Músico defende maior envolvimento do governo no combate ao jabá

02/08/2006 - 20h47

Aline Beckstein
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O músico Marcelo Yuka defendeu hoje (2) a participação de outros ministérios, juntamente com o da Cultura, no combate ao chamado jabá (execução de música em rádio mediante pagamento). Segundo ele, apesar de o Ministério da Cultura “não estar presente” no combate a essa prática, “pelo menos já está começando a discutir com a gente”.“O ministro da Cultura [Gilberto Gil] é músico. Em algum momento, uma gravadora pagou para que ele tocasse nas rádios. Ele sabe muito bem o desgaste que o jabá produz na cultura nacional. Agora precisamos atrair outros ministérios. Nesse momento, várias concessões estão sendo negociadas”, disse Yuka, ex-baterista e compositor da banda O Rappa e atualmente no F.UR.T.O., sigla para Frente Urbana de Trabalhos Organizados.A avaliação foi feita durante audiência pública na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro sobre a criminalização do jabá. O projeto de lei estadual é de autoria dos deputados Gilberto Palmares e Carlos Minc, ambos do PT. Segundo os parlamentares, a proposta é complementar ao projeto do deputado federal Fernando Ferro (PT-PE), que também pretende punir rádios que se utilizem desse recurso.A presidente da associação Jabasta, Bia Grabois, disse que é preciso conscientizar os cidadãos contra o jabá. “Rádios e TVs são concessões públicas, não podem cobrar para tocar músicas. Isso prejudica não só o artista, mas todo o país, que fica com a sua cultura subordinada a interesses econômicos, a quem pode pagar”, justificou.Ela afirmou que as rádios utilizam várias formas para disfarçar a cobrança. “Algumas têm tabela, outras trocam execuções pela bilheteria de vários shows do músico e ainda disfarçam o recebimento do dinheiro dizendo que é uma campanha de marketing com a gravadora”.Segundo o músico Lobão, o jabá sempre existiu, mas foi consolidado nos anos 80. “Até essa época ainda havia execuções espontâneas e esporádicas. A partir do governo [do ex-presidente José] Sarney, quando se doaram muitas concessões, tudo mudou. Hoje, 99% do que toca nas rádios, com exceção das culturais e comunitárias, é pago. Só escapam alguns ritmos que vêm da internet e funks, que entram pela janela por serem muito populares”.O representante do Ministério da Cultura, Adair Rocha, rebateu as críticas de omissão. “O que ele [Gilberto Gil] está querendo propor é a discussão, saber o que significa exatamente isso [jabá], como funciona na sociedade, para estabelecer políticas”. Pressionado a se posicionar sobre a prática, Rocha disse que o ministério é contra, mas frisou a necessidade de uma boa definição do que é jabá ou não.