André Deak
Enviado especial
Caracas (Venezuela) – O venezuelano Rafael Uzcátequi, um dos organizadores do Fórum Social Alternativo, acredita que a 6ª edição do Fórum Social Mundial (FSM) de Caracas pode gerar um afastamento entre os movimentos sociais do país. Segundo ele, muitos grupos que têm enorme interesse em participar do evento oficial não participam do Fórum oficial.
"Esse é o Fórum do [presidente venezuelano] Hugo Chávez. Existem as organizações [venezuelanas] que estão no FSM e estão com Chávez e há as outras, que podem não concordar com a oposição, nem com Chávez, mas estão fora do evento", avalia Uzcátequi.
Ele conta que já existe até mesmo um termo para definir essa parcela da população: "los ni ni. Ni con el gobierno ni con la oposición" [nem com o governo, nem com a oposição]. "Não que sejam despolitizados. Só que não concordam com um lado nem com o outro", explica o organizador do Fórum Alternativo.
De acordo Uzcatéqui, a sociedade venezuelana ficou dividida depois de 2002, quando em abril houve o fracassado golpe (promovido por empresários, partidos de direita, membros do exército e sindicatos) que tirou Chávez da presidência por 44 horas – fracassado graças à mobilização popular. "Há um maniqueísmo tremendo. Se você não está com Chávez, faz parte da oposição golpista. Se não está com a oposição, é chavista", lamenta.
Segundo ele, quando diversas organizações sociais perceberam que o FSM seria "muito próximo" ao governo, "sem possibilidade de discussão", elas optaram por ficar fora. E essa divisão, na opinião de Uzcátequi, poderá ser mais um elemento do "maniqueísmo" que divide a Venezuela.