Elevação da auto-estima ajuda a tratar populações de rua com tuberculose, diz ativista

24/03/2008 - 7h40

Débora Xavier*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O controle da tuberculose na população de rua necessita, antes de qualquer tratamento medicamentoso, de um trabalho de convencimento, de cuidado integral à pessoa e de elevação da auto-estima. Tal constatação é fruto da experiência da coordenadora da Organização de Auxílio Fraterno (OAF), Célia Alves de Souza, que trabalha com catadores de materiais recicláveis da região de Pinheiros, na cidade de São Paulo. Segundo ela, com a população que vive na rua não basta dizer: "olha, você tem uma doença séria e necessita tomar essa medicação para ficar curado"."Antes, você tem que fazer um trabalho de ajuda total ao indivíduo, não somente à sua doença. Em certos momentos, nós da OAF vamos, nos finais de semana e feriados, onde essas pessoas dormem para poder dar atenção, dar a medicação, acompanhar, abrir um espaço para oferecer um leite, um alimento, já que o paciente acometido de tuberculose não pode tomar o remédio com o estômago vazio”.Célia destacou que a população de rua é particularmente vulnerável a doenças infecciosas, considerando que grande parte dorme em lugares sujos e úmidos, e tem vários costumes que dificultam o tratamento. Entre esses agravantes, um dos mais constantes é o alcoolismo. A tuberculose é apenas uma das infecções que agravam ainda mais o estado precário da saúde de muitos moradores de rua. “Quando a TB [tuberculose]  é diagnosticada, não basta combater o bacilo que está no pulmão e pronto. Temos que convencer essas pessoas a perseverar no tratamento durante os seis meses necessários para debelar completamente a doença. Normalmente, eles querem desistir logo nas primeiras semanas por que não aguentam por muito tempo as medicações, por sentirem náuseas, tonturas e enjôos”, disse. Apesar de todas essas intercorrências durante o tratamento, Francisco Alves, o Ceará, não desistiu. Assim, ficou totalmente curado. Quando os assistentes da OAF suspeitaram que o morador de rua na capital paulista estava contaminado pela tuberculose o encaminharam ao Centro de Saúde Geraldo de Paula Souza onde foi assistido.Depois de entregar pela manhã na Cooperativa dos Catadores Autônomos de Papel, Aparas e Materiais Recicláveis tudo que recolhe pela madrugada nas ruas da capital paulista, Ceará dá uma passada na OAF. “Agora já estou bom da tuberculose. Venho agora por causa de outras doenças. Mas na época da tuberculose vinha para ver se tinha remédio para parar de tossir. Eles me ensinaram também muita coisa”, disse ele. Entre os cuidados que Ceará tomava quando ainda estava infectado foi receber bebidas e alimentos somente em recipientes descartáveis. “Eu acho que não passei para ninguém”, avaliou.Para Célia o tratamento integral dispensado a Ceará fez toda diferença para a cura da tuberculose.“Inclusive por que a doença é muito discriminada ainda hoje. Quando uma pessoa fica sabendo que tem TB, a primeira coisa que acontece é sua auto-estima ir lá para baixo. Principalmente, o morador de rua que pensa assim: eu estou com essa doença contagiosa, já estou nessa situação de rua, não tenho nada mesmo, então... não adianta nada mesmo”, disse.Entretanto, Célia e seus colegas da OAF mostraram a Ceará e a alguns outros, que vale a pena persistir no tratamento medicamentoso. Somente assim, estão hoje completamente curados da tuberculose.