Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio – Mais da metade da população das regiões Sudeste e Centro-Oeste do país trabalham no setor de serviços, segundo os números revelados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2004 (PNAD), divulgada hoje (25), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para o professor de economia da Universidade de Campinas (Unicamp), Márcio Pochmann, isto também ocorreu nos anos 50 em países desenvolvidos que experimentaram o processo de industrialização.
O processo, segundo Pochmann, deve continuar acontecendo no Brasil, onde a agricultura já não absorve toda a mão-de-obra, que migra das áreas rurais em busca de trabalho nas grandes metrópoles.
O economista explica que "o Brasil ainda tem uma população relativamente grande no campo, e considerando que a indústria hoje já não é grande portadora de expansão de mão-de-obra, aqueles trabalhadores que se deslocam do campo para a cidade terminam tendo como alternativa o setor de serviços, na maior parte das vezes, de remuneração mais baixa em relação a serviços mais qualificados".
Para Pochmann, de uma maneira geral, o Brasil está praticamente condenado a ter que conviver com estes deslocamentos do homem do campo para as grandes cidades. "A intensidade desta migração, porém, é que vai depender das políticas voltadas para as áreas rurais do país. A agricultura familiar é um exemplo a ser citado e que pode perfeitamente fazer com que o ritmo deste deslocamento seja menor".
Como exemplo de medidas que podem amenizar o êxodo rural, o professor citou as ações implementadas pelo governo, vinculadas às alterações na estrutura fundiária do país. "Estes fatores ajudam a evitar que mais pessoas se desloquem para as áreas metropolitanas".
Ainda na avaliação do economista, a concentração de trabalhadores com baixo grau de instrução no setor de serviços e comércio é um fenômeno que deverá continuar acontecendo. "Se nós olharmos as grandes cidades, como São Paulo, veremos que, em cada dez postos de trabalho, sete estão no setor terciário (serviço e comércio)", exemplifica.
Porchman, no entanto, ressalta duas das grandes vantagens que o país tem: ainda disponibiliza de terras a serem ocupadas e possui uma grande vocação para o desenvolvimento de energias alternativas. "O Brasil, que tem 30 anos de experiência em combustível alternativo (no caso do álcool), com a crise na matriz energética do petróleo, pode aproveitar-se desta situação para tentar reduzir o êxodo rural".
Outra alternativa, segundo Pochmann, é o desenvolvimento de culturas voltadas para os países orientais que estão adquirindo hábitos ocidentais. "Países como a China e a Índia estão praticamente ocidentalizando o seu padrão de consumo. Vem utilizando mais óleo de soja, entre outros produtos, abrindo uma perspectiva boa para o Brasil como produtor destes itens para atender a este novo mercado."