Vereador diz que confessou assassinato de seringueiro em Rondônia para proteger inocentes

24/01/2006 - 9h49

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil

Manaus - O vereador licenciado de Vale do Anari (RO), Walter Bispo, afirmou hoje (24) à Radiobrás que confessou o assassinato do presidente da Associação de Seringueiros do Vale do Anari (Asva), João Batista, porque temia que inocentes fossem punidos pelo crime. "Confessei realmente porque as pessoas que os policiais queriam punir não tinham nada a ver com a história, não deviam".

Apesar de ter admitido no último dia 4, em depoimento, que pagou R$ 1.500 para que um homem conhecido apenas como Ismael matasse o líder seringueiro com quatro tiros no peito, Bispo continua a ocupar o cargo de secretário de Obras do município. Em declarações anteriores, o prefeito João Alves, do Partido dos Trabalhadores (PT), afirmou que o crime, ocorrido no dia 26 de dezembro, não tinha relação com a administração. "Até agora ando pelas ruas normalmente, não tenho encontrado dificuldades", garantiu o acusado.

Na entrevista, o vereador reafirmou o que já havia declarado à polícia: que o crime teve motivação passional. "Comecei a sair com a ex-mulher de Batista e ele me jurou de morte. Comentei com um amigo que eu estava vendo a hora de ter que deixar a cidade, largar o emprego. Aí ele me sugeriu o assassinato", contou. "Eu estava entre a cruz e a espada".

A Organização de Seringueiros de Rondônia (OSR), que agrega 10 associações extrativistas, não acredita nessa versão. Para a entidade, a cobiça pelas riquezas naturais da Reserva Extrativista (Resex) Estadual do Acariquara são a verdadeira razão do assassinato. A vítima denunciava a exploração ilegal de madeiras nobres, manganês e a grilagem na área.

Em setembro de 2005, já recebendo ameaças anônimas de morte, Batista esteve em Brasília e entregou à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, um documento em que relatava os conflitos na região. "O problema é outro, não tem nada a ver com a reserva", rebateu Bispo. "Mas o que eu posso falar é que o Batista tinha muitos problemas com os seringueiros".

O acusado, que responde ao processo em liberdade, acredita que o julgamento só deverá acontecer em um ano. Ele declarou que não sabe se será preso, que está arrependido e que prefere não pensar no assunto. "Quem não se arrepende? Tenho 45 anos, sem passagem pela polícia. Nunca fui preso nem processado".

Bispo pediu afastamento do cargo legislativo há 50 dias, justamente para assumir a secretaria municipal de Obras. Ele foi eleito pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). O suposto autor dos disparos ainda está sendo procurado pela polícia.