Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil
Brasília - No entendimento do economista Walter Belik, é justamente o cruzamento de informações relacionadas à renda e à alimentação um dos principais pontos revelados pela recente Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), conduzida pelo IBGE entre 2003 e 2004.
Professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp) e diretor da Organização Não-Governamental Associação de Apoio a Políticas de Segurança Alimentar (Apoio Fome Zero), Belik destacou que mais de 77 milhões de pessoas hoje no país vivem hoje em famílias com renda mensal inferior a um salário mínimo (R$ 200, na época da pesquisa), o que significa que não têm dinheiro suficiente para adquirir a quantidade de alimentos adequada para passar o mês. "A pesquisa não apenas trabalhou com nutridos e desnutridos, mas também com acesso aos alimentos. Esse é o dado importante da pesquisa, porque, quando a gente se refere ao Fome Zero, estamos falando de segurança alimentar, que é um conceito um pouco mais amplo do que desnutrição".
Na avaliação de Belik, a pesquisa mostra a necessidade de enfrentar a vulnerabilidade das famílias que não têm acesso às 1,9 mil calorias diárias, limite mínimo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). "Muitas pessoas se alimentam, por exemplo, de lixo nas ruas, muita gente cata lixo nas feiras, cata resto de comida, essas pessoas podem até não estar desnutridas, então a pesquisa foi lá e constatou que elas estão até em situação alimentar razoável, mas vivem em situação de vulnerabilidade, não têm renda, não sabem o que vão comer no dia seguinte. É a insegurança alimentar, esse é o conceito que norteou o cálculo do número de famílias que poderiam ser atendidas pelo programa Fome Zero", observou.
Walter Belik disse ainda que não é o fato de o Brasil ter entre 4% e 5% de subnutridos que invalida o esforço que está sendo feito de garantir a segurança alimentar das pessoas. Ele citou o caso do Bolsa Família, programa de transferência de renda do Fome Zero. "Esse é um programa caro, que transfere renda mensalmente a essas famílias. Então, o fato de se divulgar que você tem um número de pessoas desnutridas em torno de 4% fez com que muitos pensassem para que gastar dinheiro e fazer transferência de renda se o brasileiro não tem problema de nutrição? Pelo contrário, tem problema de nutrição e, mais do que isso, tem um problema de insuficiência de renda, de vulnerabilidade", reforçou.