Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A juíza Ana Paula Vieira de Carvalho, da 6aVara Federal Criminal, ouviu hoje (2), no Rio de Janeiro, mais trêspessoas suspeitas de fazerem parte de um esquema de favorecimento dascasas de bingos e máquinas caça-níqueis,desbaratado pela Operação Furacão, da PolíciaFederal. As íntegras dos depoimentos, exceto as transcriçõesdas escutas telefônicas, sob segredo de Justiça, foramdivulgadas pela assessoria de comunicação da JustiçaFederal do Rio de Janeiro.O primeiro a depor foi JoséLuiz da Costa Rebello, acusado de ser gerente do Bingo Icaraí,em Niterói (RJ), que teve máquinas caça-níqueisapreendidas no ano passado e posteriormente liberadas, atravésde uma liminar judicial.José Luiz falou por 40minutos, disse que tem uma empresa de engenharia e que foi gerente dobingo de 2000 a 2002. Ele negou saber detalhes sobre o processojurídico que resultou na liberação das máquinas,tarefa, segundo ele, desempenhada pelo advogado do bingo, SérgioLuzio. Na denúncia feita pelo Ministério PúblicoFederal (MPF) à Justiça, José Luiz aparece comotendo “intensa atuação” nos contatos com o advogadoVirgilio Medina, irmão do ministro do Superior Tribunal deJustiça (STJ), Paulo Medina.Já a secretáriada Associação dos Bingos do Rio de Janeiro (Aberj), AnaCláudia do Espírito Santo, depôs por cerca de umahora e meia e admitiu que fazia pagamentos mensais dentro deenvelopes. Mas afirmou que o dinheiro era destinado a bingos emdificuldades financeiras ou até para pessoas que ficavamdesempregadas por causa do fechamento das casas. Na denúnciado MPF, Ana Cláudia é apontada como encarregada deauxiliar na distribuição de propina mensal afuncionários públicos.Segundo o seu advogado,Leonardo Yarochewsky, a secretária só cumpria ordens enunca teve qualquer contato com juízes federais ou procuradorda República: “Ela não conhece nenhum desembargador,procurador da República, delegado de polícia, ministrodo Supremo Tribunal Federal”.O último depoente datarde, o advogado Jaime Garcia Dias da Fonseca, se negou a falar,afirmando que só iria se pronunciar quando tivesse acesso àsgravações telefônicas que fazem parte doprocesso. De acordo com a denúncia do MPF, Jaime Garcia seriaresponsável por interferir nos processos judiciais, atravésdo pagamento de propinas a juízes e delegados, garantindo adevolução de máquinas apreendidas e ofuncionamento das casas de bingos.Nesta quinta-feira (3),outras três pessoas serão ouvidas, a partir das 13h, na6a Vara Federal Criminal: Silvério Nery CabralJúnior, Ségio Luzio Marques de Araújo e VirgílioMedina. A trama foi alvo da Operação Furacão,realizada pela Polícia Federal, no dia 13 de abril, queresultou na prisão de 27 pessoas, incluindo três juízese um procurador da República, que acabaram libertados porterem foro privilegiado. Uma única pessoa estáforagida: Marcelo Kalil, filho de Antônio Kalil, o Turcão.Oministro Paulo Medina, que chegou a ser citado, mas teve sua prisãonegada, pediu afastamento hoje do STJ.