Projeto de desenvolvimento nacional precisa levar em conta relações no continente, diz Garcia

25/11/2005 - 13h56

Priscilla Mazenotti
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Um projeto de desenvolvimento nacional traçado nos dias de hoje deve considerar, necessariamente, a relação entre o Brasil e os outros países do continente latino-americano. A opinião é do assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia. "O projeto tem de dar um espaço extraordinário para a relação continental", disse ele.

Junto com representantes de outros três países da América – México, Chile e Argentina –, Marco Aurélio Garcia participou, hoje (25), de seminário em homenagem ao intelectual Celso Furtado, morto no ano passado.

Para Garcia, existem cinco grandes questões, além da continental, para definir um projeto de desenvolvimento nacional: o desenvolvimento tecnológico, o equilíbrio macroeconômico,a redução da vulnerabilidade externa da economia, o aprofundamento das reformas institucionais e a expansão e constituição de um espaço público no País, bem como a valorização do mercado interno por meio da política de distribuição de renda. Na opinião de Garcia, essa distribuição não acontecerá em função do crescimento. Será, sim, causa desse crescimento.

"Há que se inverter aquela metáfora de que o bolo precisa primeiro crescer para distribuir depois. Nós temos certeza hoje que um novo modelo de desenvolvimento implica, como um dos fatores de crescimento do bolo, a sua distribuição prévia, se é que essa inversão me é permitida fazer", disse.

Para Garcia, Celso Furtado sempre foi um homem "debruçado sobre esses paradoxos de desenvolvimento". "Ele combina crescimento com distribuição de renda e como isso se dá num marco de equilíbrio fiscal. Ele, sobretudo, foi alguém que teve um olhar extremamente atento para a América Latina", destacou.

Participando da mesma mesa que Garcia, o economista argentino Aldo Ferrer falou sobre os desafios na constituição de um projeto de desenvolvimento nacional hoje, em seu país. Ele lembrou a recente crise vivida pelos argentinos e a situação complexa que dela resultou. No início de 2002, disse, chegaram a coexistir no país 17 diferentes moedas, emitidas pelos governos provinciais, em função da crise do sistema monetário nacional."Os prognósticos acerca do futuro, nesse momento, eram apocalípticos, mas os acontecimentos tomaram outro curso 44 meses depois: a democracia Argentina e as instituições suportaram a crise", disse.

Já o assessor especial da Comunidade Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) Álvaro Diaz disse que, no Chile, apesar da relativa estabilidade econômica do país nos últimos 15 anos, os desafios são muitos. Entre eles, a escolha entre uma política externa que continue a estabelecer negociações bilaterais de comércio (segundo ele, o Chile tem hoje 30 Tratados de Livre Comércio - TLCs) ou a opção pela integração regional em bloco, como acontece no Mercosul.

Hoje à tarde, o seminário reúne diversos pensadores no debate "Crescimento e Distribuição de Renda". Entre os participantes, estão o professor da Unicamp Márcio Pochmann e o conselheiro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Clemente Ganz Lúcio. No encerramento do evento, haverá depoimentos sobre o pensamento de Celso Furtado.