Impacto do câmbio na economia é "jogo complexo", diz Abracex

16/05/2005 - 19h52

Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – O impacto da desvalorização do dólar na economia brasileira é "um jogo complexo" e as repercussões nas exportações e no emprego não são imediatas, segundo análise do superintendente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Benedito Pires de Almeida.

"É difícil fazer uma mensuração de tempo, de quanto tempo vai levar essa conseqüência de desemprego por causa dessa crise (cambial) mas, no momento em que alguns segmentos começarem a segurar a produção e reduzirem a exportação – e como a demanda no mercado interno sofre, também, pressões psicológicas e vai retrair – não tenha dúvida (de) que haverá acordos ou demissão intempestiva dos segmentos mais afetados. É coisa de seis meses, no máximo, para estarmos em uma situação que pode alarmar um pouco", disse à Agência Brasil.

O superintendente da Abracex alertou, também, para outro problema decorrente da desvalorização do dólar: a perda de clientes. Ele informou que existem alguns produtos produzidos no Brasil, que atendem a uma demanda já indicada e mantida pelo comércio exportador. Por outro lado, há segmentos que já estão ficando em uma "linha perigosa".

"A taxa de câmbio, com o fortalecimento do Real, já não dá a rentabilidade, o lucro que a exportação vinha garantindo", explicou. Segundo Pires de Almeida, alguns segmentos industriais, como o setor calçadista, já reclamam de falta de rentabilidade e têm dificuldades em atender à demanda externa.

"Estes setores já estão começando a perder clientes e abandonar o fornecimento e aí surge um problema muito sério também: para conquistar um mercado, é difícil; e para reconquistar, é muito mais difícil", observou. "Programas de investimento que estavam realizados ou imaginados estão em compasso de espera, porque também a política de juros está complicando".

A política de câmbio flexível, lembrou o superintendente da Abracex, é reivindicação antiga do setor empresarial e, por isso, deveria ser mantida. O problema, segundo ele, reside nos juros elevados. "Isso realmente assusta os empresários, torna os custos proibitivos e, com o câmbio valorizado, torna o nosso produto mais caro, que perde a competitividade no mercado externo. Esse é o quadro", observou.