Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O aumento do salário mínimo para R$ 350 terá um impacto positivo na atividade econômica ao longo do ano, depois que o reajuste for aplicado em abril. A avaliação é do professor da Faculdade de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), Cláudio Deddeca. Para ele, a justificativa para esse cenário é a forte concentração dos reflexos do salário mínimo no mercado de trabalho. Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) comprovam que cerca de 40 milhões de pessoas, entre trabalhadores, pensionistas e empregadores, têm seus rendimentos baseados no salário mínimo.
"O reajuste não é pequeno, representa 12% de aumento real, ou seja, já descontada a inflação. Só para se ter uma idéia do impacto disso no salário de quem recebe o mínimo, cálculos indicam que o salário mínimo duplicaria, num período de oito anos, se esse percentual fosse aplicado todo ano", observou. Na opinião de Deddeca, a nova composição reflete ainda a disposição do governo em valorizar o salário mínimo. "Favorece a economia porque quem recebe mais vai gastar mais. Além de ser diferente do aumento da dívida pública, onde o dinheiro não circula no meio produtivo, só no mercado financeiro", disse.
O professor lembra ainda que o reajuste do mínimo trará ganhos como o aumento de arrecadação e da produção. Outra conseqüência que ele vislumbra é o aumento do piso salarial de categorias que não têm o mínimo como referência. "Em economia, dizemos que o mínimo é como um farol do mercado de trabalho. Outros também vão ter aumento na remuneração, mesmo que seu salário não tenha relação com o mínimo", explicou. Pesquisa nacional do Dieese mostra que, dos 175 pisos salariais avaliados, 46 são corrigidos em valores equivalentes ao mínimo, quando o valor é reajustado.
Deddeca lembrou que o aumento da atividade econômica, proporcionado com a maior injeção de recursos provenientes do reajuste, pode ainda equilibrar o impacto negativo que o novo valor teria na folha da Previdência Social. "A previdência no ano passado, quando o mínimo passou de R$ 260 para R$ 300, absorveu bem o impacto. Se a gente observar bem, vai ver que as receitas e as despesas caminharam bem. O governo também vai arrecadar mais", avaliou.
O economista registrou que as únicas vozes contrárias ao aumento seriam as famílias que empregam trabalhadores domésticos e as prefeituras. "É, de toda forma, algo localizado. No caso das famílias, acho que o governo poderia criar uma política compensatória, porque é realmente pesado. As famílias não estão conseguindo aumentar sua renda na mesma proporção", concluiu.