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26/07/2002 - 9h10

Está no Brasil um dos vulcões mais antigos do mundo

Sistema encontrado na Amazônia tem quase 2 bilhões de anos

Brasília, 26 (Agência Brasil - ABr) - Os limites do Oceano Pacífico guardam os maiores grupos de vulcões ativos existentes hoje. Eles circundam toda a região desde o norte, com as Ilhas Kurilas, Japão, Ilhas Marianas, do lado oriental, até latitudes mais baixas, na Austrália, com as Ilhas de Salomão, Samoa e Tonga, passando, no lado ocidental, pelas Ilhas Galápagos, na altura da América Central até a Cascade Range, nos EUA, e Ilhas Alvetas, perto do Alasca.

Já no interior dos continentes a presença de vulcões é bem inferior aos situados em áreas litorâneas e um dos acidentes desse pequeno grupo está no Brasil. A descoberta é de um grupo de pesquisadores do Instituto de Geociências (IGc) da Universidade de São Paulo (USP), que localizou no Pará um dos maiores e mais antigos vulcões conhecidos atualmente.

Sua idade é estimada em quase 2 bilhões de anos, perto da metade da idade da Terra, calculada em 4,5 bilhões de anos, diz o professor Caetano Juliani, coordenador do IGc, destacando que essa é também uma característica que o torna tão intrigante. A descoberta posiona o Brasil na rota mundial de interesse dos vulcanologistas. "É muito raro encontrar vulcão tão antigo ainda preservado do intemperismo e da erosão", comemora ele.

Normalmente, formações antigas desaparecem devido ao desgaste proveniente do conjunto de processos de decomposição das rochas por interação com a atmosfera e hidrosfera, ou ainda geológicos resultantes da constante movimentação das placas tectônicas ao longo do tempo. A título de comparação, a maioria dos vulcões desse tipo ainda preservados se formaram há menos de 250 milhões de anos.

Segundo o geólogo Rafael Hernandes Corrêa Silva, que tem uma dissertação de mestrado sobre o estudo, a formação do vulcão se iniciou a partir de dezenas de pequenas erupções. O ponto alto das atividades foi uma erupção gigantesca, catastrófica e altamente explosiva que, além de expelir uma quantidade extraordinária de lava e cinzas, provocou o desabamento de uma área circular de 22 km, chamada de caldeira. O gigante descoberto na Amazônia pertence ao grupo dos vulcões constituidos por magma ricos em sílica (ácidos), que geram os complexos de maiores dimensões, ao contrário dos formados por magmas pobres em sílica (básicos).

Juliani diz que a preservação do acidente e de alguns minerais encontrados nas rochas que compõem a cratera do vulcão, gerados pela reação química dos fluidos e gases liberados pelo magma (rocha fundida que constitui o manto) e da água subterrânea com as paredes do vulcão, é única no mundo. O principal é a alunita, um sulfato rico em potássio e sódio. O que chama a atenção, segundo o pesquisador, é o fato de o material se formar em temperaturas relativamente baixas (inferiores a 350°C) e quase na superfície, a cerca de 1 km de profundidade no máximo. "Não sabemos porque a estrutura permaneceu estável. Essa é uma questão em aberto, que merece estudos detalhados", aponta.

O vulcão está localizado na província aurífera do Tapajós, no Pará, entre os rios Tapajós e Jamanxim. Não existe estrada de acesso ao local, que reúne ainda outros diversos vulcões, formados quando o local afundou (resultando na caldeira), em mapeamento pela equipe de Juliani e pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), entre eles os professores Roberto Dall´Agnol e Cláudio Lamarão. O acesso é feito por barco, pelo rio Tapajós, e mais dois dias de caminhada, ou por avião de pequeno porte que aterrisa no meio da floresta.

Os primeiros estudos na região começaram em 1998, e versavam sobre os minérios da região. Os pesquisadores chegaram à existência do vulcão, que se eleva de 250m a 300m acima da superfície, por meio de análises químicas dos compostos da região, imagens de radar, de satélite e trabalhos de campo, que permitiram delinear a extensão e o formato da caldeira. Sua intensidade à época foi de tal magnitude que transposta para os dias de hoje equivaleria a uma hecatombe. "Estes eventos são altamente destrutivos e, se houvesse qualquer coisa ao redor, tudo seria queimado e devastado", aponta Juliani. De acordo com ele, o derrame de lava e cinza alcançou centenas de metros de espessura, e podem ser superiores a 600 km³.

As partículas vulcânicas cobriram a atmosfera por dezenas de quilômetros, reduzindo a incidência de luz solar. "Depois do advento da vida vegetal e animal, este fenômeno é ainda mais catastrófico, por causa da fotossíntese, da cadeia alimentar e do inverno decorrente - semelhante ao que ocorreria no caso de uma guerra nuclear em larga escala", explica Juliani.

Diz o pesquisador que o vulcão surgiu no período Paleoprotezóico (2500 a 545 milhões de anos), o segundo na escala geológica, posterior apenas ao período Arqueano. "Não havia continentes como nós os conhecemos hoje", lembra Juliani. As únicas formas de vida existentes eram bactérias, cuja origem é de 2,5 bilhões de anos, e seres unicelulares, de 2 bilhões de anos descobertos por estudos realizados na Austrália.

Conta o professor que o vulcão se formou pelo o choque de duas placas tectônicas (macro regiões de rochas que flutuam sobre o magma), no qual uma foi empurrada para baixo da outra. "Nessa época, ainda não existiam grandes massas continentais, só alguns pequenos blocos colidindo para formar o que mais tarde seria o primeiro supercontinente da Terra, denominado pelos geólogos de Rodínia em alusão ao Gigante de Rodes", diz Juliani.

A atividade, além de deformar as extremidades dos conjuntos, veio acompanhada de abalos sísmicos. A partir do momento em que são empurradas para o interior da Terra, as rochas se tornam mais quentes e menos densas. Fundido, o material submerge violentamente pelas fraturas causando explosões de lava na superfície. O fenômeno foi semelhante ao que ocorre na região dos Andes. A cordilheira foi formada pelo choque entre a placa do Oceano Pacífico, que ocupa toda a região pela qual se estende o mar, e a placa do Atlântico Sul. No caso de colisões dessa natureza, uma das porções pode submergir até 600 km sob a outra durante milhares de anos à velocidade de poucos centímetros anuais.

A descoberta do vulcão abre espaço para a exploração de terrenos antigos no mundo, como outros encontrados na Austrália, Canadá e África, que podem conter metais de interesse econômico só registrados em sistemas mais jovens que o da Amazônia. "A área tem mineralização de ouro, mas nada que valesse à pena foi encontrado nesse momento, embora haja potencialidade econômica para que isso ocorra", revela o professor. A importância da região é mais científica devido à raridade de duas variedades de depósitos encontrados no local, que até então nunca haviam sido reconhecidos em terrenos tão antigos.

Analisa Juliani que é possível que em um dos dois modelos existam minérios em volume e economicamente relevante, o que só poderá ser confirmado com pesquisas por empresas de mineração. "A importância econômica é devida ao fato de que estes tipos de mineralizações podem gerar depósitos de ouro e cobre de grande teor e baixo volume e podem ter, associados, outros depósitos de ouro e cobre de grande tonelagem e baixo teor. Isto significa que o bem mineral ocorre em pouca quantidade de rocha hospedeira, mas o volume dessa rocha que pode ser lavrado é muito maior, resultando num volume final de minério explorado muito grande", explica.

Entre os leigos, a descoberta do vulcão levantou questões sobre possíveis erupções. Juliani garante que a estrutura está completamente inativa, até porque o ciclo de vida dessas formações é de 3 a 4 milhões de anos, número baixo perto da idade de 1,85 bilhão de anos. O sistema foi extinto quando o material líquido que preenchia a câmara magmática esfriou, um processo de milhares de anos. As pesquisas contaram com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex), Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) e do United Geological Survey (USGS). (Fabiana Vasconcelos)

Rocha de 3 bilhões de anos evidencia derrame de lava submarina na Amazônia

Cobertura registra períodos de emissão de magma que variam de 2,75 bilhões a 160 milhões de anos atrás

Brasília, 26 (Agência Brasil - ABr) - Tão rica quanto a biodiversidade da Amazônia é a história registrada pelas rochas. O vulcão mais antigo em terras brasileiras tem 1,85 bilhão de anos, mas a atividade vulcânica na região começou em tempos ainda mais remotos. É o que demonstra uma rocha de 3 bilhões de anos lá encontrada. Ela tem forma de "almofada", termo empregado pelos especialistas para descrever a aparência que a lava adquire devido ao choque de temperatura entre o magma, que sobe a cerca de 1000°C, e a água nos oceanos, em média, a 20°C.

A pedra está exposta no município de Rio Maria, no Pará. Para que se tenha uma idéia de suas dimensões, os geólogos fazem fotos utilizando como escala de referência um martelo. Segundo o professor do Centro de Geociências da Universidade Federal do Pará (UFPA), Roberto Dall´Agnol, a atividade que gerou a rocha se estendeu pelo sul da Serra dos Carajás, vizinhanças de Xinguara, Rio Maria e Redenção, no sudeste do estado. Mas os terrenos com características vulcânicas são bem maiores – englocam desde regiões do Mato Grosso até partes dos territórios dos países situados a norte do Brasil.

Cada evento vulcânico é conseqüência de uma série de manifestações que ocorreram em diferentes períodos da história geológica da Amazônia. As mais recentes foram há cerca de 140 milhões de anos, situado no período Jurássico. Dall´Agnol explica que o evento foi responsável pela formação de derrames basálticos, bem como diques e soleiras de diabásio (pequenos corpos magmáticos cristalizados em geral próximos da superfície), "que são muito comuns nas bacias sedimentares do Amazonas e Solimões", complementa.

Na escala decrescente de tempo segue-se o vulcanismo Uatumã, que de acordo com o professor, é o principal em área coberta. O nome vem do local onde a atividade foi descoberta, a região do rio Uatumã, situado na margem esquerda do Rio Amazonas, à direita do Rio Negro. O material decorrente do extravasamento da lava chegou à outra margem do Rio Amazonas, nas bacias do Xingu e Tapajós, no Pará, norte do Mato Grosso (nas bacias dos rios Juruena e Aripuana) – localizado em linha reta logo abaixo do rio Uatumã, se estendendo igualmente até o norte do Amazonas, Roraima (na Serra da Pacaraíma), como partes da Venezuela, Guiana e Suriname.

Para alcançar às dimensões gigantescas que tem, o vulcanismo Uatumã contou com dois fatores também significativos: o tempo de duração de expulsão do magma e o grande volume de magma formado. "Era considerado um único grande evento vulcânico, mas hoje é entendido como diversos eventos que se estenderam por um período relativamente longo", afirma Dall´Agnol. "O principal evento situa-se, pelo que se conhece hoje, em torno de 1,88 bilhão de anos, mas há eventos similares mais antigos – cerca de 2 a 1,96 bilhões de anos -, e mais novos – 1,8 a 1,7 bilhão de anos", completa.

O território nacional corresponde geologicamente a uma plataforma única e estabilizada, cuja forma final só se constituiu depois de diversas transformações. A evolução desta plataforma e do vulcanismo associado deu-se fundamentalmente por meio de processos de colisão de placas tectônicas ou desagregação de grandes blocos continentais. "Alguns pesquisadores pensam que o vulcanismo Uatumã pode resultar de processos associados diretamente com a movimentação e colisão de placas tectônicas. Em certa medida, nenhum processo de grande envergadura em escala dos continentes é desconectado da movimentação das placas tectônicas" observa.

A hipótese recorre ao exemplo dos Andes, em que as placas Nazca e a Antártica, afundam sob a Sul-Americana. "Uma hipótese alternativa é admitir que esses eventos vulcânicos estejam relacionados com o início da fase de quebramento ou fissão do supercontinente formado ao final do Paleoproterozóico, cerca de 2,1 bilhões de anos atrás", analisa, ou seja, de separação de continentes, como o que aconteceu com a África e a América do Sul.

Em uma análise simples, pode-se dizer que há duas divisões básicas entre tipos de vulcanismos – o fissural, pelo qual o magma sobre através de fendas (bacia do Paraná), e o explosivo, quando o material sobe por cones como comumente se conhece (Vesúvio). No Uatumã, as duas formas estiveram presentes. As evidências estão na composição das rochas e na presença de grandes depósitos, derivados de "magmas viscosos e muitas vezes ricos em gases, os quais mais comumente geram manifestações explosivas", diz Dall´Agnol.

Já os derrames, em que a característica principal não é o predomínio de basaltos, como no Sul, não geram solos tão férteis quanto é o caso do Sul do país. O motivo, diz o professor, é que "os solos derivados dos derrames do tipo Uatumã são, de modo geral, mais ácidos e menos férteis que os derivados de derrames basálticos, como os que ocorrem no Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país", esclarece.

Uma característica comum a praticamente todos os episódios de vulcanismo na Amazônia, incluindo o Uatumã, e outros há 2,15 bilhões de anos e 2,75 bilhões de anos, são as mineralizações de ouro. A origem das reservas auríferas em Carajás, no Pará, está ligada (em sua maioria) ao período mais antigo, o de 2,75 bilhões de anos atrás. "A atividade vulcânica teve um papel importante na geração das jazidas", diz Dall´Agnol.

Em regra, a atividade vulcânica explosiva favorece mineralizações de cobre e ouro, caso de Carajás. Ariplínio Nilson, professor da UnB, explica que o processo de formação das jazidas está associado a um pacote de rochas vulcânicas. Segundo o geólogo, o processo aconteceu no intervalo dos períodos de emissão de lava, formando também depósitos metálicos de cobre e zinco.

Na província aurífera do Tapajós, o processo de formação dos minerais também esteve ligado a rochas ígneas, sejam as do magma solidificado na superfície quanto no interior da crosta, que vieram à mostra por processos de erosão. O geólogo Caetano Juliani, professor da USP, diz que oficialmente foram lavradas 220 toneladas de ouro e, extra-oficialmente, mais de 900. Embora possa haver metais preciosos em locais onde houve vulcanismo, a relação não chega a ser de causa e efeito. "Vulcanismo, de qualquer idade, não produz necessariamente jazidas de ouro. Isso depende da interação de muitos fatores, tais como, das condições em que as rochas ígneas se cristalizaram, da profundidade na qual o magma é formado e acondicionado por um determinado período de tempo, da interação com outros tipos de rocha, da composição, etc", explica.

De acordo com Dall´Agnol, as rochas vulcânicas da região de Carajás estão verticalizadas e "podem ter espessura quilométrica". Para ele, o trabalho dos geólogos na região amazônica reconstrói a história sem o homem e permite, assim, entender a evolução do espaço físico. E a caracterização do meio, entre outros, serve para orientar a ocupação desse espaço de forma racional. (Fabiana Vasconcelos)

No mar ou no continente, rochas vulcânicas marcam território brasileiro

Derrames de basaltos no Sul são as manifestações mais conhecidas de vulcanismo, que incluem também as ilhas de Fernando de Noronha e Espírito Santo

Brasília, 26 (Agência Brasil - ABr) - Paraná, no Brasil, e África do Sul e Namíbia, no continente Africano, são regiões separadas geograficamente que estiveram juntas na gênese dos continentes. A história geológica está registrada nas rochas vulcânicas que podem ser encontradas nos dois pontos. Assim como no sul do país, o derrame que deu origem à terra roxa também está presente em proporções menores na África, onde recebe o nome de Etendeka.

Para o professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Evandro Lima, o vulcanismo basáltico é um dos maiores e mais famosos mundialmente, calcado nas dimensões gigantescas de material suficiente para se espalhar pelo Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, e ainda porções de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, estados maiores que muitos países da Europa. Na América do Sul, o derrame ainda se estende pela Argentina, Uruguai e Paraguai.

Em quilômetros quadrados, o derrame cobriu uma área de 1,2 milhões de km, com volume calculado em nada menos que 800 mil km³. O surgimento do terreno, conhecido por favorecer a atividade agrícola, remota a 133 milhões de anos atrás, época em que África, América do Sul, Índia, Antártica e Austrália estavam reunidas em um supercontinente chamado Gondwana. "O extravasamento dos basaltos foi precursor da abertura do Atlântico Sul", informa o professor da Universidade de Brasília (UnB), Ariplínio Nilson.

Evandro Lima diz que a formação dos basaltos marca o clímax da divisão da porção de terra. Embora a maior parte do vulcanismo de grande escala esteja ligado a limites convergentes ou divergentes de placas, o existente no Brasil derivou de um mecanismo diferente. Vários pontos de magma mais quentes que o restante do conjunto geraram fusões localizadas no manto, empurrando as rochas para cima, provocando então a quebra da litosfera. "O encontro dos pontos define a linha de separação", explica o geólogo. Segundo Lima, do começo ao fim, o magmatismo durou cerca de 1 milhão de anos. Como as rochas não têm elasticidade suficiente para se manterem unidas, começaram a se fragmentar, formando falhas de profundidade suficiente para rachar a crosta e permitir que o magma conseguisse ascender à temperatura média de 1200°C.

A origem deste vulcanismo, conta o professor, ainda é controversa, e em geral relacionada a grandes anomalias térmicas concentradas no manto terrestre (plumas de manto), seguidas da instabilização interna da massa e finalmente levando-o à ruptura. Esta grande atividade termal, aliada à descompressão gradativa causada por fissuras no interior deste supercontinente é responsável pela liberação deste imenso volume de lavas, que dada as suas características físicas se espalham lateralmente a grandes distâncias.

A partir do momento em que a lava aflorou, começou a se espalhar, como um tapete, deu início aos planaltos da região sul. A extensão é característica do vulcanismo fissural, diferente, portanto, do tipo conduto central, responsável pela construção de edifícios vulcânicos. A área que o magma alcança depende da viscosidade do líquido, variável em função da pressão e temperatura, além de sua composição química. A compreensão do fenômeno pode ser visualizada quando se compara a capacidade de fluir da água (baixa viscosidade), com a de um material asfáltico quente (alta viscosidade).

Um exemplo bem mais simplificado em menor escala do que aconteceu no Brasil é o Havaí. Abaixo do arquipélago há um "hotspot", ou ponto quente, que faz a coluna de magma se elevar lentamente, que extravasa e forma o vulcão. "Lá, a atividade chega a ser uma atração turística, tanto pelo espetáculo natural como por todas as crenças que envolvem este tema", diz o professor Lima. O tipo de evento faz com que o maior vulcão do mundo, o Mauna Loa, localizado na região, não tenha uma chaminé em formato de cone. Ao contrário, o acúmulo de lava fez com que o edifício tomasse o formato côncavo.

Outros exemplos de atividades vulcânicas no Brasil são a cidade mineira de Poços de Caldas, e diversos conjuntos de ilhas oceânicas, como o Atol das Rocas, no Rio Grande do Norte, Abrolhos, no Espírito Santo, Fernando de Noronha (PE) e a Ilha de Trindade, onde há o "vulcão do paredão". Os cones que haviam em Fernando de Noronha desapareceram devido à erosão, que modificou a topografia da ilha, preservando só os agulhões, justamente os condutos por onde o magma subia - as únicas estruturas que ficaram visíveis. Já a Ilha de Trindade, de apenas 13,5 km², guarda a única formação no país com o formato de um edifício vulcânico. A estrutura ficou bem preservada, em decorrência, entre outros fatores, da pouca idade frente a outras regiões geológicas – são cerca de 3 milhões de anos de história. Ela está a 1.140 km da costa, na altura da cidade de Vitória, capital do Espírito Santo.

A base da Ilha de Trindade está a 5500m de profundidade. Há evidências de que a porção faça parte de um conjunto de pequenas formações derivadas de vulcanismo, submersas. a 100 metros da superfície. A área não é habitada, sendo frequentada apenas por guarnições militares ou pesquisadores que periodicamente desembarcam para estudar as condições geológicas do terreno. O difícil acesso - apenas pelo mar - e a topografia rude desestimulam a visitação de turistas.

O fato de Fernando de Noronha (com idade estimada em 12,3 milhões de anos) ter a base constituída de rochas vulcânicas registra uma curiosidade sobre a atividade no local. Lima explica que normalmente a pressão da água impede que a lava chegue à superfície – "a lâmina de água confina o sistema", diz - , o que faz com que o material tome o formato de "pillows", ou almofadas. Mas o vulcanismo em Noronha foi tão intenso que as rochas não se limitaram ao fundo do mar, e ergueram a ilha, cujo afloramento necessitou da deposição de milhares de metros cúbicos de magma. A base do arquipélago está a 5 mil metros de profundidade, e os picos, a mais de 400 metros de altura da superfície. (Fabiana Vasconcelos)

Brasil tem terreno estabilizado e longe de regiões favoráveis a vulcões

Cadeia montanhosa no fundo do mar é o limite mais próximo de vulcanismo ativo no país

Brasília, 26 (Agência Brasil - ABr) - Terremotos, maremotos, tornados, tsunâmis e vulcões, todos são manifestações da natureza com alto poder destrutivo que não ocorrem no Brasil. Os motivos para tal previlégio são diversos e, no caso dos vulcões, se deve à idade elevada do território nacional, visto que os vulcões são comuns em regiões novas. O professor da Universidade de Brasília (UnB), Ariplínio Nilson, explica que, geograficamente, o país está distante das duas regiões mais propícias para o vulcanismo, as cadeias meso-oceânicas e locais de contato convergente de placas tectônicas.

As primeiras estão em todo o oceano Pacífico, como uma rachadura gigantesca que separa as Américas da Ásia e Oceania em uma linha vertical desde o Círculo Ártico ao Antártico. A fenda desce em direção ao sul derivando em direção à África. Próximo ao continente, se bifurca em um braço que sobe pelo meio do oceano Atlântico e outro que segue em direção da América do Sul. Só em meados dos anos 1950 e 1960 é que os pesquisadores mapearam a topografia do assoalho oceânico e revelaram fronteiras no fundo do mar formadas por cadeias lineares de montanhas submarinas.

As elevações, conta Nilson, totalizam 65 mil km de comprimento, com largura variando de 1000 a 4000 km de largura. No centro desse terreno modificado está a crista da cadeia. Para entender o surgimento das falhas é preciso recorrer à história da Terra, há 2,5 bilhões de anos, quando o quebra-cabeça, que hoje separado resultou nos cinco continentes, começou a se dividir.

Em 200 milhões de anos, à média de poucos centímetros anuais, América e África ficaram à distância que se encontram hoje, em um movimento contínuo que ainda não cessou. O afastamento das placas tectônicas, caso dos limites entre os lados leste e oeste do oceano Pacífico, favorece a ascensão do magma abaixo da camada sólida da superfície que desliza para o fundo do mar, "regenerando" a crosta oceânica.

A lava resfriada cobre o vale pelo qual saiu, e por meio da geodinâmica do interior do planeta é empurrada para fora no início de um outro processo de fragmentação. "Esse é um vulcanismo intermitente. Geologicamente pode-se dizer que ele é contínuo", afirma Nilson. Os especialistas acreditam que mais de 80% do vulcanismo aconteça nas regiões de mar, ficando assim, longe dos olhos dos observadores.

Para estudar esse tipo de rocha eles lançam mão de submarinos especiais e de pequeno porte munidos de braços mecânicos para colher amostras e tirar fotos das regiões. O equipamento é pilotado por controlador em base exterior ou diretamente por uma pessoa. A primeira opção é a que se recorre devido às condições desfavoráveis de visibilidade e forte pressão no fundo do mar.

Como em um efeito de ação e reação, ao mesmo tempo em que as grandes extensões de terra se afastam por um lado, convergem em outro. O segundo fator a que Nilson se refere para a ocorrência de vulcanismo são os locais onde as placas se chocam. É o caso do sudeste da Ásia, que engloba Indonésia, Japão, a ilha de Taiwan e as Filipinas. Nas três últimas localidades, os limites das placas chegam a ficar a apenas 100 quilômetros de distância do território continental. As regiões respondem à maior parte das áreas onde o vulcanismo é atuante.

Nilson lembra que a atividade proveniente da colisão é a mais perigosa e imprevisível nos riscos. A periculosidade advém dos gases que se formam quando um dos maciços é empurrado para baixo do outro, em um ângulo aproximado de 45°. Durante a descida, o primeiro processo pelo qual a rocha passa é de desidratação, seguido da fusão parcial e geração de magma. "Se se fizesse um furo vertical nas ilhas se encontraria a crosta que está subduzindo", exemplifica o professor. "O magma está se formando em baixo da ilha", completa.

Essa forma de movimentação da placa é a causadora do vulcanismo clássico que se conhece - o vulcão com um cone expelindo lava. As explosões são características de regiões oceânicas, e acontecem porque há porções da água submergindo junto com as rochas. No manto, o líquido toma a forma de gases, submetidos à pressão cada vez maior. De 3 a 4 km em direção ao centro, a água ainda está dissolvida no material na forma gasosa.

À medida que se aproxima da pressão atmosférica, o material se separa do magma, adquirindo a forma de bolhas. "Como o magma é viscoso e não as deixa sair, elas exercem pressão de dentro para fora, levando ao vulcanismo explosivo", explica o geólogo. A principal conseqüência do vulcanismo de convergência de placas na topografia são os arcodillhas, ou como o próprio nome indica, arcos de ilhas, resultantes das rochas vulcânicas que subiram à superfície pela atividade explosiva e se acumularam, dando origem às formações. (Fabiana Vasconcelos)

Oceano Pacífico, Atlântico e Mar Mediterrâneo têm vulcanismo diferenciado

Limites de placas tectônicas são principal fator para que a borda do Pacífico tenha vulcões desde o Chile à Nova Zelândia

Brasília, 26 (Agência Brasil - ABr) - Na mitologia grega o deus do fogo e dos fenômenos vulcânicos chama-se Hefesto; na romana, Vulcano, ou "Vulcanus". Essa divindade morava em umas das sete ilhas Eólias – Vulcano – cujo conjunto inclui Alicudi, Filicudi, Salina, Panarea, Lípari, Panarea e Stromboli, todas vulcões localizados no mar Mediterrâneo, perto da Itália, e os dois últimos ativos até hoje. O local é uma das principais regiões vulcânicas no mundo, ao lado das cordilheiras circumpacíficas e das ilhas atlânticas.

Na antiguidade, os gregos usavam Stromboli como farol para a navegação. A formação rochosa tem 20 km² e altitude de 500m. Ali, as primeiras erupções datam do século V a.C, e as últimas, de abril e maio deste ano. O vulcanismo na região é decorrente do choque de duas placas tectônicas, que se aproximaram a ponto de colidirem no sentido de fecharem o oceano, enquanto a tendência do Atlântico, por exemplo, é de "abrir" ainda mais.

Um dos vulcões famosos na região é o Etna, situado ao nordeste da Sicília, que retornou a atividade em 2001 e cuja origem data de 2,5 bilhões de anos atrás. As recentes manifestações não causaram danos, embora em 1992, os rios de lava que desceram pela encosta da cratera atingiram a cidade de Zeferana. Ao lado do Etna, o Vesúvio integra o conjunto de mais de 15 formações vizinhas ao Mediterrâneo.

Embora vez por outra a atividade no local ganhe as manchetes dos jornais, o derramamento mais conhecido foi o que destruiu a cidade de Pompéia, em 79 a. C. Em geral, a lava desce em baixa velocidades, mas a poeira, a fumaça e os gases expelidos pelo Vesúvio cobriram a cidade em pouco tempo e os habitantes tiveram dificuldades para fugir. Quatro dias depois, o saldo da destruição foi total. Até hoje a preservação de cadáveres petrificados, expõem o desespero dos moradores na hora do acidente, que cobriu com cerca de 6 metros de material vulcânico diversas regiões da cidade.

Já na América do Sul, o vulcão Villarica, no Chile, causou avalanches e entrou em atividade pelo menos 54 vezes desde 1558. A lava, cuja temperatura ultrapassa os 1000°C derreteu a neve no cume, fazendo o gelo descer à base. Os acidentes na história do Villarica mostram que além da preocupação com a formação estão os abalos sísmicos, que geralmente precedem as explosões. Calcula-se que 350 pessoas morreram em um dos terremotos no local.

O surgimento do Villarica, Lonquimai, Osorno, Llaima, Parinacota e El Tatio, entre outros, está ligado a um tipo de tectonismo denominado de andino, que é o de uma placa oceânica entrando por baixo de uma continental. A convergência é o motivo da criação da cadeia de montanhas, que resiste à subducção, por isso forçando a porção oceânica a descer.

Situação semelhante ocorre do lado leste dos Estados Unidos, Alasca, Ilhas Aleutas, Ilhas Kurilas e Japão, onde está o círculo do fogo, nome dado à região por conta de seus diversos vulcões dispostos em forma de arco. Os especialistas estimam que 80% dos cerca de 535 vulcões ativos hoje (que estão em erupção ou podem entrar), sem contar os localizados no fundo do mar, se encontram no "ring of fire".

Nos EUA, a região engloba o Alasca e um local chamado Cascades Ranges, que reúne uma série de vulcões inativos mas que podem entrar em erupção. No local, a placa do Pacífico entra sob a placa norte-americana à média de 4 centímetros por ano, antes em torno dos 2 a 3 centímetros. Os 13 centros vulcânicos seguem a costa desde British Columbia, ao norte, descendo pelos estados de Washington, Oregon e Califórnia, acima da falha de San Andres. Uma das maiores erupções no país ocorreu em 1980, com o vulcão Santa Helena, em Washington. Depois de 175 anos sem se manifestar, a formação expeliu lava a 10 km de altura, e poeira suficiente para escurecer o céu do estado e espalhar material na atmosfera por outros cinco estados.

Deixando o lado leste do círculo do fogo e seguindo para o oeste, está o Japão, país em que os traços do vulcanismo dão o tom do cartão postal mais conhecido – o Monte Fuji, que entrou em atividade pela última vez em 1707. O arquipélago tem mais de 200 vulcões, entre eles, um dos maiores do mundo, o monte Aso. Ele é um dos mais ativos no país - os primeiros registros de erupções datam de 553 anos a. C. A última atividade do vulcão foi em 1997. Nesse ano, dois turistas morreram depois de inalar o gás sulfúrico que saía de uma das crateras do Aso. O acidente foi favorecido pela facilidade de acesso ao local. Os turistas podem chegar à abertura, de 4 quilômetros de extensão e 100 metros de profundidade, de carro ou a pé.

Entre 10º e 20º de latitude, a Indonésia configura outra parte da faixa vulcânica no círculo circumpacífico, que abrange ainda, abaixo da linha do Equador, as ilhas Salomão, Samoa, Tonga, Kermadec e Nova Zelândia. A Indonésia reúne 129 vulcões ativos, com a ocorrência média de pelo menos uma erupção por ano. A preocupação em evitar desastres, principalmente por ser uma das regiões com atividade vulcânica mais violenta e predominantemente explosiva, se reflete na quantidade de observatórios. São 65 monitorando as áreas.

A erupção mais famosa nas ilhas ocorreu em 1883. Os especialistas atribuem ao Cracatoa, situado na ponta inferior da ilha Sumatra, ao lado da ilha de Java, a morte de mais de 36 mil pessoas. A atividade, além de lançar material piroclástico, formou ondas gigantescas, os tsunâmis, que chegaram a cerca de 40 metros de altura devastaram tudo o que havia pela frente. A atividade do vulcão é uma das mais conhecidas na história e diz-se que foi tão violenta que os estrondos foram ouvidos a mil quilômetros de distância.

Com beleza proporcional à baixa gravidade dos acontecimentos vulcânicos está o Havaí, na costa leste dos Estados Unidos. Ao contrário da regra, o vulcanismo na região não está associado ao limite de duas placas, estejam elas convergindo, como nos Andes, ou divergindo, como nas cadeias meso-oceânicas. Lá, a atividade é intra-placa. Da mesma forma que nas outras formações, o magma precisa ascender por alguma modificação na crosta, que nesse caso ocorre a partir do momento em que há um ponto quente fixo no manto que força o fraturamento das rochas da superfície.

Como a região onde ocorre a anomalia é fixa e as placas estão sempre se movimentando, o local em que a lava extravasa não é sempre o mesmo. Isso faz com que esse tipo de vulcanismo forme uma cadeia de ilhas do material, cada uma resultante de um dos picos de atividade. No Havaí está o maior vulcão do mundo, o Mauna Loa, cujo volume é calculado em 40 mil km³, com área de 5.125 km², apenas acima do nível do mar. A formação não tem um cone, ao contrário, o formato é de uma concha de cabeça para baixo por ser à base de lava básica.

Outra região de vulcanismo são as ilhas do Atlântico, como as Canárias, Cabo Verde e Açores. Nesta última há alguns vulcões ativos – Furnas, Água de Pau, Sete Cidades e, na Ilha do Faial, Pico e São Jorge. No Pico, a lava dá forma a construções curiosas. Existem túneis do material formados quando a parte exterior solidifica, mas o líquido viscoso continua descendo pelo interior. Nas Ilhas Canárias, uma das erupções mais famosas foi a do Tenerife, em 1706, que destruiu o povoado de Garachico e emitiu 700 milhões de m³ de lava. (Fabiana Vasconcelos)

Atividade vulcânica na América do Sul é pouco monitorada

Faltam observatórios e diálogo entre pesquisadores e órgãos governamentais

Brasília, 26 (Agência Brasil - ABr) - Acreditava-se que o primeiro registro de vulcanismo, atribuído a Plínio, o Jovem, era o de 79 a.C, ano em que o Vesúvio destruiu as cidades romanas de Pompéia e Herculano. Escavações recentes na Turquia revelaram a existência de pinturas de aproximadamente 8 mil anos, mostrando o medo e o fascínio que os vulcões provocam desde épocas mais remotas. Antes dos registros do aparecimento do homem já existia o risco de atividade vulcânica, capaz de gerar tragédias, já nos tempos modernos essa possibilidade poderia ser estreitada com tecnologia para um monitoramento mais avançados dessas manifestações.

Evandro Lima, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), lembra que apesar de os geólogos terem alertado as autoridades sobre a atividade do vulcão Nevado Del Ruiz, na Colômbia, não puderam evitar a catástrofe que tirou a vida de 23 mil pessoas na cidade de Armero. A população foi soterrada por uma avalanche de lama e pedras originada pelo degelo da neve perene no cume da montanha, que chegou à base arrastando tudo que encontrou solto pela encosta. Um mês depois, a comunidade científica foi surpreendida com a erupção do vulcão Galeras, também na Colômbia, que vitimou nove pessoas entre cientistas e turistas.

O custo do monitoramento explica a atenção dada especialmente pelos países ricos para os perigos vulcânicos. EUA, Itália e Japão investem em prevenção, situação diferente em locais como a Indonésia e América do Sul, onde a concentração de vulcões, aliada à baixa capacidade de financiar os procedimentos adequados colocam em risco a população. A falta de conhecimentos básicos é uma constante para muitas formações. No Chile, além do monitoramento praticamente inexistir, há muitos vulcões desconhecidos e "lugares onde nada foi descrito ainda", afirma Lima.

Para prever as emissões de lava, os centros de pesquisa analisam, entre outros, o aumento da sismicidade, visto que o fenômeno é antecedido de pequenos tremores de terra, e também os gases, cuja composição começa a se alterar. É o que fazem estudiosos de observatórios instalados em locais com grande atividade e que geralmente têm um evento de alta proporção no histórico, como o Cascades Volcano Observatory, nos EUA, Volcano Research Center, na Universidade de Tóquio (Japão), Centro Nacional de Prevención de Desastres, no México, e Montserrat Volcano Observatory, no Caribe.

Segundo Lima, um vulcão só é considerado inativo se não há registros de erupções nos últimos 10 mil anos. Leve-se ainda em consideração que pelas estimativas dos geólogos, cada quilômetro de magma abaixo da crosta leva cerca de 60 mil anos para solidificar, um dado impreciso de acordo com os ambientes geológicos e variedade composicional do magma. E muitas formações estão longe desse prazo. Os últimos boletins do Institute of Geological and Nuclear Sciences (GNS), sobre os dois vulcões mais ativos na Nova Zelândia, o Ruapehu e o White Island se encaixam atualmente em alerta do nível 1, e os demais da ilha em nível zero. No total, são seis os graus de classificação, do zero ao 5, englobando desde o estado de quietude ou dormência (nível zero), até "large hazardous eruption in progress", ou erupção grande e perigosa em andamento.

A partir do momento em que a erupção já se iniciou, utiliza-se outra escala, desta vez chamada de Índice de Explosividade Vulcânica (VEI), com nove estágios calculados de acordo com a descrição, altura da fumaça e freqüência. O zero corresponde a não-explosivo, fumaça atingindo menos de 100 metros de altura, sendo um evento de freqüência diária no globo terrestre. Os de nível explosivo se repetem semanalmente; os severos, anualmente; cataclísmicos, uma vez a cada dez anos; paroxímicos e colossais, um a cada 100 anos; super-colossais, um a cada mil anos e, finalmente, mega-colossais, um a cada 10 mil anos. A famosa erupção do Cracatoa teve um VEI 6. A mais recente, com VEI 8, foi a do Monte Toba, há 75 mil anos, na Indonésia.

O final do fenômeno é marcado, entre outros eventos, pela emissão de fumarolas, ou gases associados ao magma e à água superficial que entra por fendas. Na Nova Zelândia, os vapores são aproveitados industrialmente. O país detém o maior campo de fumarolas aproveitadas industrialmente. Um quilômetro quadrado liberta uma potência média de 400kw. O vapor, captado em tubos, aciona turbinas acopladas a geradores de energia elétrica, semelhantemente ao que acontece em usinas térmicas. Para isso, são feitos furos no chão à profundidade em que a água entra em ebulição. Para um gradiante de 400°C/km, por exemplo, seria necessário cavar buracos de 700m.

A explosividade varia a partir da composição do magma e concentração de voláteis: magma básico com pouco conteúdo de voláteis (baixa explosividade), magma básico rico em voláteis (explosividade de baixa a moderada), magma ácido com baixo conteúdo de voláteis (domos de lavas e colapsos de domos de lavas – são de elevada periculosidade) e magma ácido e rico em voláteis (extremamente explosivo). Dependendo da viscosidade da lava, tanto maior quanto for a quantidade de sílica nela, as manifestações seguem diferentes rumos. O magma mais fluido sobe, por vezes formando lagos de lava, como no Havaí, ou derramando sobre a superfície. "Enquanto a lava se desloca poucos metros, uma explosão pode expulsar os fragmentos a 120 km/h", aponta Lima.

De acordo com o professor, grande parte das emanações de gás é constituída de enxofre, que em contato com o ar gera ácido sulfídrico, característico pelo cheiro de "ovo podre". Dependendo das especificidades do vulcão, o material pode gerar lagos de ácido sulfúrico (H2SO4). Normalmente, as partículas liberadas pela manifestação alteram as condições meteorológicas nos arredores, de conseqüência proporcional ao que saiu do cume. A poeira vulcânica pode bloquear a luz solar, baixando a temperatura atmosférica, e aumentar a pluviosidade (poeira atuam como núcleos de condensação), além de possibilitar descargas elétricas no céu.

Uma das erupções mais conhecidas dos estudiosos é a do Pinatubo, nas Filipinas. Chega a ser considerada o segundo maior evento do gênero do século, pois o material liberado cobriu, depois de dois meses, cerca de 40% da atmosfera do planeta - os gases provocaram inverno rigoroso na Nova Zelândia. As poeiras vulcânicas são capazes de causar ainda mais danos porque, de forma indireta, favorecem o surgimento de correntes de lama (por conta da chuva). Economicamente, as poeiras vulcânicas são uma opção para a composição de argamassa para a construção civil (pelas propriedades aglutinantes), e o enxofre para fertilizantes e indústria química.

Evandro Lima diz que os fluxos de material podem ser mais perigosos que a própria lava, pois ao descer as encostas da montanha levam todo o material solto na superfície. Os jatos saídos da chaminé arrastam ainda cinzas e pedra-pomes, que caem em forma de chuva e soterram, junto com as correntes de lama, as vizinhanças do vulcão. Essa, explica, foi a característica da destruição de Pompéia, que ficou abaixo de uma espessura da ordem de metros.

As atividades intensas são minoria entre os vulcões, que muitas vezes constituem pontos turísticos e são capazes de formar nascentes termais vulcânicas ao aquecer o terreno circundante, inclusive a água subterrânea, uma outra forma de gerar estâncias minerais semelhantemente ao que acontece na cidade de Caldas Novas (GO). (Fabiana Vasconcelos)

Aços nobres tornam carro de passeio mais seguro, econômico e ecológico

O projeto foi desenvolvido em parceria por 35 siderúrgicas de vários países

Brasília, 26 (Agência Brasil - ABr) - Um carro 25% mais leve, mais seguro, mais econômico e menos poluente foi o resultado do programa intitulado Ultra Light Steel Autobody (Ulsab), desenvolvido pelas 35 maiores siderúrgicas do mundo. A carroceria do veículo, bem como as portas e tampas, além de algumas peças como a suspensão foram produzidas a partir de aços nobres ainda não utilizados no mercado. A família de novos materiais foi especialmente criada para garantir a permanência do aço no mercado automobilístico, o segundo consumidor do produto em termos mundiais, ao lado da construção civil.

O projeto do novo carro foi apresentado pela primeira vez na América do Sul, na 4ª feira, em São Paulo, no 57º Congresso Anual da Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais (ABM), pela representante brasileira no programa, a Usiminas. Membro da Comissão Organizadora do congresso e do Conselho Editorial da revista da ABM, o gerente de marketing da Usiminas, Sérgio Leite, explicou por que não foi apresentado um protótipo do carro produzido a partir de aços nobres. "O consórcio de siderúrgicas decidiu não construir protótipo para não elevar os custos do programa, mas o projeto é totalmente executável e as montadoras poderão comprovar isso", disse.

Essa é a segunda fase do Ulsab a ser apresentada publicamente. A primeira, finalizada em 98, consistiu na concepção da parte logística e operacional. Já se desenvolveu, então, novas famílias de aço, para a produção da carroceria. O custo foi de US$ 25 milhões. A segunda consumiu menos recursos. Foram US$ 10 milhões gastos no aperfeiçoamento da tecnologia para desenvolver os tipos de aço que fossem compatíveis com os "fechamentos", incluídos aí as portas do veículo e as tampas, do bagageiro e do motor, e também com a suspensão, uma das peças que também pode ser produzida a partir do novo material.

O custo foi dividido entre as empresas participantes do programa interessadas em reverter a inevitável substituição do aço por outros materiais como o alumínio, o plásticos e os materiais cerâmicos, num de seus principais mercados, o automobilístico. Com a constatação de perda de mercado, o International Iron and Steel Institute, entidade com sede em Bruxelas, que congrega a siderurgia mundial, estimulou a criação de um programa que buscasse a excelência no beneficiamento do aço, de maneira que o material reconquistasse a demanda com base na qualidade. O Ulsab foi tecnicamente desenvolvido pela Porshe Engeeniring Services.

As novas famílias de aço foram criadas para ganhar melhor conformabilidade, mais resistência e flexibilidade, e mais adaptação a novos usos. "A alta resistência permite usar aço de menor espessura, por isso ganha-se com a redução do volume total", observou Leite. Além disso, foi fundamental, segundo ele, o novo processo de soldagem a laser empregado na junção do material. Leite lembra que a tecnologia é relativamente conhecida, mas não tinha sido experimentada antes pelas montadoras. A economia no custo do veículo com uso dos aços nobres, garante Leite, é de 3%. "Parece pouco, mas como são aços nobres, o preço por tonelada aumentou. No somatório geral, a redução é considerável", avaliou.

O projeto, insiste o gerente de marketing, está atrelado a conceitos ambientais na medida em que busca materiais mais eficientes. "Como se proporciona o uso de menos material, usa-se menos energia para beneficiá-lo. Conseqüentemente, gasta-se menos energia para mover o veículo e, assim, haverá menos emissão de poluentes", frisou. Com o Ulsab, o habitáculo dos passageiros ficou também mais seguro, por oferecer mais resistência no caso de colisões. Outro detalhe que coloca o veículo montado com base na tecnologia desenvolvida pelo programa na categoria de ecológico é a possibilidade de reciclagem do material. "A qualidade do produto a partir da reciclagem é praticamente 100%, só há perda natural causada pela corrosão", disse. Mas, Leite ressalta que os aços nobres do Ulsab são mais resistentes à corrosão, por serem galvanizados e revestidos.

De acordo com Sérgio Leite, o segredo do projeto é justamente a prática da política de portas abertas. "Não há segredo industrial, cada siderúrgica participante do projeto repassará às montadoras interessadas os detalhes do programa. O repasse da tecnologia será gratuito", afirmou. A Usiminas, como representante nacional do programa Ulsab, promoverá reuniões com montadoras e fabricantes de autopeças para demonstrar a tecnologia. Na Argentina, segundo país sulamericano a ter ao lado do Brasil uma forte indústria automobilística, o projeto será divulgado pela Siderar. (Lana Cristina)

Meio Ambiente tem mais opção de cursos especializados a partir de agosto

A primeira universidade livre ambiental do Rio de Janeiro será inaugurada em 2 de agosto

Brasília, 26 (Agência Brasil - ABr) - Os primeiros cursos da Universidade do Meio Ambiente da Serra dos Órgãos (Unima) serão oferecidos a partir de agosto. Sediada em Guapimirim, município a 70 Km da cidade do Rio de Janeiro, a universidade será criada oficialmente no próximo dia 2, no clube da comunidade portuguesa Casa de Vizeu, cujas instalações são rodeadas por floresta virgem da Mata Atlântica. Foram convidadas para a solenidade autoridades da área ambiental do estado e do Ibama, além da governadora Benedita da Silva.

Os cursos terão duração de até 32 horas. "Valoração Econômica dos Recursos Naturais" será ministrada pelo engenheiro químico e diretor-técnico da Unima, Paulo Antônio Bastos Braga. Antônio José Teixeira Guerra, geógrafo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) será o professor de "Diagnóstico de Impactos Ambientais Urbanos". "Manejo dos Solos para uma Agricultura Sustentável" está a cargo de Antônio Soares da Silva, também geógrafo, que defendeu sua tese de doutorado em geografia física, na Universidade de São Paulo (USP), em 2001.

De acordo com a geóloga Kátia Gouvea, diretora-executiva da Unima, o site da universidade estará em funcionamento também a partir de agosto. As inscrições dos cursos, por enquanto, só poderão ser feitas diretamente a partir de agosto, na sede da entidade, que funcionará em um dos colégios municipais de Guapimirim, antigo Ciep's. Convênio com a secretaria de Educação permite que os funcionários tenham 50% de desconto nos cursos. Para o secretário, Ivan Araújo Coutinho, a oportunidade é excelente. "Nosso município tem uma vocação ambiental por ter mais de 60% de sua área vegetativa preservada, com a instalação da Unima e com os cursos, essa vocação se consolida", afirmou.

Um dos Ciep's, colégios que anteriormente eram estaduais e agora está municipalizado, abrigará a universidade. "Queremos transformá-lo em um verdadeiro multi-centro de estudos", completou o secretário. Ali, já funcionam classes de ensino infantil, ensino fundamental, educação de jovens e adultos e cursos de informática, que são oferecidos como fonte de capacitação para a população de Guamipirim, numa parceria com a secretaria de Ciência e Tecnologia do estado do Rio.

A Unima será a primeira universidade livre ambiental do Rio de Janeiro e se junta a outras cinco existentes no país. Do corpo de fundadores participam profissionais de diferentes áreas, como engenharia química, geologia ambiental, geografia, biologia, direito ambiental e engenharia florestal. Considerada a Terra do Dedo de Deus, formação rochosa na Serra dos Órgãos, Guapimirim tem 65% da área protegida, segundo o secretário de Meio Ambiente, Vanderlan Leitão. Ali, estão três unidades de conservação, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, a Área de Proteção Ambiental (Apa) de Guapimirim e a Apa de Petrópolis. Esse foi um dos motivos pelo qual a cidade foi escolhida para sediar a Unima, conta Kátia Gouvêa. A Unima é uma entidade jurídica de direito privado, instituída sob a forma de sociedade civil, de caráter educativo e cultural.

Além de cursos, a instituição incrementará também projetos de pesquisa de interesse dos municípios vizinhos. "Vamos abrigar o projeto de pesquisadores interessados em desenvolver estudos na área ambiental, de caráter multidisciplinar, e vamos ajudar na busca pelo recurso", explicou Kátia. Além disso, ela acredita que a Unima atuará para preencher o que considera uma lacuna na formação dos profissionais brasileiros ligados à area ambiental. "Vamos capacitar pessoas, que se formam tradicionalmente em quatro ou cinco anos, mas que não têm uma visão ampla da questão, e são levadas a atuarem em pontos muito específicos dentro dos conceitos repassados na universidade. Sinto que as pessoas têm dificuldade em fazer o elo entre implantar o conhecimento que adquiriram naquilo que pretendem desenvolver como pesquisa", relata a diretora. (Lana Cristina)