Dívidas levam consumidor a buscar restituição Imposto de Renda e antecipação do 13º salário nos bancos

02/08/2006 - 14h28

Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A rede bancária oficial vemregistrando uma forte demanda dos consumidores por empréstimos com base naantecipação do pagamento da restituição do Imposto de Renda ou do 13º salário.No Banco do Brasil, no primeiro semestre, apenas com a linha de crédito paraantecipar o pagamento do 13º foram contratadas 60 mil operações no total de R$35 milhões. Para a antecipação da restituição do IR, foram 150 mil operações,que somaram R$ 200 milhões. Na Caixa Econômica Federal a informação é de que ovalor médio dos empréstimos aumentou de R$ 2,2 mil para R$ 3,5 mil.Para o diretor do Centro deCiências Sociais Aplicadas da Universidade de Maringá, do Paraná, doutor emeconomia de empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e integrante do ConselhoFederal de Economia, Neio Lúcio Peres Gualda, embora com juros menores (2,5% a3,4%), esse tipo de empr[estimo deve ser feito apenas em determinadassituações. “Se a pessoa tem dívidas no cartão de crédito ou no cheque especialcompensa, porque essas duas modalidades cobram juros muito elevados”,aconselhou.Segundo ele, os juros nocheque especial estão na faixa de 160% ao ano e no cartão de crédito,ultrapassam os 200%. O professor desaconselhou o uso desse tipo de crédito paraantecipar uma compra. Nesse caso, ele afirma que é melhor aguardar arestituição completa, porque os juros de 2,5% a 3,4% ao mês também são pesados.Gualda considera aantecipação uma modalidade interessante para os bancos e financeiras, porquenão há risco nas contratações dos empréstimos. Ele destacou que as instituiçõestêm a garantia da restituição e fazem a consignação para a antecipação do 13º.“O que forma a taxa de juros é a liquidez. Se o financiamento é de um prazomaior, a taxa também é maior e, na possibilidade de inadimplência, os bancos efinanceiras já computam isso nas taxas de juros. Todo mundo paga pelainadimplência de alguns. Como o empréstimo será consignado ou já têm a garantiada restituição, então, paraticamente não há risco de inadimplência, o que fazcom que a taxa seja menor”, explicou.Para o especialista, omotivo da busca por esse tipo de empréstimo é o alto grau de endividamento dobrasileiro. O professor afirmou que a classe média está sufocada pelo chequeespecial e o cartão de crédito. Ele afirmou que embora a inflação venha registrandoníveis menores, há gastos da classe média que ao contrário, só fizeramaumentar, como os planos de saúde e mensalidades escolares. Os dois juntosprovocam desequilíbrios nos orçamentos familiares. Junto ao pouco crescimentoda renda média ele acredita que,estes sejam os fatores do endividamento.“É uma situação comum hojefazer uso do cheque especial ou não poder quitar a fatura integral do cartão decrédito. Não acredito que seja para antecipar uma compra não, mas para quitardívidas. Esse aumento de demanda com certeza está associado ao endividamentoque a classe média vive neste momento da economia brasileira”, analisou.Gualda disse que oendividamento também atinge a faixas de renda mais baixas. “Hoje o mercadoinduz e as pessoas acabam consumindo alem das suas possibilidade. Cria-se umasigtuação muito dificil. Fazer um bom planejamento do orçamento familiar é amelhor receita para se manter equilibrado”.