Professor da Unicamp critica manutenção de juros altos para ter superávit de 4,25%

15/04/2005 - 18h10

Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – A manutenção do superávit primário de 4,25% na proposta de Lei Orçamentária deve ser feita a partir de mudanças na política monetária, defendeu o professor Francisco Lopreato, do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon), do Instituto de Economia da Unicamp, em entrevista à Agência Brasil.

"Se tivermos uma continuidade desta política monetária restritiva, que eleve a taxa de juros ou a mantenha por um prazo longo – porque já está muito alta –, isso poderá trazer complicações para a trajetória da dívida pública. Aí, então, várias vozes vão se levantar pedindo por um aumento do superávit primário. Agora, um aumento do superávit primário será feito às custas de cortes importantes em outros gastos do setor público."

Lopreato comentou a decisão do governo em não renovar o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo ele, isso não influenciará a trajetória da taxa básica de juros e nem é correto atribuir ao FMI a política de juros "extremamente dura" adotada pelo Banco Central. "Não podemos ‘jogar nas costas’ do FMI tudo e qualquer problema que ocorra ou que a gente não goste no nosso país. O FMI tem as ‘costas largas’, mas também tem limite", analisou.

Segundo ele, o Banco Central reconheceu, no último mês, que a política de juros com base na idéia que havia de demanda não estava totalmente correta. "A política monetária já está provocando um problema muito importante nas contas públicas", afirmou.

O professor da Unicamp ressaltou que o país demonstra ter condições "muito boas, muito favoráveis" para não ter renovado o acordo com o FMI. "Na atual conjuntura internacional, mesmo com uma certa incerteza em relação ao comportamento da economia mundial, nada indica que terá uma mudança muito profunda. Mesmo que ocorra uma certa desaceleração na economia mundial em relação ao ótimo momento que se viveu no ano passado, não há nada no horizonte que indique que a modificação será intensa e, nessas condições, não há porque ficar preocupado com a não renovação do acordo com o FMI", acrescentou.

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