Amanda Mota
Repórter da Agência Brasil
Manaus - A infectologista Maria Paula Mourão, doutora em doenças tropicais, afirmou hoje (28) que o estudo realizado por cientistas da Fundação de MedicinaTropical do Amazonas (FMT) e que revela a presença da dengue tipo 4 emManaus – contestado em nota pelo Ministério da Saúde –, teve seus resultados confirmados por outras instituições parceiras na pesquisa, como Universidade Federal do Amazonas, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Universidade de Porto Rico. "Eles usaram a mesma metodologia de nossapesquisa, mas cada um em seu laboratório, e chegaram ao mesmo resultado",afirmou, sobre o estudo realizado entre 2005 e 2007 que ganhou repercussão depois de publicado em revista científica internacional. Está disponível para consulta no endereço eletrônico www.cdc.gov/eid/content/14/4/667.htm.Mourão informou que o artigo divulgado na EmergingInfectious Diseases (volume 14, nº 4, de abril de 2008) é resultado daanálise de 128 amostras de sangue de pacientes que procuraram ainstituição com sintomas de febre aguda, tiveram resultado negativopara os exames de malária e foram submetidos aos exames de dengue. Nasanálises, os vírus da dengue foram isolados a fim de seremidentificados quanto a sua tipagem. "De todas as amostras analisadas,três deles deram resultado positovo para dengue tipo 4", contou, ao lembrar que o último caso desse tipo de dengue foi registrado nopaís há 26 anos, em Roraima.A pesquisa foi concluída em agosto do ano passado e os resultados, informados às Secretarias de Saúde de Manaus e do Amazonas eao Ministério da Saúde. Entre outubro e novembro, técnicos doministério coletaram em Manaus cerca de 50 novas amostras, incluindosangue de pacientes adultos e de crianças com quadro clínico comsuspeita de dengue, para avaliação em laboratórios de referêncianacional, como o Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA) e na Fiocruz,no Rio de Janeiro (RJ). "O objetivo era ver se havia outra indicação dedengue tipo 4", disse Mourão, que formalmente, alegou, não recebeuo retorno disso. Ela afirmou, no entanto, que a descoberta de um novo tipo de dengue no Brasil representaapenas que a populaçào brasileira tem mais uma chance de se expor àdoença. "Não existe qualquer relação de gravidade entre o tipo de vírus dedengue e a apresentação clínica da doença. Se os indivíduos não forem picados pormosquitos infectados, não vão adquirir vírus nenhum e nem a doença. O que faz a diferença é a situação de defesa do indivíduo. Se ele já foi exposto outras vezes a infecções por dengue, tem mais chances de ter a doença grave",ressaltou.O vírus tipo 4 da dengue não era desconhecido pelos pesquisadres ejá "circula" há bastante tempo na Venezuela, Colômbia, no sudesteasiático e na África. "Mais dia, menos dia, a dengue tipo 4 entraria noBrasil", disse a pesquisadora, confirmando as previsões feitas peloministro da Saúde, José Gomes Temporão, em outubro do ano passado.Para a infectologista, a entrada do vírus no país independe das açõesintegradas de saúde, já que "os vírus se transportam atravésdas pessoas, ou seja, pessoas picadas por mosquitos infectados poderãolevar a doença por onde forem – o que depende das ações de saúde é ocontrole do mosquito transmissor". No Amazonas, neste ano, a Secretaria de Estado da Saúde já registrou – até ontem (27) – 1.221 casos suspeitos dedengue clássica e 55 confirmados de dengue hemorrágica (três mortes).Sobre a nota em que o Ministério da Saúde contesta os resultados da pesquisa,dizendo que, no Brasil, somente os vírus de 1 a 3 circulam emterritório nacional e que, portanto, não há evidencia concreta de que ovírus tipo 4 esteja presente no país, Maria Paula Mourão ressaltou que a divergência entre a Fundação de Vigilância em Saúde do estado e o ministério se deve a um erro no acondicionamento das amostras durante o transporte até o Rio de Janeiro. "Não temos dúvidas de nossos resultados,mas o Ministério sim. Os resultados no Rio de Janeiro ficaramcomprometidos porque as amostras não foram submetidas às baixastemperaturas em que deveriam estar para serem analisadas", concluiu.