Clara Mousinho
Da Agência Brasil
Brasília - Dois trabalhos científicos sobre álcool e drogas mostram a relação entre ouso do álcool e a violência. As pesquisas foram premiadas pela SecretariaNacional Antidrogas (Senad) durante o 1º Seminário Internacional da Redede Pesquisa sobre Drogas, que aconteceu nestas quinta-feira (4) e sexta-feira(5). Seis estudiosos foram premiados pelo 1º Edital de Premiação de Pesquisadores eTrabalhos Científicos sobre Álcool e/ou outras Drogas. O pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP),Gabriel Andreuccetti, recebeu o prêmio pelotrabalho "Uso de Álcool por Vítimas de Homicídio no Município de São Paulo".Andreuccetti analisou 2.007 vítimas de homicídio no ano de 2005 no InstitutoMédico Legal (IML) paulista. Ele constatou que 863 pessoasassassinadas tinha consumido álcool, sendo que 785 delas tinham mais de 0,6gramas de álcool por litro de sangue. Segundo o pesquisador, existem mais de uma hipótese para essa relação entrepessoas assassinadas e o consumo de álcool. “São asvítimas precipitantes, onde os homicídios seriam precipitados pela vítima. Hátambém a hipótese de que a medida de alcoolemia (embriaguez) nas vítimas servecomo medida de alcoolemia nos agressores. Alguns estudos internacionais jáfeitos demonstraram que a alcoolemia da vítima era similar a do agressor”.Outra pesquisa premiada é do médico pesquisador da Universidade Federal deSão Paulo (Unifesp), Sérgio Duailibi, com o estudo "Políticas municipaisrelacionadas ao álcool: análise da lei de fechamento de bares e outrasestratégias comunitárias em Diadema (SP)". “Essa ligação era muito forte. Tanto que Diadema em 1999 foi a cidade queteve o maior número de homicídios. Foram 109 homicídios por 100 milhabitantes”, explicou.Em 2002, os bares da cidade foram proibidos de abrir após as 23 horas. Segundo o pesquisador, amedida gerou a diminuição de 59% dos casos de homicídios em Diadema. “Lá haviamuita ligação entre álcool e violência por motivos fúteis. Eram brigas de barou discussões de jogo de futebol. Com esse link forte o resultado [dofechamento dos bares] é surpreendente”, disse Duailibi.Ele afirmou que é preciso fazer um trabalho de educação sobre os perigos doálcool, mas disse que a punição também ajuda na redução da violência. “Isso não vaifuncionar se você não tiver inicialmente uma punição. No caso, ela seria paraos donos de bares que abrissem após as 23 horas. É triste e uma limitaçãode liberdade talvez. Essa medida exagerada é para que pudesse se estabelecer ocontrole. Agora a parte educacional pode começar a funcionar”, defende.Duailibi disse ainda que o caso de Diadema poderia ser usado em todo o país.“Essa ligação praticamente deve existir no Brasil inteiro. O fechamento debares deu certo, porque há um descontrole social em relação às bebidasalcoólicas. A venda é indiscriminada em vários pontos a preços muito baixos.Quando você diminui o acesso ao álcool, seja diminuindo o número de bares, oude licenças para vender o álcool, a tendência é aumentar o preço ediminuir a possibilidade da pessoa consumir”, explica.