Reajuste do mínimo deve reduzir linha de pobreza, estima economista da FGV

25/01/2006 - 18h28

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio – Na avliação do economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcelo Néri, o reajuste do salário-mínimo, que o aumentará dos atuais R$ 300 para R$ 350, pode vir a reduzir o índice de miséria no Brasil, retornando, inclusive, ao patamar registrado em 1995, quando, apenas no mês de maio, houve redução de 10%. "Não quero falar em um número específico, mas acho que pode ser dessa magnitude", avaliou. "Temos estudos que mostram que sempre que o salário mínimo sobe, a pobreza cai em vários momentos", disse hoje (25), em entrevista à Agência Brasil

Segundo ele, está se observando uma redução real de pobreza comparável à verificada nos dois primeiros anos do Plano Real, em que boa parte da queda da pobreza se deu em função do reajuste do mínimo ocorrido em 1995. À época, acrescenta o economista, o mínimo foi elevado em 42%, passando de R$ 70 para R$ 100, "e a pobreza sofreu uma mudança forte nessa data, caindo 10% somente no mês de maio".

Néri estima que o "efeito redutor de pobreza" se dará "não tanto pelas vias do mercado de trabalho, de aumentar os salários das pessoas, mas muito mais pelos efeitos sobre Previdência, porque 60% dos benefícios previdenciários são atrelados ao mínimo".

No entanto, o economista pondera que, embora o reajuste gere impacto importante sobre a pobreza, por outro lado ele também "estoura as contas públicas". Ele ressaltou que existem outras políticas públicas que têm mais impacto sobre a pobreza que não a do salário-mínimo, dentre as quais, o programa Bolsa-Família. "Mesmo sem levar em conta o fato de que os recursos do programa estão condicionados à freqüência escolar, só o efeito de curto prazo, de botar dinheiro na mão das famílias, o efeito de cada real gasto no Bolsa-Família é superior ao do salário-mínimo", observou.

Ele estima, ainda, que no ano passado, apesar de não haver um dado consolidado, a pobreza caiu tanto quanto em 2004. "Em 2006, acho que em função desse reajuste do mínimo, da continuidade da expansão do Bolsa-Família e da própria geração de emprego, embora em um nível mais fraco agora, a pobreza vai cair como no Plano Real".

Ele lembrou que sua projeção se baseia em três formas de renda: do trabalho, tanto formal como informal, que o próprio salário mínimo impulsiona; previdência social; e a expansão do Bolsa Família.