Fórum realiza Corte Internacional de Mulheres contra violência patriarcal

27/01/2006 - 19h03

André Deak
Enviado especial

Caracas (Venezuela) – Centenas de mulheres que vieram ao 6º Fórum Social Mundial participam hoje (27) durante todo o dia da Corte Internacional de Mulheres – Contra a violência patriarcal do neoliberalismo.

O encontro acontece na principal sala do teatro Teresa Carreño, um dos maiores espaços do fórum, com capacidade para 2,4 mil pessoas. Até este momento, dezenas de mulheres de várias partes do mundo passaram pelos microfones, com depoimentos sobre as violências que sofrem em seus países.

A peruana Tica Luiza Obregón, por exemplo, revelou que 300 mil mulheres de seu país sofreram esterilização forçada. "Durante o mandato do [ex-presidente Alberto] Fujimori [1990-2000] mulheres que iam ao posto de saúde por causa de uma gripe, por exemplo, recebiam as mais diversas formas de infertilização forçada. Algum tempo depois, percebiam que não engravidavam. Muitas, até hoje, não sabem que foram esterilizadas".

Sob o argumento de que, para reduzir a pobreza era preciso um controle de natalidade dos pobres, o "programa de saúde" de Fujimori, com apoio de organismos internacionais, segundo Luiza Obregón, promoveu um verdadeiro "genocídio, para levar ao desaparecimento da população andina, que já começou a diminuir".

A norte-americana Cheri Honkala, ex-moradora de rua, contou que foi presa diversas vezes por evitar que seu filho morresse de frio. Sem opção, ela entrava em casas abandonadas para abrigar-se. "Os Estados Unidos têm mais casas abandonadas do que pessoas sem-teto", contou.

Através desses e de diversos outros testemunhos, as mulheres revelam estratégias pessoais que contribuem para formar uma cultura de resistência. Por exemplo, a salvadorenha que organizou sindicatos contra empresas chinesas que exploravam mulheres em seu país (as chamadas maquilladoras, fábricas de produtos de marcas famosas que usam mão-de-obra barata em países subdesenvolvidos). "Não podíamos ir ao banheiro, grávidas não podiam fazer exames, e recebíamos castigos se não atingíssemos a meta", contou.

A violência causada pela guerra às mulheres também foi enfocada, desde a guerra do Iraque, com a presença da ativista Cindy Sheehan, que perdeu seu filho, até mulheres envolvidas nos conflitos da Colômbia. "Na guerra, o corpo das mulheres é apenas mais um botim, como a terra ou os animais", disse uma delas, enquanto suas companheiras cantavam "nós, mulheres da Colômbia, não parimos filhos para lutarem a guerra".