Morte de Bem-te-vi não altera rotina na favela da Rocinha, diz líder comunitário

30/10/2005 - 12h47

Rio, 30/10/2005 (Agência Brasil - ABr) - A rotina da favela da Rocinha, na zona Sul da cidade, não foi alterada após a morte do chefe do tráfico de drogas local, Erismar Rodrigues Moreira, conhecido como Bem-te-vi, na madrugada de ontem (29).

De acordo com o presidente de uma das associações de moradores da Rocinha, Carlos Costa, a situação está aparentemente calma, o comércio funciona normalmente e não existe reforço policial na comunidade – estão mantidas apenas as três bases da polícia instaladas no local.

A comunidade, diz Costa, já está acostumada ao "rodízio de poder no tráfico" e "foi apenas mais um ator a sair de cena: aqui já se sabe como fica a sucessão antes mesmo de o chefe morrer". Ele afirmou, no entanto, que não cabe aos moradores emitir juízos sobre o processo de sucessão. "A nossa preocupação é continuar exigindo que a polícia faça o seu trabalho, mas respeitando a nossa comunidade, sem violência contra os moradores".

Carlos Costa avaliou como positiva a atuação da polícia na busca pelo traficante, na chamada Operação Tróia, em que policiais se infiltraram na comunidade e inclusive moraram no local por um tempo. "A operação foi planejada e bem-executada. Foram quase 15 dias de trabalho até a realização da incursão policial de sábado. E, principalmente, não houve perdas de vida de trabalhadores, como vem acontecendo há anos nesses tipos de operações".

Ele lamentou, contudo, o que ele considerou como ênfase exclusiva na figura do traficante por parte dos meios de comunicação: "As fotos de primeira página dos jornais eram do Bem-te-vi morto. O tráfico, mais uma vez, acabou sendo o protagonista na nossa comunidade. Ficou parecendo que ele foi o herói dessa operação".

E disse esperar esperar que a atuação da polícia na comunidade passe a seguir uma linha de respeito: "Só vi, nos jornais, fotos de autoridades da Secretaria de Segurança. A morte do Bem-te-vi foi um troféu, levantado pelo presidente do clube e não pelos jogadores".