Conferência de Saúde do Trabalhador começa na busca política integrada e universal

24/11/2005 - 23h12

Aloisio Milani
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Com a presença de mais de mil pessoas, entre trabalhadores, usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), profissionais da previdência e da fiscalização do trabalho e representantes do governo federal, começou a 3ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador. Esta é a primeira vez em que o encontro deliberativo é convocado por três ministérios diretamente relacionados com o tema – Saúde, Previdência e Trabalho. Para o governo, as centrais sindicais e os usuários do SUS, isso representa um avanço por apontar uma integração das políticas públicas voltada para os trabalhadores.

Um dos principais desafios do encontro, que se realiza depois de 11 anos da segunda conferência, é discutir e aprovar a Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador. O objetivo é enfrentar um panorama crônico sobre mortes e acidentes no país. A cada hora, três brasileiros sofrem acidentes durante suas atividades ou nos trajetos de ida e volta dos locais de trabalho. Ao mesmo tempo, duas mortes acontecem a cada três horas. Os dados se referem apenas aos trabalhadores com carteira assinada, que representam menos da metade da população economicamente ativa do país.

Na abertura da conferência, o ministro da Previdência, Nelson Machado, classificou esses números como "estarrecedores". "Os acidentes de trabalho não somente afetam a produtividade econômica, mas também são responsáveis por um impacto sobre sistema de proteção social e sobre os próprios trabalhadores", afirma.

Machado estima que a ausência de segurança nos ambientes de trabalho tenha gerado, em 2004, um custo de R$ 37,2 bilhões para o país. Desse total, R$ 9,2 bilhões correspondem aos gastos com benefícios acidentários e aposentadorias especiais da Previdência. O restante, segundo ele, é gasto com assistência, treinamento, reinserções no mercado de trabalho.

Já o ministro da Sáude, Saraiva Felipe, reforçou o compromisso do governo Lula de ampliar para 200 o número de centros de referência em saúde do trabalhador, unidades que incentivam a prevenção, a vigilância e o atendimento especializado para as diversas doenças, como intoxicações e lesões crônicas.

O primeiro depoimento da cerimônia foi do representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e membro do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Jesus Garcia, que leu a íntegra de um artigo do então deputado constituinte Luiz Inácio Lula da Silva há 18 anos. O atual presidente da República, que não compareceu à abertura da conferência, escreveu à época sobre a gravidade dos acidentes de trabalho no Brasil. Após a leitura, Garcia avaliou que a situação do trabalhador mudou pouco desde aquela época, mas reforçou a confiança nas soluções coletivas do encontro.

O encontro também marca o lançamento do Observatório de Saúde do Trabalhador e da Biblioteca Virtual que, segundo o Ministério da Saúde, pretende qualificar as discussões e propiciará informações sobre as políticas públicas do SUS em todos os estados brasileiros. A conferência tem a participação de mais de mil delegados de todo o país e termina no próximo domingo (27).