No Fórum Social, Dulci reconhece necessidade de "avançar mais na discussão do modelo agrícola"

27/01/2006 - 16h36

Spensy Pimentel
Enviado especial

Caracas (Venezuela) – O Brasil precisa avançar em suas posições nas negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC), comentou hoje (27) o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci. Segundo Dulci, isso incluiria a discussão do modelo de agricultura praticado no mundo, e não apenas sobre a liberalização do comércio agrícola.

"Precisamos avançar mais na discussão do modelo agrícola", disse ele, concordando com apontamento da ativista norte-americana Lori Wallach, durante evento no 6º Fórum Social Mundial. "O mundo pode continuar explorando seu potencial ambiental dessa forma, na perspectiva da produção de alimentos? O modelo deve continuar sendo organizado dessa maneira?"

No debate "Globalização, Poder e Desenvolvimento: O Desafio de Construir Uma Nova Ordem Econômica Mundial", Wallach apontou contradição entre a fala de grupos da sociedade civil brasileira a respeito das negociações de comércio internacional e o discurso do governo nas discussões na OMC, na última reunião ministerial da entidade, em dezembro.

Ela citou o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que aponta que a liberalização do comercio agrícola beneficia muito mais o agronegócio e as multinacionais que os agricultores pobres, além de ignorar fatores ambientais.

Segundo Dulci, há, sim, beneficio para os pequenos agricultores com a mudança nas regras do comércio. Ele citou o fato de que, com a vitória brasileira contra os subsídios norte-americanos ao algodão, foram beneficiados principalmente países pobres da África. Também afirmou que 20% das exportações agrícolas brasileiras são de produtos da agricultura familiar.

O ministro destacou também o caráter inovador do G-20, grupo formado pelo Brasil com outros grandes países em desenvolvimento para defender uma proposta de liberalização do comercio agrícola na OMC. "Criou-se um fórum de países que representa 60% da população do planeta e, pela primeira vez, está forçando os países hegemônicos do mundo a debater as regras comerciais do planeta. E regras comerciais não são questão de teoria econômica, dizem respeito à sobrevivência de milhões", afirmou o ministro.

Wallach tinha afirmado que o G 20 – criado em 2003 –, apesar de ser inovador na "forma" de articulação, apresenta conteúdos muito semelhantes ao que já vinha sendo visto na OMC. Ela também alertou que, ao tomar parte dos debates na OMC, mesmo países com "governos mais progressistas", como o Brasil, ajudam a resgatar o crédito da organização, caindo no jogo de Estados Unidos, Japão e Europa, que são os únicos beneficiados do sistema atual da forma como ele existe atualmente.

A norte-americana representa a organização Public Citizen, que, entre outras atividades, busca divulgar para o público em geral os documentos que são discutidos em reuniões internacionais de negociação comercial. No sitio de internet www.tradewatch.org, disse ela, é possível encontrar uma análise do documento debatido no último encontro da OMC, em Hong Kong.

No fim do debate com Dulci, Wallach afirmou admirar a possibilidade de participação popular que governos como o do Brasil e da Venezuela oferecem a sociedade. "Nos Estados Unidos, o governo nunca vai nos ouvir, mas vocês têm realmente um debate sincero do qual podem participar. É fantástico trabalhar com a sociedade civil em países onde ha esse espaço", disse.

O debate foi promovido pelo Centro Celso Furtado, em parceria com o Processo Helsinque e a Plataforma Global dos Cidadãos.