Reinserção 2 - Detentos se queixam de preconceito

08/07/2004 - 10h17

Brasília, 8/7/2004 (Agência Brasil - ABr) - O preconceito ainda é um dos maiores problemas enfrentados por ex-detentos. Na Universidade Católica de Brasília (UCB), por exemplo, os cerca de 110 sentenciados que estudam na instituição pedem que não sejam identificados, como é o caso de Mário, 25 anos, que sofre toda vez que tenta arrumar um novo trabalho. "Na hora de procurar um emprego, eles puxam a ficha, olham, muitos falam que não dá, outros dão desculpa, falam que depois dão uma chance", disse.

Alexandre Mascarenhas, do Projeto Novo Sol, da UCB, que coordena o recebimento de sentenciados pela instituição, afirmou que os estudantes egressos sentem medo de se identificar e sofrer preconceito. "Eles caminham pela sombra nos corredores da universidade", disse. Mascarenhas contou que os ex-detentos utilizam a "estratégia da individualidade" para evitar choque com colegas e funcionários.

Para Rita de Cássia Peixoto, fundadora da Associação de Assistência à Ressocialização, localizada em São Vicente (SP), o preconceito é um grande mal. "Hoje, eu já me daria por satisfeita se não encontrasse preconceito", ressaltou. Segundo ela, a criminalidade é um problema social, como a falta de educação, de alimentação, saúde e habitação, que acaba com os princípios e valores morais de qualquer cidadão. Na opinião de Rita, as pessoas devem ver a criminalidade de outra forma.

"Se a sociedade civil continuar insistindo em visualizar a criminalidade, em tentar combater a criminalidade com punições mais rígidas, com construções de novas penitenciárias, não vamos dar conta", afirmou Rita Peixoto. "Vira uma bola de neve e amanhã ninguém consegue construir penitenciária suficiente para abrigar todos os delinqüentes", acrescentou. De acordo com ela, a idéia não é proteger bandidos, mas evitar futuras vítimas. "Não quero combater a criminalidade depois que ela aconteceu, quero evitar que ela aconteça", destacou.

Francisco Aquino, ex-detento, está em liberdade há sete anos. Já passou por várias fundações estaduais do Bem-Estar do Menor (Febems) e presídios de cinco estados diferentes. Na Papuda, em Brasília, teve a chance que não encontrou em outros estados. Começou a participar de oficinas de arte e hoje coordena um grupo de "rap" do Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje). Ele escreveu um livro que é utilizado em algumas escolas da rede pública do Distrito Federal. "Se eu tivesse tido a oportunidade que tive na Papuda, nas Febens ou em outros presídios, certamente não teria passado por tudo isso", disse.

A arte mudou a vida de Aquino, que não imaginava trabalhar nesta área. "Foi uma profissão alternativa. Porque quando a gente sai do presídio é muito difícil conseguir emprego", afirmou. Para ele, o trabalho da Funap é fundamental, pois valoriza o preso e ajuda a sociedade. "O trabalho é imensurável, pela ajuda que eles dão, não só para os presos, egressos, mas para a própria sociedade que se vê livre do cara sair de lá e fazer a sociedade de refém por falta de oportunidade", ressaltou.