Carlos Lessa alerta para distorções nas políticas sociais e econômicas

25/11/2005 - 17h52

Brasília, 25/11/2005 (Agência Brasil - ABr) - O ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carlos Lessa, disse hoje (25) que as políticas sociais e econômicas de governo chegaram a um grau de distorção tão grave que o Estado paga R$ 145 bilhões/ano para 7 milhões de pessoas que detêm Títulos da Dívida Pública e, ao mesmo tempo, desembolsa R$ 7 bilhões para o pagamento de Bolsa Família a 8 milhões de famílias.

"São migalhas insignificantes", afirmou. Reconheceu, no entanto, que o Bolsa Família tem melhorado, efetivamente, a qualidade de vida da população mais pobre.

Durante seminário no Senado em homenagem ao economista Celso Furtado, que morreu no ano passado, Carlos Lessa, que é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, destacou o lento crescimento da economia brasileira nos últimos 25 anos. E ressalvou que o país passou por intensas transformações que o transformaram no quarto maior produtor de grãos do mundo, mas tem 10 milhões de agricultores em situação de miséria.

Segundo o economista, esses brasileiros "ainda vivem no século 18" em qualidade de vida. Ele questionou o processo de internacionalização de algumas culturas relevantes para a agricultura brasileira. E citou como exemplo a soja – só a produção e o transporte são nacionais, já que a semente é controlada por uma multinacional, a Monsanto, e a exportação é feita por quatro empresas estrangeiras. "Até o maquinário é fornecido por subsidiárias estrangeiras", disse.

Nos centros urbanos, Lessa alertou para a segregação social cada vez mais intensa e disse que a proliferação de "condomínios e shopping centers pode gerar um tipo de juventude criada nestes espaços: para eles, tudo o que estiver de fora será estrangeiro".

Ele lembrou ainda que pesquisas já demonstram redução no número de jovens do sexo masculino entre 16 e 30 anos de idade, como conseqüência da baixa expectativa de vida da população mais pobre que se envolve com o crime organizado, especialmente o narcotráfico, e morre prematuramente.