Produtos mais elaborados podem ampliar empregos de qualidade, diz professor

02/08/2006 - 12h25

Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O Brasil precisaria ampliar a pauta de exportação e agregar mais valor aosseus produtos. Dessa forma haveria um aproveitamento melhor da mão-de-obra commais escolaridade que se forma no país, além da possibilidade de pagar melhoressalários.A avaliação é do professor do Departamento de Economia da Unicamp, MárcioPochmann. Para ele, a expansão de postos de trabalho com menor nível deescolaridade não é, necessariamente, um mal para o país, até porque, éimportante que as pessoas com baixa escolaridade tenham acesso à ocupação. Oprofessor acrescentou, no entanto, que se constitui “uma anomalia no Brasil”, ofato de ter pessoas com maior escolaridade, sem a geração necessária de postosde trabalho para elas.“Isso está diretamente relacionado à forma como o país se insere na economiamundial. O Brasil vem ampliando as suas exportações, o que é positivo, mas temse especializado muito na produção de bens de baixo valor agregado, sobretudo,o chamado agronegócio e o próprio extrativismo mineral, exportação e importaçãode minério de ferro, suco de laranja, açúcar entre outros produtos, importantespara a pauta de exportação, mas que não geram empregos de qualidade”, disse ementrevista ao Programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional.O especialista defendeu a necessidade de investir em setores que envolvemmaior conhecimento científico-tecnológico. Segundo ele, todos os serviços maissofisticados demandam pessoas de maior qualificação e permitem que o Brasiltenha condições de competir no mercado internacional em novas bases. “Nãoapenas com produtos de baixo valor agregado que pressupõem mão de obra de baixocusto”, disse.Pochmann destacou que a informalidade instalada no Brasil se observa tambémem setores mais modernos, em decorrência principalmente da terceirização, quesegundo ele apresentou uma possibilidade para esses setores empregaremtrabalhadores informais, sob a forma de sub-contratação.“Isso é o resultado de políticas econômicas não muito satisfatórias aoemprego da mão-de-obra. Toda vez que o Brasil impõe custos tributários e aomesmo tempo uma política cambial não muito favorável termina fazendo com queempresas procurem reduzir custos. Muitas vezes isso significa contratar mão deobra informal e pagar remuneração relativamente baixa”.Ele afirmou que o fato de o Brasil estar registrando aumento no número detrabalhadores com carteira assinada e a redução no valor dos salários não é ummovimento que começou nos últimos anos, mas que vem ocorrendo há mais tempo.“Está associado ao fato de o Brasil ter apresentadotaxas de economia muito baixas. Temos a cada ano algo como 2,3 milhões depessoas que ingressam no mercado de trabalho. Para que todas as pessoas possamter um posto de trabalho é preciso que a economia brasileira cresça em torno de5 ou 6 por cento ao ano”.