Spensy Pimentel
Enviado especial
Caracas (Venezuela) - A definição sobre o padrão que o Brasil adotará no processo de digitalização das transmissões de televisão e rádio pode ser chave para o futuro da América Latina no que tange à democratizacao da comunicação e o desenvolvimento tecnologico autônomo. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, já anunciou que o Brasil escolhe até o próximo mês o padrão da TV digital. Hoje, existem no mundo três sistemas diferentes – o americano (ATSC), o japonês (ISDB) e o europeu (DVB) – desenvolvidos a partir dos interesses de cada país.
A avaliação do ativista argentino Nestor Busso, da Associação Latino-Americana de Educação Radiofônica (Aler), defende que a escolha do novo sistema leve em conta a questão política da integração da América Latina. "Nossos países têm que definir como questão política a norma para as novas tecnologias digitais. Nesse sentido, dado o atual movimento de integração do continente, seria muito importante que se criasse uma norma latino-americana", afirma.
A entidade de que participa Busso integra uma frente latino-americana de movimentos ligados a bandeiras como a democratização da comunicação e o direito humano à comunicação e a informação. Apesar de alertar para o perigo, Busso diz confiar que o pais vá adotar uma solução tecnológica autônoma. "Penso que o brasil nao vai ceder", afirma. Segundo ele, a adoção pelo Brasil de um padrão de digitalização como o norte-americano "seria uma grande perda, seria lamentavel".
As escolhas sobre a TV digital influenciam diretamente o número de emissoras novas que poderão estar disponíveis para os brasileiros. Caso o novo sistema fique situado na faixa de 6 megahertz isso permite que um único canal analógico seja desmembrado em outros 4. Essa é uma das principais reivindicações das empresas, porque poderia ampliar as opções de canal para cada concessão já existente e, ao mesmo tempo, limitar o número de novos donos e concorrentes.
A definição do padrão a ser adotado, lembra Busso, é importante porque a nova tecnologia pode significar ou não uma ampliação do número de canais disponíveis para transmissão. "Mais canais serão mais vozes que poderemos ter no espectro", diz. Além disso, Nestor Busso defende padrões comuns para buscar vantagens na integração. "Se tivermos uma tecnologia comum, vamos poder intercambiar conteúdos, produzir nossos conteúdos sem ser apenas invadidos por o que vem de fora."
Busso pede pressa na definição pelo governo brasileiro. Ele diz que o padrão norte-americano de TV digital está avançando na América Latina. Na Argentina, por exemplo, diz que já estão sendo feitas transmissões comerciais utilizando-se esse padrão.
A situacão da Espanha, diz Busso, serve como alerta para o continente. Por lá, diz ele, já foi decretado arbitrariamente que o "apagão analógico", ou seja, a passagem completa das transmissões para o modo digital, acontecerá em 2009.
A nova tecnologia para a televisão pode combinar as características tradicionais com algumas das funcionalidades dos computadores, transformando a televisão em uma mídia interativa. Essa interatividade possibilitará, inclusive, usos como correio eletrônico, governo eletrônico, informações e transações bancárias.