Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Apesar da tentativa brasileira de se firmar como um ator global, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, admitiu hoje (10) que o enfrentamento de problemas como crises financeiras internacionais depende da atuação conjunta dos países em desenvolvimento. “No mundo globalizado, de grandes blocos econômicos, até um país grande como o Brasil é pequeno”, disse a 40 delegações sul-americanas e africanas na 1ª Reunião de Altos Funcionários da Cúpula América do Sul-África. O ministro defendeu a união dos países para enfrentar os grandes desafios do século, tanto no domínio tecnológico e econômico quanto na capacidade de combate à fome e à pobreza e no que diz respeito às crises financeiras. Amorim deixou clara a disposição brasileira de colocar a África na agenda de prioridades dos países vizinhos, a exemplo do que vem sendo feito pelo Brasil desde o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - em seis anos, Lula fez oito viagens ao continente africano e visitou 20 países. Para comprovar as vantagens econômicas de tal aproximação, o ministro citou números: “Quando o Brasil retomou com maior intensidade sua política africana no governo Lula, enfrentou muito ceticismo. Freqüentemente nos foi apontado que era algo poético, talvez de valor sentimental, mas de pouca eficácia prática. Hoje, a África já é um importantíssimo parceiro comercial do Brasil”, responsável por 7,1% do total das trocas comerciais brasileiras.” De 2003 a 2007, as exportações brasileiras para a África cresceram 200%, alcançando US$ 8,5 bilhões. As importações aumentaram ainda mais no período – 244%, chegando a US$ 11,3 bilhões no ano passado. Se o continente africano fosse considerada como um país, seria o quarto parceiro comercial do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos, da Argentina e da China. “Isso demonstra que há também um lado pragmático. Aumentam os investimentos do Brasil na África, aumenta nosso comércio, aumentam, ainda que muito vagarosamente, nossas conexões aéreas e marítimas”, ponderou Amorim. Citou, ainda, a abertura de um escritório da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na África – inaugurado oficialmente durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Gana, em abril – e a futura abertura de escritório da Fundação Oswaldo Cruz em Moçambique, além da instalação de uma fábrica de anti-retrovirais no mesmo país. Amorim lembrou que a aproximação entre América do Sul e África foi proposta pelo governo brasileiro a partir da demanda africana de um diálogo permanente com o Brasil, nos moldes do que os países daquele continente já mantinham com potências do mundo emergente como Índia e China. Ele ressaltou que a cooperação birregional já ocorre no contexto das Nações Unidas. “Juntos, nossos países contribuíram, já há alguns anos, para a agenda do desenvolvimento, e têm contribuído para um tratamento adequado das grandes questões globais como são as questões do clima, do meio ambiente, as que dizem respeito às mulheres, aos direitos humanos e ao progresso social”, disse o chanceler. “Creio que faltava um olhar mais direto entre os dois continentes”, concluiu.A reunião de altos funcionários sul-americanos e africanos, que está sendo realizada em Brasília, tem por objetivo debater um programa detalhado de cooperação para apresentação na 2ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da América do Sul e da África, marcada para os dias 28 e 29 de novembro deste ano, em Caracas. A 1ª Cúpula foi realizada em Abuja, na Nigéria, em novembro de 2006.