Mais de 200 mil crianças e jovens tiveram acesso a armas de fogo nas escolas

05/05/2005 - 19h18

Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Mais de 200 mil crianças e jovens de cinco capitais brasileiras e do Distrito Federal já tiveram acesso a armas de fogo dentro de escolas públicas e privadas do país. O número alarmante integra pesquisa que está sendo finalizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) sobre o cotidiano de violência nas escolas brasileiras. O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), recebeu hoje (5) do representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, um relatório preliminar com dados sobre a pesquisa - que será finalizada nos próximos meses.

A pesquisa ouviu, entre o final de 2003 e o início de 2004, alunos, professores, diretores e funcionários de escolas. A Unesco também aplicou mais de 10 mil questionários entre os alunos para analisar a relação entre violência e educação no Brasil. Além dos 200 mil alunos que admitem nos questionários já terem visto armas de fogo dentro de escolas, outros 19 mil revelaram já ter entrado com revólveres nos colégios. "É incrível verificar a quantidade de armas de fogo que circulam hoje nas escolas brasileiras. São taxas inaceitáveis e pouco vistas em outros contextos. Isso mostra a facilidade com que as crianças e jovens têm acesso às armas, desde as armas de família, e as que são roubadas e depois circulam livremente", ressaltou o representante da Unesco.

Segundo Jorge Werthein, a preocupação da ONU está relacionada à qualidade da educação em ambientes escolares onde o temor predomina entre os alunos. "Se as ameaças são constantes, não há professor que possa ensinar bem, que queira ir à escola, e não há aluno que possa aprender bem e concentrar-se na escola quando os níveis de violência são tamanhos".

O representante da Unesco defende a realização de referendo popular sobre a comercialização de armas de fogo no país, e fez um apelo ao presidente da Câmara para que coloque em votação o mais rápido possível o decreto que autoriza o referendo em 2 de outubro deste ano. A votação do decreto está marcada para a próxima terça-feira (10) na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, para depois seguir para votação em plenário. "A morte vai diminuir com a diminuição do fácil acesso às armas de fogo", garantiu Werthein.

O relatório referente à pesquisa da Unesco traz dados colhidos em São Paulo (SP), Salvador (BA), Porto Alegre (RS), Belém (PA), Rio de Janeiro (RJ) e no Distrito Federal. Entre as armas mais comuns encontradas nas escolas, segundo relato dos próprios alunos, estão canivetes, facas, revólveres e punhais.