Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As exportações brasileiras para aChina foram o principal fator responsável por elevar o país à condição de credor externo, na avaliação do economista Raul Velloso. Segundo ele, o Brasil produz o que aChina precisa, como minério de ferro e soja. “E nóstemos isso com abundância”, disse. “As nossasexportações para China aumentaram muito, e entrandomuito dólar, começou a sobrar e nós passamos aaplicar a essa receita adicional. Deixamos de ser o devedor contumazdo resto do mundo. Somos uma aplicador líquido e não umdevedor líquido”.Hoje (21), o BancoCentral informou que o Brasil a ser credor externo, fato inéditona história do país. Isso significa que as reservasinternacionais e outros ativos, dinheiro aplicado no exterior, sãomaiores do que a dívida externa. As reservas e os ativos sãoem dólar. Velloso lembrou que quando sobra dólar no país o Banco Central compra a moeda eaplica em fontes consideradas seguras, como títulos do governonorte-americano. “No passado a gente era um grande devedor. Estávamossempre pedindo dinheiro lá fora. E tínhamos adificuldade de não ter dólares suficientes para arcarcom todos os compromissos, por isso tínhamos que tomar dólaremprestado. Agora, em vez de tomar dólares, estamos emprestado”, explicou Velloso. Para o economista, acrise do mercado imobiliário norte-americano deve gerarimpactos em todos os países, mas ele acredita que a economiaamericana “não é mais aquele elefante gigantesco emrelação aos outros países”. “Sabe-se que aeconomia americana está em processo de desaceleração,quer dizer, ela vai crescer cada vez menos por vários meses eisso vai afetar as compras de todos os países, porque aeconomia americana é a de maior peso no mundo. Só queagora a China e outros países emergentes, como a Índia,Rússia e África do Sul, têm um peso maior na economia mundial”.Segundo o economista,mesmo havendo algum impacto de desaceleração das compras dos países,o efeito não será tão grande como de costume.“Por isso, talvez, a gente seja menos afetado desta vez”. Para o economista, o país fez o dever de casa no que diz respeito ao setor externo. “Masdevíamos ter aproveitado essa maré mansa e fazerajustes nas contas do governo. O temor é que sejamos forçadosa fazer alguma correção quando a situaçãoexterna estiver pior. Uma coisa é, com sobra de caixa no seubolso, fazer ajustes nos gastos da sua família, outra coisa équerer fazer o mesmo ajuste quando o seu caixa está apertado.Aí tudo mundo na sua casa vai reclamar muito”. Para o Banco Central,os resultados no setor externo da economia brasileira nos últimosanos mostram “inquestionável fortalecimento da posiçãoexterna do país”, devido aos números da balançacomercial (exportações menos importações),das transações correntes (engloba a balançacomercial, serviços e rendas e transferênciasunilaterais) e do ingresso recorde de divisas no país.“Em resumo, diante de umcenário internacional caracterizado por aumento considerávelna incerteza, pela volatilidade dos mercados financeiros edesaceleração da atividade econômica, a melhoriadesses indicadores tende a mitigar, embora sem anular por completo, oimpacto de eventos externos adversos”, informa documento do BC.