Governo e sociedade têm responsabilidade mútua sobre acidentes de trânsito, diz autor de livro

18/09/2007 - 15h22

Petterson Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A tolerância excessiva das pessoas e dos agentes públicos em relação às infrações de trânsito, a admiração por quem tem carro, o magnetismo que os veículos exercem sobre as pessoas e a vontade de obter carteira de habilitação a qualquer custo, inclusive corrompendo agentes públicos, são os fatores mais prováveis das causas de acidentes no trânsito no país.A avaliação é do presidente da Comissão de Trânsito da Associação Nacional de Transportes Públicos, Ailton Brasiliense Pires, um dos autores do livro “Trânsito no Brasil – Avanços e Desafios”, lançado hoje (18). O livro faz um balanço do Sistema de Nacional de Trânsito e uma análise dos dez anos do Código de Trânsito Brasileiro.Na opinião dele, ao interpretar a palavra acidente como algo que independe da vontade do condutor, do pedestre ou do agente de trânsito, as pessoas amenizam a sensação de responsabilidade."O acidente de trânsito é programado pelo homem. Nós habilitamos mal, não fiscalizamos, não sinalizamos e não operamos. É uma conseqüência [o acidente] natural do valor que temos dado a vida e o respeito que temos dado aos demais”.Segundo ele, fatores como o entendimento comum de que a fiscalização de forma ostensiva constitui uma indústria da multa, o pouco investimento pela União, estados e municípios, são outras causas prováveis dos acidentes de trânsito."Continuamos matando 35 mil pessoas por ano, o que é extremamente grave. Mas, se considerarmos que temos hoje uma população quase 15% maior do que tínhamos dez anos atrás, uma frota quase 40% maior do que tínhamos dez anos atrás, e mantivermos este número, talvez isso realmente signifique que começamos a reverter o quadro atual”.Para mudar o quadro atual, Pires diz ser preciso uma maior participação da sociedade nas cobranças das ações dos órgãos públicos. “Acho que essa ação conjunta da sociedade civil, ganhando mais consciência e cobrando das autoridades, é a única forma de revertemos o quadro que temos hoje”.Segundo a Associação Nacional de Transportes Públicos, os custos anuais de acidentes de trânsito ficam em R$ 28 bilhões, sendo R$22 bilhões com acidentes nas rodovias e R$ 6 bilhões em áreas urbanas. Com base na média entre os anos de 2003 e 2006, o trânsito brasileiro faz anualmente 34 mil mortes, e deixa 100 mil pessoas com deficiências temporárias ou permanentes, além de 400 mil feridos.