetal.“Cabe lembrar que as áreas de produção florestal são uma das poucas áreas produtivas desse país que cumprem a legislação ambiental, pois elas mantêm as áreas de reserva legal, nos empreendimentos, e as áreas de preservação”, ressaltou Coutinho. Entre as exigências que, segundo ele, são certificadas pelo ministério, estão a de não plantar monocultura de eucalipto em áreas próximas a rios ou nascentes e a preservação de mata nativa dentro da área plantada. Ele também destacou que todas essas áreas são certificadas ambientalmente e passam por auditorias realizadas por empresas particulares e reconhecidas pelo MMA.