Christiane Peres
Da Agência Brasil
Brasília – Seis colonos ligados ao Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS), defendido pela missionária Dorothy Stang tiveram prisão preventiva decretada esta semana. Eles são acusados de envolvimento no assassinato de Adalberto Xavier da Silva Leal, conhecido como Cabeludo – morto no mesmo dia que a religiosa, 12 fevereiro, em Anapu (PA). Até agora, a Polícia Civil do Pará prendeu apenas um dos acusados, o colono Luiz Moraes de Brito. Segundo o superintendente da Polícia Civil Regional do Xingu, delegado Pedro Monteiro, "os outros cinco ainda estão foragidos".
As opiniões divergem no que se refere ao decreto de prisão preventiva. Para o secretário nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Antônio Canuto, os colonos estão sendo vítima de perseguição. "A Polícia Civil do Pará está impedindo avanços no caso da irmã Dorothy. Além disso, essas prisões, indicam que a polícia está tentando criar todos os obstáculos para que se esgote o tempo determinado pela lei no processo da missionária. Com isso, os presos serão postos em liberdade", acusou Canuto.
Ontem, a CPT e a Rede Social de Justiça e Direitos Humanos divulgaram uma nota manifestando o "temor de uma reviravolta no caso da missionária". De acordo com o documento, desde o início das investigações do assassinato da irmã Dorothy, ficou "evidente" a intenção da Polícia Civil de Anapu em prejudicar o andamento das investigações, beneficiando assim, os fazendeiros acusados.
Nos decretos de prisão preventiva, os nomes dos acusados estavam incompletos. Segundo Canuto, essa é mais uma prova da parcialidade da polícia nas prisões. "Essas pessoas são inocentes. A ordem de prisão do juiz não denominava a pessoa corretamente, colocava apenas o primeiro nome, dessa forma, o delegado [Marcelo Ferreira da Luz] pode prender qualquer um que seja do seu interesse. No decreto estava assim: Luiz de Tal, então ele pode prender qualquer um que se chame Luiz", explicou.
A informação foi confirmada pelo delegado Pedro Monteiro. Mas, segundo ele, antes da prisão de Luiz Moraes, o acusado foi reconhecido por uma testemunha ocular. "No início foi feito assim mesmo. Mas depois ele foi identificado e reconhecido pela testemunha ocular. Só depois disso foi preso. Além disso, o delegado já sabia quem era, mas teve cautela para não gerar dúvida quanto à prisão", disse. De acordo com Monteiro, todos os suspeitos têm identificação completa agora.
Para evitar "interferências" da Polícia Civil no caso da missionária, as entidades indicaram a necessidade de se levar o crime à esfera de investigação federal. "A federalização é importante porque não se tem nenhuma confiança e credibilidade no Judiciário do Pará, que demonstrou nos últimos tempos ter sido muito parcial. E essa parcialidade nunca se dá ao lado do pequeno, sempre ao lado do fazendeiro, do grande proprietário, do latifúndio. Se nós quisermos uma decisão isenta, a federalização é o caminho mais claro."
Monteiro disse que a polícia tem agido com total isenção e que a CPT "sempre tenta denegrir" o trabalho feito por eles. "A gente tem que apurar tudo. Por que se apuraria apenas o homicídio da missionária? O Adalberto também não é um ser humano? A verdade está no inquérito. O juiz não decretaria a prisão preventiva de uma pessoa aleatoriamente, se não houvesse provas. Infelizmente, a CPT sempre tende a denegrir o trabalho da Polícia Civil no estado do Pará, principalmente, nas regiões onde se têm conflitos de terra, como Anapu. A CPT não tem admitido a verdade dos fatos", relatou.
Na tentativa de esclarecer as acusações feitas pelas entidades, Monteiro lembrou que os inquéritos – dos assassinatos da missionária e de Adalberto Xavier – não têm relação alguma. "São inquéritos policiais distintos. O caso da religiosa já está na fase judicial e a polícia não tem mais nenhum envolvimento com isso. A não ser que haja fatos novos. E o inquérito do Adalberto correu sem relação com o outro. É uma mentira dizer que essas prisões vão influenciar no caso Dorothy."
AD