Indústrias do Amazonas já esperavam elevação da Selic

16/04/2008 - 22h25

Amanda Mota
Repórter da Agência Brasil
Manaus - A elevação da taxa básica de juros (Selic) não foi uma surpresapara o setor industrial de Manaus. Segundo o diretor-executivo doCentro da Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), RonaldoMota, o aumento de 0,50 ponto percentual anunciado hoje (16) peloComitê de Política Monetária (Copom) eraesperado, sobretudo, por causa de fatores externos, como a criseeconômica dos Estados Unidos.Apesar da preocupaçãopor parte da classe empresarial - que defendia a reduçãoSelic como forma de baratear os empréstimos bancáriospara investimentos no setor produtivo -, Mota acredita que, pelomenos inicialmente, a novidade não deve trazer impactosnegativos para o Pólo Industrial de Manaus, onde estãoinstaladas cerca de 500 indústrias."Nesse primeiromomento, isso não deve impactar nas indústrias, porqueo consumo está alto para todos os setores. Diante da atualestabilidade econômica do país, é natural quehaja o medo de que a inflação volte a galopar como emalguns anos atrás", declara.Para o economista eprofessor da Universidades Federal do Amazonas (Ufam) RodemarckCastelo Branco, o aumento da taxa básica de juros podediminuir o consumo de alguns produtos fabricados no PóloIndustrial de Manaus (PIM), como bicicletas, motos e televisores.Em entrevista àAgência Brasil, Branco ressaltou que o crescimento dainflação no país nas últimas semanas éreflexo de uma situação internacional que estáocorrendo em vários países. Por isso, na sua opinião,esse não seria o momento ideal para aumentar a taxa de juros.Entre essa situação, destaca, está a criseeconômica dos Estados Unidos e o aumento do preço dosalimentos no mundo."Eu estou entreos que acreditam que o aumento da inflação no paísé reflexo de uma crise internacional que também éresponsável, por exemplo, pelo aumento do valor de produtosagrícolas com cotação internacional. Em nívellocal, o aumento da taxa de juros irá afetar os financiamentospara compra de bens de consumos duráveis, entre os quaisalguns fabricados na Zona Franca de Manaus", analisaBranco.Ainda segundo o economista e professor da Ufam, asituação ideal para a economia amazônica seriaque houvesse mais uma reunião do Copom, para ver como secomporta a inflação, mantendo as taxa Selic no nívelatual. "Até então, Amazonas e Pará, porexemplo, estavam aumentando as exportações e a elevaçãoda taxa de juros poderá causar a diminuiçãonesses índices também, já que, apesar dasituação também poder nos levar a umavalorização da moeda nacional, o exportador vai sairperdendo porque vai receber menos pelo que está vendendo",acrescentou.Para o presidente doConselho Regional de Economia do Amazonas (Corecon), Sylvio Puga, oimpacto da elevação da Selic no consumo dos produtosoriginários do PIM deve se dar a longo prazo. Em suaavaliação, de forma geral, o aumento na taxa de jurosnão é desejável pela sociedade, porque nospaíses desenvolvidos o crescimento econômico éimpulsionado pelas baixas taxas de juros."A elevaçãoda Selic representa a alta dos custos financeiros para as empresas epara as pessoas físicas. Considerando que a variaçãodeve se dar num pequeno percentual, esse impacto deve tambémacontecer de forma proporcional nas empresas e na sociedade. Numcurto prazo de tempo, esse impacto é diluído pelopróprio valor que está sendo aumentado", comentouPuga.Ainda de acordo com o dirigente do Corecon/AM, o atualcenário econômico mundial deve ser acompanhado peloBanco Central, de forma que o Brasil esteja em constante alerta paraos possíveis desdobramentos desse situação nomercado interno. "Interessa para a autoridade monetária,ou seja, para o Banco Central, que as taxas de juros sejamcompatíveis com o crescimento econômico, desde que seacompanhe o ritmo inflacionário, já que a inflaçãotem efeitos danosos sobre todas as classes da sociedade", dissePuga.