Spensy Pimnentel
Enviado especial
Caracas (Venezuela) - Três diplomatas do Ministério das Relações Exteriores integram a delegação brasileira na etapa americana do 6° Fórum Social Mundial em Caracas, na Venezuela. Segundo o conselheiro Milton Rondó, da Secretaria Executiva do Itamaraty, essa presença está relacionada à importância concedida no atual governo à relação com os movimentos sociais, mas também indica uma tendência geral da diplomacia.
"Com esse acompanhamento, estamos cumprindo as diretrizes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que tenhamos neste mandato uma democracia participativa", explicou. "Neste governo, acreditamos que as coisas se fazem assim. De um modo geral, os povos de todo o mundo caminham para uma democracia cada vez mais ampliada."
Rondó chefia a Coordenadoria-Geral de Ações Internacionais de Combate à Fome, criada em 2004. Especificamente, o trabalho no fórum está relacionado à articulação do governo para organizar a Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, que deve ser promovida em março pelas Nações Unidas em Porto Alegre.
A própria realização da conferência, a cargo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), está de alguma maneira relacionada à importância que o governo tem dado ao diálogo com a sociedade civil e o Fórum Social Mundial, diz Rondó. Por isso, o encontro em Porto Alegre será realizado no prédio da Pontifícia Universidade Católica (PUC), onde ocorreram os quatro fóruns que a cidade sediou.
Para o diplomata, o acompanhamento do fórum já é uma politica de Estado e "um dos principais pontos de diálogo com a sociedade civil internacional". O motor disso tudo é a força da sociedade civil no Brasil. Temos alguns dos movimentos sociais mais importantes do mundo, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST)".
Rondó adverte que essa diretriz de diálogo com a sociedade civil é uma tendência, mas não é automática. "Nós já tivemos avanços e recuos nesse campo na própria história do Brasil. Claro que há interesses no país de que não exista essa participação", diz ele.
O diplomata explica que o governo reconhece inclusive a importância da dinâmica horizontal do fórum, que evita tirar conclusões ou fazer votações em assembléia para determinar medidas a serem seguidas pelos movimentos. Ele acredita que a análise que se faz costumeiramente de que o fórum é pouco efetivo porque não apresenta "resultados" é conseqüência de uma visão deturpada . "Infelizmente, hoje, a análise que se faz é contaminada pelo economicismo dominante que nós herdamos do neoliberalismo. A vida não é assim, não é uma construção contábil."
Para Milton Rondó, o mais importante do fórum é o contato que ele proporciona entre os ativistas do mundo todo. "O espaço do fórum serve para isso mesmo, para globalizar a luta. A luta dos oprimidos pela liberdade é bem parecida em todo o mundo. Ter contato com isso pode mudar a visão que as pessoas têm do mundo."