Tradutora brasileira que vive há oito anos na Índia destaca diferença de costumes

01/06/2007 - 23h19

Mylena Fiori
Enviada especial
Nova Delhi (Índia) - Não éfácil, para um brasileiro, compreender e aceitar a culturaindiana. A tradutora e blogueira Sandra Bose está háoito anos na Índia e disse que ainda se choca com alguns custumes. “Omodo de vida indiano é muito diferente do brasileiro. Os nossos conceitos são diferentes, aténossos hábitos de higiene são diferentes”, contou.Professora de inglêsem São Paulo, Sandra decidiu viajar para a Índia pósler o livro Autobiografia de um Iogue, de Paramahansa Yogananda, em1999. Começou a trocar informações com indianospela internet e, cinco meses depois, estava na cidade do guru:Calcutá. Lá, conheceu pessoalmente um dos amigosvirtuais, casou-se e, desde então, só voltou ao Brasil umavez, para visitar a família. “No dia em que cheguei, jáno aeroporto, pensei: 'é um outro mundo'. Saindo doaeroporto, vi aquele monte de vacas nas ruas, sujeira, aquelecontraste tão grande em relação a SãoPaulo”, relembrou. E comentou: “Assusta. Muitos brasileiros nãoconseguem ficar na Índia.” As diferençasculturais estão no dia-a-dia. E podem, inclusive, atrapalharos negócios, garantiu Sandra Bose. Na hora da apresentação,por exemplo, indianos jamais apertam as mãos – eles unem asmãos na saudação "Namastê". Nasrefeições, eles "comem só com a mão direita, porque a esquerda éconsiderada impura por ser usada para a higiene quando vãoao banheiro – sem papel higiênico". Arrotar nãoé falta de educação, acrescentou a tradutora. “Para nós énojento, choca, mas para eles é normal. É nessaspequenas coisas que a questão cultural começa a pegarforte. Para os ocidentais, é muito difícil", admitiu. As diferenças não param aí. Segundo ela, "a cultura é muito machistae é humilhante, para um indiano, ter que negociar preços,valores e datas com uma mulher”. Sandra Bose revelou ainda que mulheres nãocostumam ter cartão de crédito ou conta em banco – étudo em nome do marido. A diversidade dereligiões e idiomas contribui para o abismo cultural. O país tem a metade do território brasileiro e a população é quase cinco vezes maior, com 18 idiomas oficiais e centenas de dialetos falados. As crenças variam quase na mesma proporção. A tradutora comparou: “No Brasil convivem várias religiões, mas todo mundo acredita emsolidariedade, em ajudar o próximo, todo mundo fala português.Tudo isso nos une”. O caminho parafacilitar uma aproximação, segundo Sandra Bose, éconhecer a verdadeira Índia, tentar compreendê-la eaceitá-la, com todas as diferenças. “O governodeveria falar a verdade, explicar que para fazer negócio naÍndia é preciso entender que o trânsito vai serdifícil, que falta energia elétrica, que as pessoas têmuma educação diferente. Assim a pessoa vem maisprevenida, não se choca tanto e consegue administrar asdiferenças”, sugeriu.É para dizerisso a outros brasileiros que Sandra Bose mantém um blogno endereço www.indiagestao.blogspot.com. Mas ela não quer voltar logo para o Brasil e revelou que a viagem valeu a pena, “porque a Índiaé uma experiência muito enriquecedora”.