Governo do Pará reconhece avanço da pecuária sobre florestas do estado

24/01/2008 - 19h54

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O avanço da soja e da cana-de-açúcar no centro-sul do país tem “empurrado” a pecuária para a região Norte. A avaliação foi feita hoje (24) pelo secretário estadual de Meio Ambiente do Pará, Valmir Ortega, ao comentar os números divulgados ontem (23) pelo Ministério do Meio Ambiente, que apontam o estado como o segundo na lista de desmatamento, atrás apenas de Mato Grosso.O Pará concentra 12 dos 36 municípios identificados como prioritários para ações de prevenção e controle do desmatamento. Ortega classificou os números do MMA como “bastante preocupantes”, mas reconheceu que, depois de três anos de queda nos índices de desmatamento, o estado identificou a tendência de crescimento a partir de outubro do ano passado. “Percebemos uma mudança na dinâmica do processo. Em geral, os últimos meses do ano eram de baixo desmatamento justamente porque a questão climática criava constrangimento para isso, por causa da chuva e da dificuldade de deslocamento, mas em [2007] percebemos um número bastante significativo [de derrubadas] nesses meses”, apontou. O secretário, no entanto, admite que mais que os fatores climáticos, a valorização das commodities agrícolas e a expansão da pecuária no sudeste do estado foram determinantes para o aumento do desflorestamento na região.“No caso do Pará é claramente a pecuária. Nessa região sudeste do estado, onde estão os municípios com maiores índices de desmatamento, praticamente não existe soja. Mas a ampliação da soja e da cana de açúcar no centro-sul do país estimula um redirecionamento da pecuária para o Norte. A pecuária vem sendo empurrada para a parte de cima da floresta”, reconheceu. O governo paraense pretende concluir, em breve, um “plano de desmatamento”, que estabelecerá a coordenação de autoridades ambientais e órgãos de fiscalização no combate à destruição da floresta. As eleições municipais, segundo Ortega, também são um fator de preocupação na elaboração das políticas públicas. Historicamente, o desmatamento aumenta em anos eleitorais, de acordo com dados do estado. “Num ano como esse, onde há uma mobilização política muito grande por conta do processo eleitoral, processos que criem ou gerem conflitos são sempre mais difíceis de se implementar; mas estamos firmes no sentido de criar condições para enfrentar o desmatamento independente do processo eleitoral”, afirmou. O estado ainda não tem dados consolidados da apreensão de madeira em 2007 para verificar se a fiscalização acompanhou o aumento da devastação. Segundo Ortega, além das dificuldades de controle das fronteiras, grande parte do desmate no estado é feito por meio de queimadas. Em 2007, o estado registrou 40 mil focos de incêndios. “Boa parte da área desmatada não está diretamente vinculada à exploração da madeira”, avaliou.