Declaração final da Cúpula vai focar agenda social, sem deixar de lado temas ''difíceis''

06/05/2005 - 20h59

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agencia

Brasília – A Cúpula de América do Sul e Países Árabes não vai se restringir a discursos e negociações. O evento, que começa na próxima segunda-feira, também servirá para o lançamento de uma declaração conjunta dos 34 países pertencentes aos dois blocos regionais.

O embaixador Pedro Motta, diretor do Departamento de África, revelou hoje (06) que o documento terá como foco principal a agenda social, com previsão de parceria em áreas como agricultura, meio ambiente, combate à fome e à pobreza. "Isso não significa que vamos deixar de fora temas considerados difíceis como terrorismo, situação do Iraque e da Palestina", avisa Motta.

A declaração vem sendo negociada há vários meses e deve ter uma redação final no próximo domingo, durante encontro entre chanceleres. Em seguida, será submetida à avaliação dos chefes de estado, governo e outros chefes de delegação. O Itamaraty acredita que todos eles irão apoiar o projeto do governo brasileiro de buscar financiamento para o combate à pobreza.

Como a maior parte dos países árabes e sul-americanos fazem parte do grupo de países em desenvolvimento, a declaração também deve trazer reivindicações de mudanças no comércio internacional. No aspecto político, as discussões serão conduzidas com mais cautela.

"Não temos a pretensão de apresentar soluções para conflitos no Oriente Médio. Qualquer posição colocada na declaração não irá além do que já foi acordado na ONU", ressalta o diretor de Departamento de África. "A mensagem que estamos enviando ao mundo é que duas regiões podem se entender e trabalhar de forma positiva. Se pudermos mudar a geografia econômica mundial, dar uma sacudidela, tanto melhor."

Sobre a presença de países que vivem em regimes autoritários, o diretor do Departamento de Promoção Comercial, Mário Vilalva, lembrou a relação próxima entre religião e política no bloco árabe. A Cúpula não será um fórum para discutir esse aspecto. O Brasil não pretende interferir na política interna dos participantes e espera o mesmo posicionamento.

"Para eles, a visão de democracia é uma, para nós é outra", acredita Vilalva. Segundo ele, o Brasil não tem sofrido pressões externas pela aproximação com os árabes. "Os próprios Estados Unidos nos parabenizam sabendo que América do Sul e países Árabes precisam fazer novos amigos. Isso não significa ir contra ninguém".