Amanda Mota
Repórter da Agência Brasil
Manaus - Depois de participar da oficina de tecelagempara aprender a fazer o que seus avós e bisavós já faziam, o adolescenteValdenildo de Oliveira Batista, de 14 anos, se mostra animado com o resgate dacultura indígena. Ele faz parte da etnia Sateré-Mawé e vive na aldeia Simão,entre os municípios de Parintins e Barreinha, no Amazonas. Valdenildo é um dosintegrantes do grupo de 250 jovens indígenas atendidos atualmente pelo projetoRevitalização da Língua e de Práticas Culturais Tradicionais Sateré-Mawé."Na oficina de tecelagem aprendi a fazer peneira, abano e tipiti (uma espécie deespremedor de palha trançada usado para escorrer e secar a mandiocaralada. É fabricado artesanalmente pelos povos indígenas). Para mim,esta atividade é ótima, no futuro vai me beneficiar na parte econômica. Mas entendo que a tecelagem indígena também émuito importante, pois ajuda na valorização da minha cultura, para que osSateré não sejam deixados de lado como se seus costumes não valessem nada.Devemos valorizar os dois lados, pois não adianta só saber a cultura indígena,pois temos também que defender os nossos direitos lá fora", declara o adolescente.O projeto, que conta com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef),foi elaborado pela Organização dos Professores Sateré-Mawé dos Rios Andirá eWaikurapá (Opisma), com assessoria técnica da Universidade Federal do Amazonas(Ufam). Durante as oficinas, que duram cerca de 15 dias cada, os jovensaprendem a fazer rede, cerâmica, tecelagem e conhecem histórias mitológicas,que são contadas pelos representantes mais antigos das aldeias. Buscando oresgate de saberes tradicionais, os indígenas também participam de encontrospara discussão, planejamento e avaliação do desenvolvimento do projeto e para revisão de material didático em língua Sateré-Mawé. Além disso, eles contam com oficinas de formação pedagógica e de revisão de material didático em língua Sateré-Mawé. De acordo com o coordenador da Opisma, José de Oliveira dos Santos da Silva, aqualificação dos professores indígenas se deu anteriormente, por meio de outroprojeto, o Pira-Yawara, desenvolvido pela Secretaria do Estado de Educação(Seduc), em parceria com prefeituras municipais do Amazonas. Silva conta que aconstrução e a avaliação do projeto contaram com o envolvimento de homens, mulheres, jovens eidosos da comunidade. Para ele, o fundamental é que as aulas práticascontribuam para a fixação dos conhecimentos aprendidos."Hoje oferecemos uma aula e uma educação diferenciada. É o fortalecimentoda cultura Sateré-Mawé. As crianças e os jovens participam da prática decursos. É diferente de quando eles aprendiam a desenhar e a escrever em Sateré,mas quando iam falar da prática da cultura não sabiam de nada", explica.O coordenador do escritório do Unicef em Manaus, Halim Girade, afirma que asatividades tiveram início há um ano e, segundo ele, contribuem para arecuperação da auto-estima dos adolescentes e jovens indígenas por meio davalorização de suas tradições. Girade avalia que a desvalorização dos saberes ea perda das identidades culturais indígenas provocam na juventude indígenaconflitos existenciais e de auto-desvalorização, o que por sua vez, contribuipara a geração de outros problemas."Alguns dos maiores problemas entre adolescentes indígenas hoje naAmazônia são questões relacionadas ao alcoolismo, violência, abuso e exploraçãosexual e suicídios. E a proposta do projeto é importante porque vem não sórevitalizar, mas também trazer mais vida aos jovens, que começam a sentir umpouco de orgulho da sua cultura", diz.