Em depoimento, Dirceu nega participação em esquema de compra de votos

24/01/2008 - 21h34

Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Em interrogatório realizado hoje (24) na Justiça Federal, em São Paulo, o ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu voltou a negar qualquer participação no esquema de compra de votos de parlamentares da base aliada conhecido como mensalão. As informações são do advogado do ex-ministro, José Luís de Oliveira Lima. Dirceu é acusado de corrupção ativa e formação de quadrilha.“O ministro José Dirceu rebateu pontualmente todas as acusações contidas na denúncia. Foi importante porque foi a primeira vez que ele pôde falar ao Judiciário. Ele negou qualquer participação com supostos fatos imputados na denúncia do procurador-geral [da República]”, disse o advogado após o término do interrogatório prestado pelo ministro na Segunda Vara Criminal Federal em São Paulo. José Dirceu saiu sem falar com a imprensa.De acordo com Lima, Dirceu afirmou não ter conhecimento do esquema e negou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também soubesse da compra de votos. Ele negou ainda que soubesse dos empréstimos realizados pelo PT nos Bancos BMG e Rural que tiveram como avalista o empresário Marcos Valério de Souza.Segundo o advogado, Dirceu, no entanto, admitiu ter se encontrado com representantes dos dois bancos. “Ele teve reuniões com outros empresários e banqueiros, mas nos encontros com os empresários do BMG e do Banco Rural jamais foram tratados os empréstimos realizados ao PT”, afirmou.Lima disse ainda que Dirceu afirmou que, após assumir a Casa Civil, em 2003, deixou de participar da gestão do PT e dos acordos do partido com as legendas da base. “Quando deixou a presidência do PT e assumiu a Casa Civil, ele [José Dirceu] saiu da executiva do partido porque não tinha tempo. Era humanamente impossível [conciliar a gestão do PT com a Casa Civil]”, disse Lima.De acordo com o advogado, Dirceu negou ter conversado com o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, sobre questões financeiras dos partidos.O depoimento, no Fórum Criminal Federal da Segunda Vara em São Paulo, foi tomado pela juíza federal Silvia Maria Rocha e pelos procuradores federais José Alfredo de Paula Silva e Rodrigo de Grandis.Em 2006, a Procuradoria-Geral da República apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra 40 pessoas supostamente envolvidas com a compra e venda de votos que favorecessem o governo. Entre os acusados, parlamentares, ex-ministros, dirigentes do Banco Rural e Marcos Valério. O ex-chefe da Casa Civil José Dirceu era apontado como chefe do esquema.Em agosto de 2007, o STF converteu o processo em ação penal e os acusados passaram a responder como réus. O relator do caso no STF, ministro Joaquim Barbosa, autorizou juízes federais de oito estados e do Distrito Federal a interrogar os acusados e receber a defesa prévia dos réus, como forma de dar mais rapidez ao julgamento.