Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil
Manaus - A criação de gado é um dos grandes vilões do meio ambiente na várzea amazônica – mas, ao mesmo tempo, uma das principais fontes de renda dos ribeirinhos. No Careiro da Várzea, vizinho a Manaus, as terras inundáveis durante parte do ano (a várzea) são 90% do território e a pecuária leiteira familiar é principal atividade econômica do município.
Por isso, desde fevereiro de 2005 (e durante três anos), o projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (ProVárzea/Ibama) está apoiando o subprojeto "Melhoria da cadeia produtiva agropastoril do município", executado pela Cooperativa Agropecuária Mista do Careiro da Várzea (Copvárzea). "É um trunfo você contar com apoio dos ambientalistas, que tradicionalmente combatem a pecuária na Amazônia. Mas nesse projeto estamos justamente desenvolvendo formas de manejo adequado dos animais, sem causar danos ao meio ambiente", disse o gerente local do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas (Idam), Ofir de Souza Hage, em entrevista hoje (25) ao quadro "Meio Ambiente", veiculado todas as sextas-feiras no programa Ponto de Encontro , da Rádio Nacional (Amazônia) .
São quase R$ 289 mil de investimento do ProVárzea/Ibama, que é um subprojeto do Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e financiado pela cooperação internacional. A contrapartida da cooperativa é de R$ 204,5 mil. A verba já possibilitou a compra de um carro e uma voadeira – e está financiando a criação de um viveiro de mudas de essências florestais e experiências com inseminação artificial.
Além disso, há seis propriedades particulares, distribuídas por todo o município, que servem como experimentos de criação do gado de forma intensiva, utilizando apenas áreas já degradadas. "Cada propriedade tem oito hectares com oito piquetes, divididos por cerca elétrica. O gado vai sendo transferido para cada piquete. Só no fim do mês volta ao piquete inicial. Com a rotatividade, dá tempo para refazer a pastagem natural, já que a terra de várzea é bem fértil, adubada pelos rios", explicou Hage. Esse sistema abriga até 40 cabeças de gado e não funciona durante três meses do ano, no auge das cheias (geralmente, de fevereiro a abril). Nesse período, o gado fica solto, nas terras mais altas, não inundáveis (as chamadas terras firmes).
A Copvárzea surgiu há dois anos e tem 34 associados. Na quarta-feira (23) começou a funcionar a fábrica de laticínios construída pela cooperativa, que deve fornecer queijo para a merenda das escolas estaduais do Amazonas.